Armando Vara nega crimes e critica “fugas cirúrgicas”

por RTP
O antigo ministro socialista e vice-presidente do Millennium BCP é suspeito do crime de tráfico de influências Paulo Novais, Lusa

O antigo governante socialista Armando Vara, entre 15 arguidos do processo Face Oculta, esteve ontem a ser ouvido ao longo de sete horas no Juízo de Instrução Criminal de Aveiro. À saída da inquirição, que vai ser retomada no próximo dia 27 de Novembro, o vice-presidente do Millennium BCP manifestou-se "tranquilo", afirmando que não cometeu qualquer crime.

A primeira inquirição de Armando Vara teve início às 14h52 de quarta-feira, foi interrompida pelas 20h00 e só terminou às 0h00. À saída do Juízo de Instrução Criminal de Aveiro, o antigo ministro socialista falou aos jornalistas para dizer que as acusações formuladas pelos investigadores "nunca aconteceram". Em seguida, apontou o dedo ao que considera ser uma sequência de "fugas selectivas" ao segredo de justiça.

"Estou tranquilo porque não fiz nada do que me acusam. Nunca pedi dinheiro a ninguém e nunca recebi dinheiro de ninguém. Isso é completamente falso. As acusações que são feitas no processo nunca aconteceram e estou certo de que o julgamento provará o que acabo de dizer", afirmou Vara.

As "fugas ao segredo de justiça", acrescentou, "são sempre no mesmo sentido, têm sempre o mesmo objectivo, são cirúrgicas e são preparadas". "Eu não quero entrar nisso", rematou.

Vara é suspeito de integrar "rede tentacular"

A investigação do processo Face Oculta inclui Armando Vara entre os alegados membros de uma "rede tentacular" que terá sido arquitectada pelo empresário Manuel Godinho, detentor de várias empresas dedicadas à recolha e tratamento de resíduos e sucatas com ligações a entidades como a Redes Eléctricas Nacionais (REN) e a REFER - Rede Ferroviária Nacional.

De acordo com uma fonte judicial, citada pela agência Lusa, os investigadores concluíram que o esquema montado pelo empresário de Ovar, o único arguido em prisão preventiva, dependia de figuras como Armando Vara, o presidente da REN, José Penedos, e o seu filho, Paulo Penedos, que é advogado da empresa SCI, de Manuel Godinho. Sobre estes arguidos recai a suspeita de terem exercido influência junto de responsáveis políticos e de outras figuras com poder de decisão para beneficiar as empresas de Godinho. Em troca terão recebido vantagens patrimoniais ou não patrimoniais.

Os investigadores alegam que, a 25 de Maio de 2009, Armando Vara terá recebido Manuel Godinho no seu gabinete do Millennium BCP, na Avenida José Malhoa, em Lisboa. A mesma fonte adiantou à Lusa que Godinho se deslocou ao edifício do banco para entregar dez mil euros que o antigo governante teria pedido para acautelar os interesses do empresário do Norte.

Inquirição de Vara é retomada a 27 de Novembro

Durante as sete horas da primeira inquirição, Armando Vara pôde consultar o que disse ser uma "vastíssima documentação". A acompanhar o arguido estiveram os advogados Tiago Rodrigues Bastos e Godinho de Matos.

O vice-presidente do Banco Comercial Português, que suspendeu as suas funções, disse ainda ter respondido a algumas questões colocadas pelo magistrado titular do processo. A inquirição foi suspensa às 0h00 e vai prosseguir no próximo dia 27 de Novembro.

No decurso da investigação, Armando Vara foi alvo de escutas telefónicas que interceptaram conversas com o primeiro-ministro. As primeiras seis escutas de conversas com José Sócrates foram declaradas nulas pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha do Nascimento, que decretou também a sua destruição. O Procurador-Geral da República revelou no sábado que está a analisar outras cinco escutas que envolvem o primeiro-ministro. Pinto Monteiro prometeu tomar uma decisão até ao final desta semana.

As inquirições do processo Face Oculta prosseguem esta quinta-feira no Juízo de Instrução Criminal de Aveiro, onde o presidente da REN volta a ser ouvido. Os advogados do administrador haviam pedido, na terça-feira, para consultar o processo. Sobre José Penedos recaem suspeitas de tráfico de influências e de corrupção passiva no âmbito da "rede tentacular" de Manuel Godinho, o que terá acontecido numa adjudicação feita pela REN e na renovação de um contrato para a recolha de resíduos.

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