Portugal pode avançar para confinamentos locais

por RTP
Pedro Nunes - Reuters

O Presidente da República admite que o país não desconfine todo à mesma velocidade. Na declaração de ontem, Marcelo Rebelo de Sousa não excluiu a possibilidade de se manterem confinamentos locais, para garantir um Verão e um Outono mais seguros. Uma ideia que já tinha sido admitida pelo ministro da Administração Interna no Parlamento durante o debate e votação da renovação do estado de emergência. Eduardo Cabrita frisou que o Governo vai adotar um justo equilíbrio entre desconfinamento e medidas restritivas.

Para o Presidente da República o desconfinamento deve manter o rumo mas recorda que o combate ainda não terminou.

Pedir-vos ainda mais um esforço. Para tornar impossível o termos de voltar atrás. Para que o estado de emergência caminhe para o fim. Para que o desconfinamento possa prosseguir sempre com a segurança de que o calendário das restrições e os confinamentos locais, se necessários, garantam um Verão e um Outono diferentes”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República já na semana passada tinha dito que desejava que esta fosse a última renovação do estado de emergência.

A possibilidade de o desconfinamento não avançar nos concelhos de maior risco não está descartada.

Marcelo Rebelo de Sousa voltou a defender que o desconfinamento “deve seguir o seu curso de forma gradual e sensata” e pediu prudência em todo o território nacional para evitar a subida de novas infeções agora que “os números estão estabilizados e a consequente pressão nas estruturas de saúde”.
Justo equilíbrio
Ontem, no Parlamento, o ministro da Administração Interna já tinha afirmado que o Governo vai adotar um justo equilíbrio entre desconfinamento e mediadas restritivas, ou de suspensão do processo de reabertura nas zonas mais atingidas pela pandemia de Covid-19.

O Governo não deixará, com base em toda a informação cientifica disponível até ao último momento de adotar aquilo que é o justo equilíbrio entre a vontade e a necessidade do desconfinamento e à absoluta determinação na adoção das medidas restritivas ou de eventual pausa suspensão deste nível de desconfinamento onde tal seja necessário”, afirmou Eduardo Cabrita.


Segundo o governante, o país tinha quando começou a desconfinar “cerca de quatro dezenas de municípios acima de 120 casos por 100 mil habitantes. Estamos hoje com 22, não devíamos ter nenhum”.
“Prudência a palavra de ordem”
Gustavo Tato Borges, da Associação de Médicos de Saúde Pública, defendeu em entrevista à RTP3, que “a prudência deve ser a palavra de ordem e deve estar no pensamento de quem decide dar ou não um passo em frente no desconfimanento”.

O especialista recorda que o índice de RT está a aumentar, o número de novos casos por semana está a aumentar. “Há uma previsão que dentro de duas, três, quatro semanas possamos atingir mais de 120 casos por 100 mil habitantes”.

Para Gustavo Tato Borges, “é preferível atrasar um pouco o próximo passo de desconfinamento, ou fazê-lo de uma forma faseada. Não dar o passo completo”.


“Mesmo a nível das escolas, repensar muito bem se vale a pena manter o ensino presencial ou não. O risco de aparecer um caso ainda é considerável. E havendo um caso da DGS recomenda que toda a turma vá para casa e toda a escola deve ser testada”, sublinhou. E recorda um caso no Algarve em que uma criança infetou 20 pessoas.

O médico acrescenta que devemos analisar este cenário “com muita calma, muita prudência”.

“E se dermos o passo do desconfinamento como está previsto. Estaremos a dar asas a que este aumento de casos, este princípio de descontrolo, que ainda não o é, mas é o princípio poderá tornar-se, de facto, descontrolado e teremos de voltar tudo atrás e voltar a confinar”, alertou.

Gustavo Tato Borges defende que “é preferível agora mais prudência, abrir pouca coisa, ou então não abrir nada. Ser muito mais cauteloso e não dar um passo maior que a perna”.

“Se eu estivesse num lugar de decisão, se calhar recomendaria que não se fizesse nada. Se parasse. E que se aguarda-se mais uma semana para ver se de facto os números estabilizam, se se desce. Se os concelhos que neste momento apresentam um índice elevado, ou surtos ativos os conseguem reduzir”, aconselhou.

Em relação à possibilidade de se avançar com confinamentos locais, o especialista frisa “que a grande dificuldade é que os concelhos com maior risco são concelhos com pouca população. E é muito fácil atingir valores de mais de 120 casos por 100 mil habitantes”.
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