Vítimas relatam a pior vaga de violência sectária em Nova Deli

por RTP
Adnan Abidi - Reuters

As vítimas dos violentos confrontos entre hindus e muçulmanos em Nova Deli relatam que esta é a pior onda de violência que a capital indiana já viu em décadas. De acordo com os serviços de saúde locais, mais de 30 pessoas foram mortas desde o início dos tumultos, no domingo.

Estes confrontos, que coincidiram com a visita à Índia do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ocorreram entre os que se manifestaram a favor e contra a lei que concede a cidadania indiana a minorias religiosas, exceto para os muçulmanos.

Várias testemunhas afirmaram que multidões atacaram áreas muçulmanas durante a noite de terça-feira, queimando e roubando casas e lojas. As autoridades tiveram de recorrer a gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, enquanto os manifestantes atiravam pedras e incendiavam as propriedades.

“Espera-se que o número de mortos aumente à medida que o processo de contagem continua”, referiu o chefe do departamento médico de vítimas no Hospital Guru Tej Bahadur de Deli, acrescentando que “desde o início dos confrontos, pelo menos 200 pessoas foram tratadas no hospital, a maioria por ferimentos de bala e os restantes por traumatismo”.

A polícia da capital indiana foi acusada por testemunhas de fechar os olhos ou de ser cúmplice da violência. Contudo, as autoridades já vieram negar essas alegações. Após estas acusações, o clima encontrava-se tenso em Nova Deli na manhã de quarta-feira, quando a polícia de choque fazia a patrulha nas ruas.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, cujo Governo nacional hindu foi acusado de alimentar tensões religiosas ao introduzir a lei de cidadania, pediu paz.


“A paz e a harmonia são fundamentais para o nosso ethos. Apelo às minhas irmãs e irmãos de Deli para que mantenham a paz e a irmandade o tempo todo”, escreveu Modi no seu twitter.

"É importante que haja calma e que a normalidade seja restaurada o mais cedo possível", acrescentou.
O medo de viver na capital indiana
Muitos muçulmanos indianos apontam que o Governo os abandonou e dizem que se sentem vítimas. Associado a isto, surgiu o medo de viver em Nova Deli.

Khurseed Alam, um motorista de riquexós que morava próximo da mesquita em Ashok Nagar, disse que as promessas de um futuro próspero não se concretizaram. A casa da sua família, onde ele morava com dez dos seus parentes, foi queimada pela multidão, juntamente com outras três casas muçulmanas e lojas vizinhas.

“Eu trabalhava aqui no mercado e ganhava cerca de 500 rúpias, [cerca de seis euros], Isso também acabou agora. O que mais posso fazer?”, afirmou o motorista.

O chefe do Departamento de Bombeiros de Deli disse à CNN que tinha recebido 170 denúncias de incêndio criminoso em Deli nos últimos dois dias.

Asana Begum estava escondida com outras famílias numa casa, enquanto a multidão atravessava a área. Os polícias acabaram por levá-los em segurança, mas quando voltaram para casa, nada restou. “Estou com muito medo de morar aqui agora. Em que podemos confiar para morar aqui?”, questiona-se Begum.

Depois de visitar as áreas atingidas pelos confrontos no leste de Deli, o assessor de segurança nacional da Índia, Ajit Doval, minimizou a violência, dizendo que "não havia inimizade" entre os habitantes locais e que apenas "alguns criminosos" eram responsáveis por incentivarem problemas.
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