Dois janeiros, duas realidades diferentes? Como partimos para o início de 2022

por RTP
Pedro Nunes - Reuters

Há um ano, 2021 começava com uma explosão nos internamentos em enfermaria e cuidados intensivos. Com números de óbitos a aumentar a cada dia, o número de novos casos diários era no entanto pouco expressivo por comparação aos que já se registaram muito recentemente no país. Este ano, com a variante Ómicron dominante, os recordes diários de novas infeções batidos consecutivamente nos últimos dias não se têm ainda refletido nas mortes e hospitalizações e há sinais de esperança vindos de fora. Para já, pelo menos até dia 9 de janeiro, cumpre-se a última das duas semanas de contenção previstas, sendo que o Conselho de Ministros irá voltar a analisar as medidas em vigor na quinta-feira.

Nas últimas semanas, as autoridades encetaram esforços reforçados em relação ao ano passado com o objetivo de evitar uma repetição do “trágico janeiro de 2021”, como afirmou o primeiro-ministro António Costa. A semana de contenção passou a quinzena e o país tem estado a meio-gás desde o Natal, com várias medidas extraordinárias para conter o avanço da variante Ómicron.

Pelo menos até dia 9 de janeiro, domingo, as creches e ATL continuam encerrados, o teletrabalho é obrigatório, bares e discotecas também continuam fechados e continua a exigência de teste negativo em vários contextos culturais e de lazer.

O Conselho de Ministros irá reunir-se esta semana para reavaliar a situação do país e esperam-se novidades na próxima quinta-feira, perante a aleatoriedade e incerteza da nova variante. O encontro habitual acontece depois da reunião do Infarmed que se realiza na próxima quarta-feira, avança a edição desta segunda-feira do Público.

De resto, a diretora-geral da Saúde deixou sinais díspares nos últimos dias. A 31 de dezembro, Graça Freitas admitia em declarações ao Observador que as escolas poderiam não reabrir a 10 de janeiro e que os próximos dias seriam “essenciais para perceber a evolução da pandemia”.

Horas depois, a responsável esclarecia na CNN Portugal que o cenário de encerramento de escolas afinal “não está em causa” e que a decisão pertence ao Governo.

Já esta segunda-feira, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, afirmava que as aulas serão mesmo retomadas a 10 de janeiro.

O cenário é ainda assim de grande incerteza perante a explosão de casos, fruto da variante Ómicron, que é agora dominante no país. Esta nova estirpe, mais transmissível, deverá levar Portugal a atingir um novo recorde de novos casos diários: na semana passada, a ministra da Saúde antecipava 37 mil novas infeções a 7 de janeiro.

Certo é que, na última semana, Portugal já atingiu consecutivamente novos recordes de infeções diárias, com reflexos visíveis no SNS24 e nas urgências hospitalares. O máximo anteriormente registado era de 16.432 novos casos, isto no pico do mês horribilis, a 28 de janeiro de 2021. Nesse mesmo dia era batido pela primeira vez o recorde de óbitos diários: 303 mortes.


Ora, na semana passada, Portugal registou 17.172 novas infeções na terça-feira, a 28 de dezembro, para logo a seguir, na quarta-feira, contabilizar 26.867 novos casos. Nos dias seguintes, novos recordes: mais 28.659 novas infeções na quinta-feira e 30.829 casos na sexta-feira, no último dia do ano.

Na contabilização da Antena 1, esta última semana foi a que registou mais casos desde o início da pandemia. Verificou-se também um aumento considerável no número de internados, ainda que longe dos valores registados nos primeiros meses de 2021. Por outro lado, o número de óbitos e internamentos em cuidados intensivos mostra tendência para estabilizar.

Mesmo com a subida explosiva do número de casos, a situação hospitalar continua a ser muito mais calma do que há um ano. Nos primeiros dias de 2021, estavam mais de 3.000 pessoas hospitalizadas, havia cerca de 500 doentes graves e tinham morrido cerca de 500 pessoas numa só semana.


Os números geram apreensão entre os peritos e decisores, até porque noutras fases da pandemia a explosão no número de casos só se refletiria semanas mais tarde nos internamentos e óbitos, e no final de dezembro de 2020, os números de novas infeções eram muito menos significativos do que os registados nesta viragem do ano.

Por exemplo, o boletim de 31 de dezembro de 2020 contabilizava 7.627 novos casos e 76 óbitos. A 1 de janeiro de 2021, registavam-se 60 óbitos e 6.951 casos e no dia seguinte, 2 de janeiro, houve registo de 73 óbitos e 3.241 casos confirmados.


Apesar dos receios dos números e dos vários paralelismos que é possível traçar – desde logo, a proximidade do período do Natal e Ano Novo e a realização de eleições, presidenciais em janeiro de 2021, legislativas no fim deste mês – a situação não é exatamente a mesma de há um ano.

Para além dos recordes absolutos de testagem no Natal e Ano Novo e da quinzena de contenção, uma novidade em 2021, há também o fator da cobertura vacinal, que tem impedido a escalada no número de mortos, sendo que há um ano era um processo que dava os primeiros passos.

O secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Lacerda Sales, adiantou esta segunda-feira que quase 90 por cento dos internados com a doença de Covid-19 em cuidados intensivos não está inoculada. Em relação aos internados nas enfermarias, o número é de cerca de 60 por cento.

Para além disso, não obstante os recordes de infeção, o número de óbitos manteve-se abaixo das 21 mortes diárias no decorrer da última semana.  

E apesar da Ómicron ser possivelmente o vírus de mais rápida propagação da História, há alguns sinais positivos, que levaram desde logo à redução de dias de isolamento por decisão da Direção-Geral de Saúde.

Esses sinais também chegam do exterior. A África do Sul, país onde a estirpe foi identificada pela primeira vez, prepara-se para aliviar restrições associadas à pandemia, em sentido contrário em relação ao resto da Europa. As autoridades sul-africanas acreditam que o pico de infeções provocado pela variante já passou.

“Embora a variante Ómicron seja altamente transmissível, as taxas de hospitalização têm sido inferiores às das vagas anteriores” e o aumento do número de óbitos é “marginal”, argumentou a Presidência do país, em comunicado. Ainda assim, o Presidente alerta para o risco de aumento de infeções que “continua elevado” devido à “alta transmissibilidade” da Ómicron.

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