Violência Israel-Gaza. Número de mortos aumenta, ONU alerta para perigo de guerra "em grande escala"

por Andreia Martins - RTP
Um veículo queimado na cidade de Lod, em Israel, após mais uma noite de confrontos violentos. Ronen Zvulun - Reuters

São os mais graves confrontos entre Israel e o Hamas desde a guerra em 2014. Há registo de pelo menos 49 mortos em Gaza e seis em Israel nos últimos dias, de acordo com o último balanço. Esta quarta-feira,as forças israelitas levaram a cabo centenas de ataques aéreos, enquanto militantes palestinianos dispararam foguetes na direção de Telavive e outras cidades israelitas. A comunidade internacional olha para os últimos acontecimentos com preocupação.

O mais grave conflito entre israelitas e palestinianos em sete anos intensificou-se na última noite e na manhã desta quarta-feira. No total, os bombardeamentos já provocaram 49 mortos em Gaza e seis em Israel. Entre as vítimas estão pelo menos 14 crianças.

Os ataques aéreos dos israelitas começaram por atingir edifícios do Hamas em Gaza, enquanto os militantes do Hamas lançaram foguetes sobretudo na direção de Telavive, onde se ouviram explosões e sirenes de aviso. De acordo com as autoridades israelitas, os militantes do Hamas lançaram um total de mil foguetes nos últimos dias.

Em Gaza, um edifício de nove andares com várias residências, empresas médicas e clínicas foi atingido e ficou seriamente danificado na última noite. O ataque ocorreu depois dos residentes terem sido alertados. Na terça-feira, as forças israelitas atingiram outro edifício de 13 andares que albergava apartamentos e escritórios do Hamas, que acabou por desabar.

As Forças de Defesa de Israel informaram durante a madrugada que tinham atingido “alvos terroristas significativos em toda a Faixa de Gaza”.

Nas últimas horas, já durante a manhã de quarta-feira, o Hamas diz ter disparado 210 foguetes na direção de Telavive e da cidade de Bersebá em resposta aos ataques aéreos israelitas. Em Gaza, as explosões dos sucessivos ataques aéreos abalaram o território, com os habitantes a correram para as ruas para fugirem às investidas.  
Caos em Lod 

Na cidade árabe-judaica de Lod, perto de Telavive, pelo menos duas pessoas morreram quando um foguete atingiu um veículo. Esta cidade foi alvo de violentos confrontos entre a polícia e manifestantes, de tal forma que o primeiro-ministro israelita declarou o estado de emergência neste local depois da minoria árabe ter incendiado pelo menos uma sinagoga. Por sua vez, os israelitas desta cidade apedrejaram e incendiaram carros conduzidos por residentes de origem árabe.

“Perdemos o controlo da cidade” assumiu o mayor Yair Revivo, em declarações a uma televisão local, afirmando mesmo que Lod viveu ontem a sua “Kristallnacht” (Noite de Cristais), em referência ao episódio histórico de 1938 que marcou a intensificação da perseguição contra os judeus na Alemanha nazi.

Há até ao momento registo de feridos de ambos os lados, num combate desigual entre foguetes de um lado contra caças ou um sofisticado sistema de defesa antimísseis do outro, escrevia esta manhã o New York Times. Enquanto os israelitas procuram atingir alvos estratégicos numa zona densamente povoada, acabando por visar também a população civil, o Hamas procura acertar em centros urbanos com população civil, mas raramente o consegue.  

Ambos os lados dizem-se prontos para prosseguir com as hostilidades. O ministro israelita da Defesa, Benny Gantz, avisou que este foi “apenas o início” dos ataques aéreos. “Se Israel quiser escalar com esta situação, estamos prontos”, disse em resposta o líder do Hamas, Ismail Haniyeh.

Tor Wennesland, enviado especial da ONU para o Médio Oriente, pede o fim do conflito. “O preço da guerra em Gaza é devastador e está a ser pago por pessoas comuns. Parem com o fogo imediatamente. Estamos a encaminhar-nos para uma guerra em grande escala”, alertou o responsável.

O Conselho de Segurança prepara-se para reunir de emergência esta quarta-feira, o segundo encontro sobre o tema em apenas três dias. A intensificação dos confrontos é olhada com preocupação por parte da comunidade internacional.

De acordo com a agência Reuters, vários países e organizações procuram nesta altura alcançar um cessar-fogo, desde logo o Egito, Qatar e as Nações Unidas, ainda sem um resultado conclusivo.

De recordar que a tensão entre israelitas e palestinianos se adensou ao longo das últimas semanas na sequência da iminente ordem de despejo de várias famílias palestinianas do bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, por parte de colonos israelitas que reivindicam o direito a tais habitações.

A questão é antiga, mas nos últimos dias a contenda entre palestinianos e a polícia israelita subiu de tom na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Oriental, e mesmo junto à mesquita de al-Aqsa, o terceiro local de culto mais sagrado do Islão. Dos confrontos resultaram centenas de feridos, isto porque era esperada uma decisão do Supremo Tribunal de Israel sobre os despejos na última segunda-feira.

Desde que chegou à Casa Branca, o Presidente Joe Biden tem procurado evitar focar-se no Médio Oriente, mas este evoluir do conflito poderá obrigar a um maior envolvimento nesta questão por parte dos Estados Unidos.

“Acreditamos que palestinianos e israelitas merecem  liberdade, segurança, dignidade e prosperidade em igual medida. Na última semana, as autoridades norte-americanas falaram abertamente com as autoridades israelitas sobre como os despejos de famílias palestinianas que viveram por anos, por vezes décadas, em suas casas, e como a destruição dessas casas vão contra nossos interesses comuns”, afirmou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.

Em comunicado, o Hamas prometeu continuar com os ataques até que Israel pare com “as cenas de terrorismo e agressão em Jerusalém e na mesquita de al-Aqsa”.
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