Incêndios de Góis e Pedrógão Grande dominados: o que vem a seguir

por RTP
Rafael Marchante - Reuters

A Proteção Civil deu como dominado o incêndio de Góis, que tinha alastrado aos concelhos de Pampilhosa da Serra e Arganil. E o fogo que lavrava em Pedrógão Grande desde sábado e que matou 64 pessoas entrou em fase de rescaldo ao quinto dia. Ainda não é tempo de descanso para os bombeiros, com a perspetiva de vários dias para consolidar o rescaldo da área ardida. Mas é já tempo de contabilizar prejuízos e pensar o futuro.

Eram 8h00 da manhã desta quinta-feira. O comandante operacional Carlos Tavares revelava que estava dominado desde as 7h41 o incêndio em Góis. No terreno, no entanto, permanecem todos os meios para evitar o perigo de reacendimentos e consolidar o rescaldo. Às 9h30, estavam no local 1213 homens, 433 viaturas e três meios aéreos.

“Vamos passar a consolidar o rescaldo. O perímetro é muito grande. Estamos a falar de um perímetro que atingiu três concelhos: Góis, Arganil e Pampilhosa da Serra. É uma extensão grande. Ainda não medimos a área, mas garantidamente rondará os 20 mil hectares”, revelou o comandante operacional.

Entretanto, em novo ponto de situação por parte da Proteção Civil, soube-se que as populações de 17 aldeias já foram recolocadas com segurança, faltando ainda dez lugares para redistribuir.

Em Pedrógão Grande, 1159 homens, 424 viaturas tentam travar em definitivo o lavrar das chamas e evitar que regressem ao terreno.

“Consolidar o perímetro vai levar alguns dias, provavelmente", sendo que "todo o efetivo" se mantém no terreno, disse o comandante operacional, António Ribeiro.

Os concelhos de Pedrógão Grande, distrito de Leiria, e Góis, em Coimbra, estão em risco elevado de incêndio, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, pelo que a atenção dos bombeiros terá de ser redobrada.Dez dias para contabilizar prejuízos
O tempo é ainda de combate, mas também para olhar as consequências. A Agência Espacial Europeia revelou uma imagem que dá uma ideia elucidativa da área ardida. A fotografia mostra, à esquerda, a mancha negra do incêndio de Pedrógão Grande, agora dominado, com um perímetro de 157 quilómetros.



Numa primeira estimativa feita esta quarta-feira, a GNR revelou que a área afetada em Pedrógão Grande ascendia a 30 mil hectares. Em Góis, terão sido 20 mil hectares.

Para o terreno deverão avançar entretanto as equipas que juntam elementos do Governos e das Câmaras Municipais. A constituição destas equipas, uma por concelho, foi decidida esta quarta-feira depois de uma reunião entre o ministro do Planeamento e das Infraestruturas e os autarcas das áreas afetadas.

A missão é fazer, “no prazo máximo de dez dias, até ao final da próxima semana o levantamento completo dos prejuízos e as medidas concretas para adotar no terreno", afirmou o ministro.

"Já começámos a ter no terreno apoios, do ponto de vista de reconstrução de estradas e caminhos. Estão a chegar rações de pecuária a partir de amanhã [quinta-feira]”, acrescentou.

O governante explicou ainda que a recuperação do potencial produtivo, do ponto de vista agrícola e das empresas tem que ser feito.

"Com certeza que têm que ser mobilizados os seguros, quer na habitação, quer na economia, mas esta é uma situação excecional. Vamos dizer presente e vamos apoiar a recuperação da vida destas comunidades", sustentou.

Ainda não foi feito o levantamento sobre a quantidade de casas ardidas. Há ainda pessoas a regressar só agora às suas casas, depois das localidades onde vivem terem sido evacuadas por precaução.

A Câmara de Pedrógão Grande está a realizar, até ao próximo domingo, um inventário das habitações afetadas pelo incêndio que lavrou no concelho, anunciou a autarquia.
Bombeiros a braços com danos
Em Pedrógão Grande, os bombeiros voluntários enfrentam dezenas de milhares de euros em prejuízos, entre danos mecânicos em viaturas e material de combate.

"Há muitos danos nas viaturas, mas é tudo recuperável", disse à agência Lusa o comandante Augusto Arnaut. Segundo o responsável da corporação, há "mangueiras queimadas" e "danos mecânicos" das viaturas pelo esforço que fazem durante o combate. Os bombeiros já receberam a garantia de que haverá apoio para recuperar os danos.

Na corporação de Figueiró dos Vinhos, outro dos concelhos afetados pelas chamas, não houve acidentes "nem carros queimados".Reforma da Floresta
É um problema que a cada novo incêndio reacende a polémica: a falta de ordenamento da floresta.

Os bombeiros voltam a colocar a tónica neste ponto. O comandante dos bombeiros voluntários de um dos concelhos fortemente afetados pelo incêndio que começou no sábado, em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, e que provocou pelo menos 64 mortos, considera que "o ordenamento da floresta é o essencial".

"As pessoas não aprendem", notou, recordando que já houve outros grandes incêndios no passado na região.

"Se tiver 100 hectares de floresta, em que tenho uma faixa de contenção de 30 ou 40 metros, eu sei que só me vão arder aqueles 50 hectares. É como fazem os espanhóis", disse à agência Lusa o comandante da corporação de Figueiró dos Vinhos, Paulo Renato, sublinhando que, queimando a outra parcela da floresta com uma estratégia de contrafogo, consegue-se estancar o avanço das chamas.

"Ninguém diz para se abrirem umas faixas. Nos próximos dez anos, ninguém tem nada para vender [de produtos florestais], mas também ninguém se vai preocupar em limpar", sublinhou Paulo Renato.

"A floresta está mal organizada. Se tiver vegetação com 15 metros de altura, tenho que ter uma área aberta de 30 metros, que é o dobro, e não há. Temos estradões com dez metros de largura, se a vegetação é maior, se a chama dobra, passa a estrada", explanou.

Reportagem de 19 de junho de 2017

O ministro da Agricultura assumia que a reorganização do terreno poderá levar décadas a realizar.Pacote Florestal no Parlamento
O pacote legislativo para a reforma da floresta está no Parlamento desde abril. Com a pressão de uma tragédia sem precedentes, com a morte de 64 pessoas num incêndio, foi agora decidido que a Assembleia da República vai votar até ao final da sessão legislativa, a 19 de julho, o pacote florestal do Governo e os projetos de lei do BE sobre o mesmo tema.

Até 23 de junho, para ouvir as entidades ligadas ao setor das florestas, será criado um Grupo de Trabalho na comissão, com representantes de todos os partidos, que recebe também as propostas de alteração às leis até 11 de julho.

Depois dessa data, a partir de 12 de julho, o trabalho faz-se em comissão para o debate e votação na especialidade das várias propostas, ficando para 19 de julho, último dia de votação antes de o parlamento fechar para férias, a votação final global dos diplomas.

O Governo aprovou, a 21 de março, um pacote de medidas para a floresta, apresentado pelo primeiro-ministro, António Costa, como uma "tarefa gigantesca" e para o qual o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pediu um "vastíssimo consenso nacional".

Reportagem de 21 de março de 2017

O Governo anunciava então que até 2020, a floresta iria ter uma dotação financeira de 550 milhões de euros.
pub