Covid 19. Rui Rio coloca hipótese de criação de um Governo de salvação nacional

por Mário Aleixo - RTP
Rui Rio admite estar ao lado do Governo numa solução de criação de um executivo de salvação nacional RTP

O presidente do PSD considerou que, quando a questão da recuperação económica se tornar a prioridade, com a melhoria da situação de saúde, vai ter de se debater a composição de um Governo de salvação nacional.

"Quando vier a economia para o primeiro lugar, então estou convencido de que a sociedade portuguesa vai ter de debater efetivamente a composição de um Governo de salvação nacional. O Governo que vier - pode ser o mesmo, como é lógico - vai ser sempre de salvação nacional", declarou Rui Rio em entrevista à RTP.

No entanto, de acordo com o líder social-democrata, "neste momento a prioridade não é pensar sobre isto", porque se coloca "a parte sanitária em primeiro lugar".

PSD pronto a viabilizar um orçamento suplementar

No decorrer da entrevista o presidente do PSD disse ser sua vontade viabilizar ao Governo uma proposta de orçamento suplementar para este ano destinada a responder à crise económica, dizendo mesmo que politicamente terá grande latitude para a aceitar.
Tiago Contreiras, Carlos Valente - RTP

"Não vai haver orçamentos retificativos de certeza absoluta, garanto-lhe que não vai haver orçamentos retificativos. Vai haver orçamentos suplementares", contrapôs o líder social-democrata.

Rui Rio justificou depois que a apresentação de um orçamento retificativo, "como o nome indica, é para retificar qualquer coisa" e um Orçamento suplementar "é para acrescentar, e forte".  Deixou, no entanto, uma ressalva: "Vamos manter o rigor agora, sabendo nós que o rigor é um rigor de dar muito dinheiro a muita gente, mas tem de ser".

Quase impossível não prolongar estado de emergência

O presidente do PSD considerou "quase impossível" não prolongar o estado de emergência e afirmou que a maior falha até agora relacionou-se com a desproteção dos profissionais de saúde.

Estas posições foram transmitidas por Rui Rio em entrevista à RTP, conduzida pelo jornalista Carlos Daniel e que durou cerca de 35 minutos, durante a qual defendeu a tese de que este não é o momento para se fazer um balanço sobre a adequação das medidas tomadas pelo Governo no combate à pandemia da covid-19, embora também frisando que esse balanço político far-se-á inevitavelmente mais tarde, já com o país "em paz".

Questionado se entende que o Governo deveria reduzir as medidas de restrição para permitir uma maior atividade económica no país, o líder social-democrata recusou esse caminho.

"Não defendo nada que se aliviem as medidas sanitárias. Por isso, considero quase impossível não prolongar o estado de emergência. Só se me vierem com dados absolutamente diferentes daqueles que temos", declarou.

Interrogado sobre erros até agora cometidos pelo atual executivo no combate ao surto do novo coronavírus em Portugal, o líder social-democrata procurou antes salientar que a missão é difícil e que qualquer governo cometeria erros na atual situação.

Questionado se concorda com a tese de que se encontra afastado um cenário de rutura do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o líder social-democrata sustentou que, "neste momento, sim".

Governo para não entrar em loucuras porque a dívida terá de ser paga

Na entrevista o presidente do PSD advertiu o Governo para ter "cuidado" e não entrar "na loucura" de aceitar todos os pedidos de apoios financeiros, frisando que a dívida a contrair vai ter de ser paga mais tarde.

"Estamos a assistir a um subsídio para isto, a um subsídio para aquilo, para garantir o rendimento - e tem de ser. Mas é preciso que se perceba isto: Todo este dinheiro, seja ele qual for, nós vamos pagá-lo. O Estado vai pagar, e o Estado somos nós. Vamos pagar tudo", avisou o líder social-democrata.



No ponto dos apoios financeiros, o presidente do PSD defendeu que o executivo terá de seguir sempre um caminho de rigor.

"Que não se entre na loucura de que agora, como se aceita tudo, é mais e mais e mais e mais, porque lá à frente não há como não pagar", reforçou o líder social-democrata neste recado dirigido ao Governo socialista.

Rui Rio disse mesmo estar a transmitir esta posição "em tom pedagógico, para as pessoas pensarem bem e o Governo nunca se esquecer disto".

"Dito isto, é evidente que o Estado vai ter de se endividar de uma forma brutal para garantir o rendimento às pessoas. Tem de ser assim para que, a seguir, quando quisermos relançar a economia, haja uma base de produção mínima em cima da qual nós montamos outra vez Portugal", sustentou o presidente do PSD.

Rio alinhado com o Governo na União Europeia

Na questão europeia, Rui Rio também criticou as posições assumidas pelo ministro das Finanças holandês sobre a necessidade de investigar a Espanha, mas procurou separar a atuação do Governo de Haia e o executivo alemão da chanceler Angela Merkel.

Tal como o Governo português, o presidente do PSD defendeu a emissão de dívida europeia conjunta para responder à crise económica que se vai instalar no continente.

"Uma modalidade tem de haver. A palavra 'coronabonds' é uma palavra politicamente interessante. É dizer assim: A Europa, no plano financeiro, por causa do coronavírus, por causa do covid-19, está junta. E, portanto, do ponto de vista político, é um bom nome, para ver se somos ou não somos capazes de estar juntos aqui", afirmou.

No entanto, o líder social-democrata deixou também um recado aos governos de Portugal, Espanha, Itália ou Grécia.

"Agora, não podemos também chegar ao norte da Europa e querer, a propósito disto, ultrapassar erros que nós cometemos no passado que eles lá no norte não cometeram em termos de endividamento", avisou a concluir.
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