Pastorinhos de Fátima canonizados a 13 de maio

por RTP
O andor de Nossa Senhora durante a procissão das velas em Fátima Rafael Marchante - Lusa

A decisão foi oficializada esta manhã em consistório no Vaticano. As canonizações de crianças são raras na Igreja Católica e esta fará de Jacinta Marto a mais nova santa não-mártir da Igreja, com apenas nove anos.

Os pastorinhos Francisco e Jacinta, beatos, vão ser canonizados em Fátima a 13 de maio, quando se completam 100 anos da primeira aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria.

A decisão implica que os dois pastorinhos, Francisco e Jacinta, possam ser venerados nos altares do mundo inteiro e não apenas em determinados países.
 
A canonização irá decorrer na Missa durante a visita pastoral do Papa Francisco marcada para 12 e 13 de maio.

Francisco e Jacinta foram beatificados pelo papa João Paulo II, em Fátima, a 13 de maio de 2000. A sua canonização estava dependente do reconhecimento de um milagre, a cura de uma criança brasileira, em 2013, o que aconteceu a 23 de março.

A data e o local da canonização foram anunciadas no Consistório Ordinário Público para o voto sobre algumas Causas de Canonizações.

Mal se soube a notícia, começaram a repicar os sinos em Fátima e o reitor do Santuário, o padre Carlos Cabecinhas, dirigiu-se à Capelinha das Aparições, para rezar em ação de graças.

"Que esta canonização tenha lugar em Fátima torna-a, para nós, muito especial: porque é este Santuário que custodia as suas relíquias; é neste Santuário que estão os seus túmulos; muito especial porque escolher Fátima para este ato solene da Igreja universal é reconhecer a importância mundial de Fátima e é igualmente reconhecer Fátima como verdadeira `escola de santidade`", escreveu Carlos Cabecinhas, numa mensagem publicada na página de internet do Santuário.

Para o padre Carlos Cabecinhas este será um momento "muito especial", porque "a canonização dos dois mais jovens videntes de Fátima vem coroar a grande celebração do Centenário das Aparições".

No Santuário de Fátima a notícia foi recebida com emoção e alegria.

O bispo de Leiria-Fátima, António Marto, afirmou por seu lado numa mensagem vídeo que recebeu a notícia com "indizível alegria".

"É com indizível alegria que acabámos de receber a notícia de que a canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto será em Fátima, sob a presidência do Santo Padre, precisamente na data da primeira aparição em que os pastorinhos viram a Linda Senhora revestida de luz", disse.

António Marto acrescentou que "com a peregrinação do Santo Padre e com a canonização dos pastorinhos em simultâneo, pode-se dizer que o centenário atinge todo o seu esplendor".

Este é o culminar do processo iniciado pelo bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, a 30 de abril de 1952, um ano depois da trasladação dos restos mortais de Jacinta para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
A santa não-mártir mais nova da Igreja
Francisco e Jacinta Marto, irmãos e a sua prima Lúcia, alegaram ter visto Nossa Senhora "mais brilhante que o sol" na Cova da Iria no dia 13 de maio de 1917.

As crianças mantiveram-se firmes no que contavam apesar da repressão, tanto de autoridades civis como religiosas.

Ao longo de seis meses, entre maio e outubro, sucederam-se as aparições, quase sempre nos dias 13 de cada mês, culminando como o 'milagre do sol' testemunhado por milhares de pessoas e pedido por Lúcia como sinal de quem os três não estavam a mentir.

Francisco e Jacinta morreram de doença, ainda crianças.



As canonizações de crianças são raras na Igreja Católica e esta fará de Jacinta Marto a mais nova santa não-mártir da Igreja, com apenas nove anos.

O Papa Francisco tinha autorizado em finais de março um decreto da Congregação para a causa dos santos "sobre o milagre atribuído ao bem-aventurado Francisco Marto, nascido a 11 de junho de 1908 e morto a 4 de abril de 1919, e da bem-aventurada Jacinta Marto, nascida a 11 de março de 1910 e morta a 20 de fevereiro de 1920".
Modelos de vida e de oração
A canonização equivale ao reconhecimento oficial pela Igreja de que a vida de uma pessoa serve de modelo aos crentes. Deve para isso ser creditada com dois milagres, um pela sua beatificação e outro pela sua canonização, sinais tangíveis da sua proximidade com Deus.

Os dois pastorinhos são apresentados a partir de agora como modelo de vida e de oração para toda a Igreja, como recordou o padre Manuel Babosa, presidente de Conferência Episcopal Portuguesa à RTP.

Já Frei Bento Domingues lembrou que a exigência de milagres é relativamente recente na Igreja Católica e considerou que todos os crentes são chamados à santidade, sendo que esta canonização deverá ser sinal para aimportância das crianças em todo o mundo.

O Papa e os pastorinhos
Aura Miguel, jornalista da Rádio Renascença e vaticanista, explicou na RTP a importância da Igreja ter decidido canonizar Francisco e Jacinta no próprio Santuário de Fátima e não em Roma e entre outras canonizações como tem sido habitual.

Refere que foi o próprio Papa quem provavelmente quis dar destaque ao modelos de santidade das duas crianças.

Já Frei Fernando Ventura diz que Fátima "foi sempre lugar de conversão" e é esse o grande sinal do Santuário para o Homens.

Quanto à cerimónia de canonização vai ser "simples" e "grandiosa".

De acordo com a Lusa, na sua mensagem sobre a canonização, o bispo António Marto sublinhou que "este acontecimento é um grande dom para a nossa diocese de Leiria-Fátima, de onde são originais os pastorinhos, para o Santuário de Fátima, para a Igreja em Portugal e para a igreja Universal", disse também.

O bispo de Leiria-Fátima deixou ainda "uma palavra para todos aqueles que reconhecem nos pastorinhos um exemplo luminoso de um caminho de santidade através do Coração Imaculado de Maria que os conduz até Deus".

"Podemos dizer, como o saudoso padre Condor, que a santidade dos pastorinhos é um dos frutos mais belos da mensagem de Fátima. Convidava todos a deixar ecoar esta alegria no íntimo do seu coração, com o hino dos pastorinhos: Cantemos alegres a uma só voz, Francisco e Jacinta, rogai por nós".
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