"Grito de alerta". Ordem dos Médicos apela a confinamento alargado

por Carlos Santos Neves - RTP
Pedro Nunes - Reuters

Perante o que considera ser a “ausência de medidas robustas” face à “situação emergente que se vive na Saúde em Portugal”, o bastonário e o gabinete de crise da Ordem dos Médicos vieram esta segunda-feira apelar a restrições mais duras para responder ao agravamento da pandemia. Desde logo, “adotar sem reservas e com a maior brevidade um confinamento geral no mínimo semelhante” àquele que foi implementado na primeira vaga, em 2020. Porque o contexto é de "medicina de catástrofe".

Numa nota remetida às redações, a Ordem dos Médicos renova um conjunto de propostas no sentido de responder de forma mais robusta ao acentuar da propagação do SARS-CoV-2.

O bastonário Miguel Guimarães e o respetivo gabinete de crise para a Covid-19 começam por apelar a que a comunicação aos portugueses ocorra “de forma transparente, coerente e objetiva, não omitindo a verdade, não tentando esconder a gravidade da situação, nem tentando encontrar bodes expiatórios para justificar a incapacidade de liderar o combate à pandemia”.“As meias medidas nem servem a saúde nem a economia”, sustenta a Ordem dos Médicos, para acrescentar que “já perdemos demasiado tempo e continuamos a perder” e que “é inaceitável continuar nas meias medidas e meias verdades”.


As propostas da Ordem passam, em seguida, por “adotar sem reservas e com a maior brevidade um confinamento geral no mínimo semelhante ao que ocorreu em março/abril de 2020, aquando da primeira onda da pandemia, com uma situação muito menos severa”.

Outra das propostas é o reforço da “capacidade de resposta das equipas de saúde pública, com os meios necessários e profissionais de saúde competentes para desempenhar as tarefas de realizar inquéritos epidemiológicos válidos e em tempo útil, que permitam identificar rapidamente os contactos de alto risco e quebrar cadeias de transmissão da doença Covid-19”.
O gabinete de crise da Ordem dos Médicos defende também que se aumente “de forma exponencial a capacidade de testagem de pessoas infetadas e seus contactos, através da utilização massiva de testes rápidos, para tentar recuperar o tempo já perdido na quebra de cadeias de transmissão e reforçar a capacidade de resposta da saúde pública”.

“Utilizar, de forma planeada e organizada, todos os recursos do sistema de saúde, para dar uma resposta integrada e consistente aos cidadãos e doentes Covid-19 e não Covid-19”, surge igualmente em relevo no documento da Ordem.
“Medicina de catástrofe”

A Ordem dos Médicos propõe ao Ministério da Saúde, adiante, que liberte “os médicos de família do Trace-Covid (e contratar médicos para esta tarefa específica), para que a principal porta de acesso ao SNS possa estar aberta e não parcialmente encerrada”.

Entre estas “propostas urgentes” está “proteger verdadeiramente as pessoas mais frágeis, nomeadamente os nossos idosos que estão nos lares, contratando equipas específicas com formação adequada, para que possam ter acesso privilegiado a cuidados de saúde em segurança”. O Governo vai reforçar esta segunda-feira, em Conselho de Ministros extraordinário, as restrições no quadro do combate à pandemia. A reunião tem início previsto para as 13h00.

E “rever com urgência os protocolos e funcionamento da linha SNS 24, para garantir informação consistente, adequada e eficaz aos cidadãos”.

O gabinete de Miguel Guimarães propõe, por último, que se ausculte “de forma regular as instituições legalmente competentes, que conhecem o terreno onde o combate à pandemia acontece”, bem como a “revisão imediata do Plano Nacional de Vacinação Covid-19 e pedido de parecer urgente ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) sobre critérios de prioridade para vacinação Covid-19”.Portugal é agora o país da União Europeia com mais casos por milhão de habitantes. A nível mundial, é o segundo.


“Os profissionais de saúde neste momento têm de tomar decisões complexas e muito difíceis em contexto de medicina de catástrofe e de estabelecimento de critérios de prioridade e não conseguem salvar todas as vidas. São eles que desesperam perante os limites do sofrimento e da compaixão, mercê da incapacidade de tratar o outro, e assim são vítimas de burnout e sofrimento ético. São eles que, além dos doentes, sofrem no terreno, e que aguentam a pressão brutal sobre o SNS”, remata-se no documento.
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