CIP sente-se defraudada com versão final da Agenda do Trabalho Digno

por Antena1

Foto: Antena1

A CIP sente-se "defraudada" com a aprovação da Agenda do Trabalho Digno no Parlamento e acusa o primeiro-ministro de não ter controlo sobre o grupo parlamentar do PS. Sem querer assumir uma posição por antecipação, o presidente da CIP lembra que os patrões já uma vez decidiram suspender a sua participação na concertação social e adianta que será ainda mais difícil às empresas cumprirem a progressão salarial prevista.

Em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, o presidente da CIP, António Saraiva, diz que os patrões agiram de "boa-fé" e sentem-se "defraudados" com a aprovação no Parlamento da Agenda do Trabalho Digno, porque assinaram o Acordo de Rendimentos no pressuposto de que as alterações à legislação do trabalho seriam apenas as 68 medidas apresentadas em sede de concertação e não as 86 que acabaram por sair da Assembleia da República. Admite que possa ser "um pouco excessivo" denunciar o acordo de rendimentos, mas assegura que se nada for feito, haverá consequências. António Saraiva acusa ainda o primeiro-ministro de, enquanto líder do PS, não ter controlo sobre os deputados.

António Saraiva lembra que mesmo não tendo existido acordo em concertação social sobre a Agenda do Trabalho Digno, o Acordo de Rendimentos foi assinado no pressuposto que as alterações à legislação laboral seriam apenas as apresentadas em sede de concertação. Com as novas exigências, António Saraiva considera que algumas empresas vão ter muita dificuldade em aplicar a progressão salarial prevista.

António Saraiva não quer para já adiantar qual será a posição a assumir pelos patrões - não antes da reunião com o primeiro-ministro que está agendada para dia 28 - mas lembra que os parceiros já decidiram anteriormente suspender a sua participação na concertação social, quando António Costa depois de ter apresentado um pacote de alterações à Agenda do Trabalho Digno na concertação, decidiu introduzir e anunciar mais 4 medidas que não constavam do leque inicialmente discutido com os parceiros sociais.

Do primeiro-ministro espera um reconhecimento da adulteração ao espírito do acordo e a promoção de medidas que possa minimizar ou anular os seus impactos.

A pouco mais de um mês de deixar a liderança da CIP (eleições a 30 de março e tomada de posse a 12 de abril) e depois de 13 anos como presidente, António Saraiva confessa que a pandemia foi o pior momento de gerir e diz que criar pontes – qualidade pela qual é conhecido - não é assim tão difícil, basta saber escutar a posição do outro. Sem falsas modéstias, reconhece que ao longo do seu percurso associativo e em muitos momentos, influenciou o curso dos acontecimentos. Para o futuro não tem ambições políticas e espera poder dedicar-se às empresas, à intervenção cívica e à família.

Entrevista conduzida por Rosário Lira (Antena1) e Catarina Almeida Pereira (Jornal de Negócios).
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