Polícia espanhola investiga morte de Pedro Queiroz Pereira

por RTP
O jornal espanhol Diário de Ibiza avança que o empresário caiu nas escadas do iate e faleceu na noite de sábado Mário Cruz - Lusa

As autoridades espanholas estão a investigar a morte de Pedro Queiroz Pereira, dono da empresa de papel Navigator e da cimenteira Secil. O empresário português estava de férias em Ibiza e terá caído nas escadas do seu iate. As primeiras inquirições apontam para "um acidente fatal", mas a Polícia Nacional de Espanha abriu uma investigação.

O jornal espanhol Diário de Ibiza avança que o empresário caiu nas escadas do iate e faleceu na noite de sábado. O barco, com mais de 30 metros, estava atracado no porto de Ibiza.

"Segundo as primeiras investigações feitas pelos agentes da Polícia Nacional, tudo indica que o falecido sofreu uma queda numas escadas do iate que foi fatal. Embora haja poucas dúvidas sobre o que aconteceu, a delegacia (policial) de Ibiza abriu uma investigação para esclarecer o sucedido", avançou o jornal.

O diário deu conta das dificuldades em trasladar o corpo, tendo os bombeiros estado no local entre as 2h37 e as 3h40 de domingo (menos uma hora em Lisboa). Haverá lugar, nas próximas horas, a uma autópsia.

Marcelo Sobral, Rui Rufino - RTP

Pedro Queiroz Pereira, de 69 anos, era o sétimo homem mais rico do país. Segundo a Revista Exame, o empresário era detentor de uma fortuna avaliada em 779 milhões de euros em conjunto com a mãe.

O empresário era acionista maioritário do grupo Semapa, proprietário da papeleira Navigator, e da cimenteira Secil. Tinha também negócios na área do ambiente e da energia.

Além dos negócios, Pedro Queiroz Pereira chegou a ser piloto de competição. Neste domínio ficou conhecido como "PêQuêPê".
“Referência” e “adepto do fair-play”
A morte de Pedro Queiroz Pereira suscitou reações no meio empresarial português.

O Conselho de Administração da Semapa expressou "com muita tristeza, o seu mais profundo pesar" pela morte do “principal acionista do grupo e presidente do Conselho de Administração", de acordo com comunicado envido à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

Para a Semapa, o empresário foi "uma referência" no meio industrial, com "raras qualidades humanas e profissionais e um notável espírito empresarial". A empresa destaca "o estilo único de liderança" de Pedro Queiroz Pereira, que fez uma "gestão de rigor, que permitiu expandir e internacionalizar de forma sustentável" o grupo.

"Mais do que um património, Pedro Queiroz Pereira deixa (...) força numa estrutura empresarial (...), mas principalmente valores como coragem, independência, frontalidade e honestidade, com que sempre geriu as suas empresas e que deixa como legado a todos os mais de 6.000 colaboradores da Semapa e das suas participadas Navigator, Secil e ETSA", concluiu.

Já o Presidente da República lamentou “o prematuro desaparecimento desse grande industrial português", Pedro Queiroz Pereira.

Na página da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa "apresenta suas sentidas condolências à família de Pedro Queiroz Pereira".

O antigo primeiro-ministro Santana Lopes destaca a "visão cosmopolita" do empresário que "acrescentou valor" à economia portuguesa.

"Enquanto empresário de visão cosmopolita, acrescentou valor à economia portuguesa, criou emprego e contribuiu largamente para os resultados positivos das exportações nacionais", disse Santana Lopes numa nota enviada à comunicação social.

Para Santana Lopes, o legado do empresário "perdurará" por muito tempo. "Expresso muito pesar por tão grande perda".

Também o antigo banqueiro José Maria Ricciardi, amigo de Pedro Queiroz Pereira,  reagiu publicamente à morte do empresário.

"Queremos hoje saudar um homem criador de riqueza e de emprego, um amante do desporto, um homem atento à nossa comunidade", escreveu José Maria Ricciardi em mensagem enviada à agência Lusa.

Ricciardi sublinha que Pedro Queiroz Pereira foi "um grande adepto do fair-play em todas as circunstâncias", "um homem sério, um grande empresário português (e) um grande amigo".
Um dos maiores empresários do pós-25 de Abril
Pedro Queiroz Pereira recebeu o legado do pai, Manuel Queiroz Pereira, ampliou-o e deixou-o às suas três filhas. O pai acreditava na capacidade empreendedora do filho Pedro, que começou um negócio de café com 20 mil pés e chegou aos três milhões.

Administrador do Banco Comercial de Lisboa, Manuel Queiroz Pereira contribuiu para literalmente deitar abaixo a parede que separava o banco que liderava na Rua do Comércio do vizinho Banco Espírito Santo. Desde então, as duas famílias estiveram unidas em vários negócios e desavindas noutros.

Oriundo de uma das famílias mais ricas do Estado Novo, Pedro Queiroz Pereira foi após o 25 de Abril de 1974 viver para o Brasil, onde seguiu a paixão por conduzir. Foi praticante de Fórmula 2 e aí travou amizade com Ayrton Senna. Regressado do Brasil em 1987, desempenhou vários cargos nas empresas detidas pela família.

Em 1995, passou a exercer o cargo de presidente do Conselho de Administração na Secil e na Semapa e presidente executivo (CEO) da última - até julho de 2015.

Desde 2004, exerceu funções de presidente do Conselho de Administração da Navigator.

A 6 de novembro de 2009 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Empresarial - Classe do Mérito Industrial.

O nome de Pedro Queiroz Pereira é associado à tentativa de compra da Cimpor, através de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) hostil em conjunto com a suíça Holcim.

A OPA foi lançada em 2000, numa operação avaliada em 550 milhões de contos (mais de 2.500 milhões de euros), a qual acabou por perder. Acabou por ver a Cimpor entregue ao bloco da Teixeira Duarte, apoiada pelo Banco Comercial Português e pela Lafarge.

Em 2012, voltou a tentar o controlo da cimenteira, mas foram os brasileiros da Camargo Corrêa a ficar com o negócio. Chegou a chamar mentiroso ao então ministro das Finanças, Pina Moura. Os amigos garantem que sempre sentiu mágoa pela não concretização do negócio.

No âmbito destes processos começou o diferendo que o opôs a Ricardo Salgado e que terá contribuído para o colapso do Grupo Espírito Santo. Salgado sempre negou ter tentado controlar a Semapa, com a ajuda das irmãs Queiroz Pereira, Maude e Margarida, que venderam ao ex-banqueiro as suas posições na empresa.

O caso foi debatido na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES. Depois de considerar que Ricardo Salgado nunca defendeu as próprias irmãs, Pedro Queiroz Pereira declarou que o ex-banqueiro “tem um problema: não lida maravilhosamente com a verdade”.

Mais tarde admitiu não ter denunciado as práticas de Salgado por precisar de financiamento.

Na última entrevista ao semanário Expresso, publicada a 6 de fevereiro de 2016, ameaçou cancelar investimentos previstos para Portugal, na sequência da decisão do Governo de travar a expansão da área de eucalipto no país, no âmbito do acordo alcançado com o Partido Ecologista "Os Verdes".

Para investir em Portugal “temos de pensar duas vezes e enchermo-nos de coragem”, afirmou. No entanto, Pedro Queiroz Pereira não desistiu de criar novas fábricas. Em 2017, abriu as fábricas da Cacia e da Figueira da Foz, avaliadas em 200 milhões de euros.
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