Kaiser Renato Sanches

A primeira vez que ouvi falar dele foi no Campeonato da Europa de sub-17 que decorreu em Malta e que a RTP transmitiu em maio de 2014, faz agora dois anos. Nessa equipa treinada por Emílio Peixe a estrela da companhia era Rúben Neves, do FC Porto, que já tinha várias presenças na seleção de sub-18, o escalão seguinte, e que era o capitão de equipa. No entanto, lembro-me de ao longo das transmissões ter elogiado o camisola 10 da seleção nacional que tinha um talento e uma força incrível e que, para além disso, era o mais novo da equipa.

Lembro-me ainda de o comentador que fez comigo o trabalho, Nuno Dias, um conhecedor do futebol jovem português, me ter dito que ainda iriamos falar dele. Quase dois anos depois não podia estar mais certo.

Não acredito que uma equipa como o Bayern de Munique se decida a gastar 35 milhões de euros que podem chegar a mais 45 milhões, se os objetivos forem todos cumpridos, se não tiver grandes certezas sobre o que está a comprar. O dinheiro está pela hora da morte, ainda mais para uma equipa alemã, pouco habituada a gastos desta dimensão.

Renato Sanches chega a uma das maiores equipas do Mundo depois de ter realizado apenas trinta e quatro jogos pela equipa principal dos encarnados, vinte e quatro dos quais na liga portuguesa e seis na Liga dos Campeões. Tem ainda duas internacionalizações pela seleção nacional. Nas declarações que fez ao sítio do clube alemão na internet, o presidente executivo Karl-Heinz Rummenigge disse que "já o seguíamos há muito tempo e que a decisão de o contratar foi tomada, em definitivo, depois dos dois jogos que fez na Liga dos Campeões", precisamente contra o Bayern de Munique. Com tantos "tubarões" atrás dele, os bávaros fizeram uma jogada de antecipação e ganharam a corrida.

A partir de agora há duas ou três ideias que vão ser debatidas até à exaustão entre todos os adeptos do futebol português. A primeira é a de se saber se o miúdo devia ou não sair já do futebol luso. Não tenho dúvidas de que foi o melhor que lhe podia ter acontecido. Daqui por duas ou três temporadas nem o vamos reconhecer porque, em cima da qualidade que tem, vai agora ser trabalhado pelo rigor tático alemão e por um dos grandes treinadores do futebol mundial, o italiano Carlo Ancelotti. A seleção nacional, que a partir de setembro vai discutir o apuramento para o Mundial da Rússia, agradece.

A segunda grande discussão já começou mas agora vai ter um novo capítulo. Deve ou não Renato Sanches ser convocado para o Euro 2016? Fernando Santos terá, seguramente, muitos cigarros para fumar e muitos neurónios para queimar. Em minha opinião seria melhor para ele e para a seleção que fosse aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro porque na equipa principal corre o risco de não jogar nem um minuto já que há gente com maior experiência do que ele. Na seleção olímpica poderá ser ele e mais dez. E como dizem os brasileiros, se for para tomar bronze o melhor é ficar pelo Algarve. Portugal vai ao Brasil para discutir o ouro.

Por fim, com a luta Benfica/Sporting em ponto de rebuçado, vamos assistir à grande discussão de se saber se ele teria tido alguma possibilidade de jogar se o treinador fosse Jorge Jesus e não Rui Vitória. É verdade que os tempos são outros. Os jogadores do plantel encarnado também. Mas de uma coisa tenho a certeza absoluta: não haverá nenhum treinador que não ponha em campo os melhores jogadores, tenham eles a idade, a cor ou a altura que tiverem.

Têm é de ter qualidade e nisso Renato Sanches não engana. Apesar de ser um menino de apenas dezoito anos e nada melhor do que o duplo cartão amarelo que viu, no domingo, no Funchal, para provar que, apesar de todo o talento, tem ainda muito trabalho pela frente para chegar ao topo do futebol mundial.

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