O cardeal Pietro Parolin, o mais alto responsável pela diplomacia da Igreja Católica, chamou os embaixadores de Israel e dos Estados Unidos junto da Santa Sé, para lhes dar conta da preocupação do Vaticano com os planos israelitas, patrocinados por Washington, de tornar efetiva a anexação de 30 por cento da Cisjordânia.
De acordo com o comunicado emitido pelo Vaticano, o cardeal quis manifestar a ambos "a preocupação da Santa Sé quanto a possíveis ações unilaterais que podem comprometer ainda mais a busca de paz entre israelitas e palestinianos, assim como a delicada situação no Médio Oriente".
O texto acrescenta que a Santa Sé insiste na solução de dois Estados na região, que sempre defendeu, referindo que ambos, "Israel e o Estado da Palestina, têm direito a existir e a viver em paz e segurança, dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas".
Com a solução de dois Estados, tanto a Palestina como Israel
reconheceriam mutuamente o direito à existência e partilhariam fronteiras. Os termos deste acordo
têm sido complicados de estabelecer, com avanços e recuos de ambas as
partes, fruto de exigências e de braços de ferro.O Vaticano apelou ainda a israelitas e palestinianos "a fazer todo o possível para reabrir o processo de negociações diretas com base nas resoluções das Nações Unidas relevantes e com o auxílio de medidas que possam restabelecer a confiança recíproca".
A Santa Sé lembrou ainda a invocação da paz feita pelo Papa Francisco nos jardins do Vaticano, em junho de 2014, para sublinhar que espera também que o diálogo dê às partes a coragem de "dizerem sim ao encontro e não ao conflito; sim ao diálogo e não à violência; sim às negociações e não à hostilidade; sim ao respeito pelos acordos e não aos atos provocatórios; sim à sinceridade e não à duplicidade”.
Sem data A intervenção da diplomacia do Vaticano, inusitada por ser pública, deu-se a 30 de junho, véspera do dia marcado em maio pelo executivo israelita para iniciar o debate sobre os detalhes da anexação.
Os preparativos já tinham começado, tendo as Forças Armadas de Israel sido instruídas a 1 de junho para estarem de prontidão nesta data.
Reuniões de última hora em Washington acabaram por ditar o adiamento da anexação para um futuro incerto.
Antes de dar luz verde final à execução do plano, a Administração Trump insistiu que o Governo de coligação de Israel, dividido quanto à agenda das operações, resolva os seus desacordos.
Quer ainda compensações por parte de Israel à Palestina e uma anexação parcial e faseada, que não dê motivos de irritação à Jordânia, um dos aliados tradicionais de Israel na região, e a Estados Árabes do Golfo que têm estado discretamente a estreitar laços com os israelitas.
Contrariado
O seu parceiro e líder do Partido Azul e Branco, Benny
Gantz, atual ministro da Defesa - e futuro primeiro-ministro em finais de
2021, ao abrigo de um acordo de rotação - prefere esperar pelo fim da
pandemia ou, pelo menos, por meios de contenção do vírus, para concretizar a anexação. O plano
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pretendeu inicialmente avançar sozinho com a anexação, secundado pela Administração Trump.
Netanyahu queria aproveitar uma altura em que mundo está de pernas para
o ar devido ao novo coronavírus, e antes das eleições presidenciais norte-americanas de
novembro,
que poderão ditar um novo Presidente menos simpático para com as suas
pretensões.
A pandemia de Covid-19 e a necessidade de aceitar um Governo de coligação, após três
eleições falhadas seguidas, ditaram o fracasso dos planos imediatos do
primeiro-ministro israelita.
Desde 1967 que Israel tenta legitimar a sua presença na Cisjordânia e no Vale do rio Jordão, territórios conquistados na Guerra dos Seis Dias. Há mais de 40 anos que apoia e financia a construção de colonatos na área, considerados ilegais à luz do direito internacional por se encontrarem numa região ocupada.
Israel sustenta que laços históricos e bíblicos lhe conferem direitos sobre a área. Esta serve-lhe ainda de zona de segurança contra a investida de grupos palestinianos apostados na destruição do Estado israelita.
Os palestinianos contrapõem a necessidade de deter toda a área para formar um Estado próprio. E acusam Israel de prepotência.
Em troca, os palestinianos aceitariam a anexação por parte de Israel de 30 por cento da Cisjordânia onde construiu colonatos, legitimando parcialmente a soberania territorial que os israelitas procuram há dezenas de anos, e a sua segurança.
A proposta foi sumariamente rejeitada por palestinianos e pela comunidade internacional na generalidade.
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