ECDC admite novos confinamentos, mas alerta que encerramento de escolas é a medida menos eficaz

por RTP
Pedro A. Pina - RTP

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) admite novos confinamentos na Europa devido ao aumento do número de casos de covid-19 após as festividades de final de ano, defendendo que "quanto mais rapidamente avançarem, melhor". O especialista Pasi Penttinen considera que o encerramento de escolas na Europa é a "medida menos eficaz", se for uma medida isolada. No entanto, alerta que a nova variante pode alterar a equação sobre as escolas.

"Quando se fala em confinamento, na junção das medidas restritivas, está-se basicamente a paralisar a sociedade (...) para conseguir que os números baixem. (...) Somos a favor de existirem restrições claras para reduzir o contacto entre as pessoas, independentemente da forma que assumem", afirma o especialista principal do ECDC para o novo coronavírus e gripe, Pasi Penttinen, em entrevista à agência Lusa.

Numa altura em que Portugal equaciona voltar a um confinamento semelhante ao adotado no início da pandemia, Penttinen reitera que "todas as medidas que reduzem os contactos entre as pessoas, especialmente em locais movimentados e no interior, são eficazes contra este vírus".

A urgência é, neste caso, necessária. “Quanto mais cedo forem tomadas as medidas, melhor é", acrescenta.

Sobre o encerramento das escolas, tema que tem levantado dúvidas em Portugal, o especialista admite possíveis efeitos na redução da transmissão.

"Como uma medida isolada, o encerramento de escolas não vai resolver esta pandemia. Se os países decidirem fechar escolas, isso pode ter algum impacto na (quebra da) transmissão, mas não é tão eficaz como muitas das outras medidas", afirma o especialista principal do ECDC para o novo coronavírus e gripe.

Pasi Penttinen diz que o fecho destes estabelecimentos "não é, modo algum, a medida mais eficaz à disposição" e que só deve ser tomada “em linha com o que acontece na comunidade".

“Se os países estão a fechar locais de trabalho, centros comerciais e ajuntamentos públicos, então esta (o fecho das escolas) pode ser uma medida a ser considerada de forma adicional", mas apenas nestes casos, ressalva Pasi Penttinen.

Escolas. Necessária atenção a nova variante
Aludindo aos estudos científicos já realizados, o especialista recorda que as crianças desenvolvem menos sintomas e doenças menos graves do que os adultos, sendo quase inexistentes as mortes entre eles.

"Sabemos que as crianças podem transmitir aos outros, quer sejam ou não sintomáticos, mas aparentemente são menos eficazes nessa transmissão do que os adultos", explica Pasi Penttinen.

O especialista chama, porém, atenção sobre a nova variante do SARS-CoV-2 que apareceu no Reino Unido, e que segundo as amostras científicas preliminares é 70% mais contagiosa e atinge principalmente crianças e jovens.

"Uma questão a que temos de ficar atentos é à nova variante reportada pelo Reino Unido e por outros países europeus", diz Pasi Penttinen, assinalando que "há alguns indicadores preliminares de que esta nova variante pode comportar-se de forma diferente em crianças".

O responsável aconselha, então, que os países apertem as medidas de contenção.

"Nenhuma das medidas é, por si só, eficaz, quer estejamos a falar de encerramento de escolas, da utilização de máscaras ou proibição de ajuntamentos. (...) Só agregando algumas medidas, através de uma abordagem mais abrangente, é que é possível quebrar as tendências da doença", conclui Pasi Penttinen.
ECDC alertou para festividades
Num relatório publicado no início de dezembro passado, o ECDC alertou para os "riscos adicionais significativos" das festividades de fim de ano, como o Natal, notando que o aumento das infeções de covid-19 seria "muito provável" nesta época.

Apesar de ainda não se conseguir perceber todo o impacto das festividades, Pasi Penttinen diz à Lusa que os países que nessa época festiva mantiveram as restrições estão a registar o "efeito das difíceis e apertadas medidas", enquanto outros registam aumentos acentuados no número de novas infeções, hospitalizações e mortes.

Portugal, um dos países europeus com medidas mais leves durante as festividades, inclui-se neste último grupo, ao ter registado nos últimos dias números máximos diários de mortes (122) e de casos confirmados (10.176).

"O que dissemos antes do Natal foi bastante claro, que (...) as medidas restritivas seriam importantes para assegurar que a transmissão não se tornaria ainda mais ativa nestes países e, especialmente, para proteger os sistemas de saúde porque sabemos que no inverno normal, com a gripe, podem registar-se situações de pressão nas urgências e nos cuidados intensivos, por isso esta (a pandemia) é uma razão adicional", aponta o especialista principal do ECDC.

Nos últimos meses, a agência europeia tem vindo a recomendar medidas mais direcionadas em vez de confinamentos mais generalizados, mas admite agora medidas mais apertadas.

"Em muitos países (europeus), este tipo de abordagem não foi bem-sucedida e, infelizmente, muito frequentemente é preciso apertar estas medidas", adianta o responsável.
Vacinação de grupos de risco pode trazer alívio de medidas
"A minha previsão é de que teremos os idosos protegidos por altura do verão em muitos países, nos próximos seis a oito meses, e isto claro elimina parte considerável das consequências graves da doença", afirma o responsável do ECDC.

Depois dessa vacinação dos grupos de risco - que inclui também pessoas com patologias graves, profissionais de saúde e funcionários de lares, dependendo dos planos de cada país -, "a equação para calcular as medidas a adotar será muito diferente no período do outono", aponta o especialista.

Assim, depois do verão, com "todas as pessoas mais velhas vacinadas protegidas contra os efeitos graves da doença", os países deverão começar a aliviar as restrições, de acordo com Pasi Penttinen.

Para isso, é preciso esperar pela vacinação e mais um esforço. "
Precisamos de nos esforçar por mais algum tempo", realça o cientista, admitindo ser "bastante difícil para várias partes da população aceitar este tipo de medidas porque já passou muito tempo", dadas as consequências socioeconómicas.

"É preciso aguardar que os procedimentos de vacinação estejam suficientemente avançados para reduzir a transmissão comunitária", insiste o responsável.

A vacinação na Europa já começou há duas semanas, com a vacina da pela Pfizer e BioNTech, esperando-se que nos próximos dias o mesmo aconteça com a vacina da Moderna. Até final do mês, a Agência Europeia de Medicamentos deverá dar `luz verde` à vacina da farmacêutica AstraZeneca com a universidade de Oxford.

Além destas duas, a Comissão Europeia tem uma carteira com quatro outras potenciais vacinas: AstraZeneca, Sanofi-GSK, Johnson & Johnson e CureVac.

"Gostaria de realçar o facto de este ser um sucesso sem precedentes”, afirma, notando que passou um ano sobre o início da pandemia e já há vacinas a serem administradas.

Para o especialista, o desenvolvimento de vacinas para a covid-19 em tempo recorde foi "a melhor notícia da pandemia", que resultou do "esforço inacreditável" da indústria e dos sistemas de saúde.

Pasi Penttinen vinca que "é preciso haver uma maior capacidade de produção" para responder às necessidades de todos os países da UE.

Sediado na Suécia, o ECDC tem como missão ajudar os países europeus a dar resposta a surtos de doenças.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,9 milhões de mortos num total de mais de 90 milhões de casos em todo o mundo.
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