Fenprof condena "velha tática de manipulação da opinião pública" do Governo

por Joana Raposo Santos - RTP
A Fenprof vai enviar ao Ministério da Educação os primeiros pareceres sobre todas as matérias que estão em negociação Paulo Domingos Lourenço - RTP

A Federação Nacional dos Professores veio esta quarta-feira exigir, em comunicado, uma postura negocial séria por parte do Governo, acusando-o de "querer optar pela velha tática de manipulação da opinião pública".

Numa nota enviada à comunicação social, a federação sindical refere uma proposta avançada pelo Ministério da Educação que “permitirá aos docentes contratados serem remunerados até ao índice 205, correspondente ao 3.º escalão da carreira”.

“Para suscitar na opinião pública alguma incompreensão e fazer parecer que existe intransigência por parte dos sindicatos, [o Governo] veio ‘esclarecer’ que, assim, os professores contratados poderão ganhar até mais 350 euros e atingir os 1938 euros brutos”, lê-se no comunicado.

“Vejamos, porém, o que não disse o Ministério da Educação na informação que pôs a circular e sobre a qual a Fenprof tem vindo a pronunciar-se”.

A Federação Nacional dos Professores começa por explicar que “não deveria ser necessário negociar qualquer proposta” de progressão para os docentes contratados, já que existe uma diretiva comunitária que impede o abuso dos Estados-membros, enquanto empregadores, do recurso à contratação a termo.

“Caso o Governo português não abusasse do recurso à contratação a termo, designadamente na Educação, esta questão nem se colocava, pois os professores e os educadores integrariam os quadros e ingressariam na carreira quando completassem três anos de serviço e, sendo o primeiro escalão de quatro anos, ninguém seria discriminado”, defende.
Fenprof vai enviar pareceres ao Ministério
A Fenprof explica ainda que o Ministério da Educação deveria ter referido que os 1.938 euros brutos se traduzem em cerca de 1.300 líquidos, “sendo essa a remuneração com que milhares de docentes terão que suportar uma colocação a centenas de quilómetros da sua residência familiar, suportar segunda habitação e todas as despesas inerentes ao afastamento daquela área”.

“Para a Fenprof, esta é das matérias incontornáveis no plano negocial, uma vez que existe uma obrigação legal a que o Estado Português não pode continuar a fugir, ignorando a denúncia e o combate aos incumprimentos que têm sido feitos. Como tal, ou elimina toda a precariedade acima dos três anos de serviço, o que não acontece com a proposta apresentada pelo Ministério, ou não cria qualquer limite ao índice pelo qual os professores contratados são remunerados, pois são milhares os que têm 12 ou mais anos serviço e continuam contratados”.

A federação sindical anuncia, no comunicado, que enviará ao Ministério da Educação os primeiros pareceres sobre todas as matérias que estão em negociação, bem como propostas para a abertura de outros processos negociais há muito reclamados, com destaque para as questões de carreira, nomeadamente a recuperação integral do tempo de serviço e a eliminação das vagas e das quotas.

Por fim, a Fenprof diz ter sido convidada para uma reunião técnica sobre as questões de concursos, “na qual participará com o objetivo de tentar esclarecer diversos aspetos que, nas propostas do Ministério, não são claros e que a reunião de dia 20 não permitiu esclarecer”.
S.TO.P também criticou postura do Governo
A posição da Fenprof surge poucas horas depois de o S.TO.P. ter explicado, em comunicado, que rejeitou a proposta do Governo para serviços mínimos por considerar que esta é um "novo ataque ao direito à greve" e "uma ameaça à democracia".

Na semana passada, os sindicatos participaram na terceira ronda negocial para debater com o Ministério da Educação o novo modelo de recrutamento e colocação dos professores, mas as reuniões terminaram sem acordo e a greve manteve-se.

Na terça-feira, o Sindicato Nacional dos Professores Licenciados (SNPL) convocou três dias de greve, entre 1 e 3 de fevereiro, pela "dignificação das condições" dos profissionais e contra propostas do Governo para o recrutamento e concursos.

Neste momento estão a decorrer outras duas greves: uma parcial, que arrancou no início do 2.º período, convocada pelo Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE), e uma greve total, convocada por uma plataforma de oito organizações, incluindo a Fenprof, que se realiza por vários distritos durante 18 dias, até 8 de fevereiro.
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