Seca em Portugal. Governo pede "atitude preventiva" em ano "particularmente difícil"

por Andreia Martins - RTP
Miguel Vidal - Reuters

A Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca esteve reunida esta terça-feira para fazer um ponto de situação da seca em Portugal. Em conferência de imprensa, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, e o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, apelaram ao uso eficiente da água, numa altura em que 66 por cento do território nacional está em seca extrema e outros 33 por cento em seca severa. Pediram aos portugueses para que ponderem o consumo deste recurso e para que poupem “em todas as dimensões que seja possível poupar”.

“Apesar da situação grave, temos água salvaguardada para consumo humano para dois anos”. Esta foi a garantia dada pelo ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, na conferência de imprensa desta terça-feira em Lisboa. A Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca esteve reunida para fazer o “acompanhamento pormenorizado” da situação de seca no país.

No final da reunião, para lá das conclusões especializadas, Duarte Cordeiro resume: “Temos de nos habituar a viver com menos água”, e essa regra é válida “para todos os portugueses, independentemente da região”, acrescentou.

O ministro garantiu que a prioridade continua a ser “salvaguardar a água para consumo humano” e garantir a “hierarquia dos usos da água”. De resto, a comissão permanente para acompanhamento da situação tem reunido todos os meses e, de acordo com Duarte Cordeiro, decorrerá "no final deste mês, em Lisboa" uma reunião com as autoridades espanholas para averiguar “sobre o cumprimento de responsabilidades de cada uma das partes”.

Isto porque o país vive “uma das situações mais graves, talvez a mais grave desde 1931”, e por isso será necessária “estreita colaboração com Espanha”, que também vive um ano difícil ao nível de seca, apontou Duarte Cordeiro.Em conferência de imprensa, os ministros confirmaram que, nesta altura, 66 por cento do território nacional está em seca extrema e outros 33 por cento em seca severa. 

“Temos a situação controlada num ano particularmente difícil”, vincou o ministro. “Temos instrumentos e conhecimento para ultrapassar esta situação de seca”, acrescentou ainda, lembrando o investimento que já está a ser feito em Portugal para garantir a eficiência hídrica do Algarve, por via de fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

No sentido de alterar comportamentos e adotar uma atitude preventiva em relação aos recursos hídricos, Duarte Cordeiro apela não só aos municípios, mas também a todos os portugueses para que poupem “em todas as dimensões que seja possível poupar”.

De resto, o Governo adiantou, em resposta aos jornalistas, que as várias campanhas de sensibilização são dirigidas não só ao consumidor comum, mas também ao setor agricola e indústria.
Situação das barragens e albufeiras
Em particular sobre a situação da agricultura, a ministra Maria do Céu Antunes informou que, das 44 albufeiras monitorizadas, 37 albufeiras “apresentam níveis de armazenamento que asseguram a campanha de rega para 2022”, algo que só é possível devido aos “planos de contingência” aplicados e ao uso “criterioso” da água em certas geografias.

Por outro lado, há nesta altura sete barragens que apresentam limitações de forma a garantir o abastecimento público de água. São elas, as albufeiras de Arcossó e Vale de Madeiro, na região Norte, e da Bravura, Santa Clara, Campilhas, Fonte Serne e Monte da Rocha, no Algarve e Alentejo.

Na Bravura, a água está a ser utilizada sobretudo para abastecimento público. Em Santa Clara, no rio Mira, há grandes restrições ao nível da rega, o que tem grande impacto na agricultura local.

Também as albufeiras de Campilhas e do Alto Sado, assim como as duas barragens referidas na região Norte, há restrições no uso para rega de forma a garantir o abastecimento público.

No entanto, a ministra garante que “com uso eficiente da água e com as condições que foram criadas pelos planos de contingência, conseguimos assegurar a campanha de rega para 2022”, acrescentando que está também assegurado o abastecimento público, o abeberamento animal e as culturas permanentes.

Maria do Céu Antunes salientou ainda a necessidade de introduzir “mais tecnologia e conhecimento”. As alterações climáticas “fazem com que chova menos” e é necessário “ter um uso desta água, da pouca que temos”.

Nesse sentido, a ministra mencionou que o Governo terá mais quatro milhões de euros para disponibilizar aos agricultores, retirados do PRR, e ainda 12 milhões de euros do Programa de Desenvolvimento Rural 2020 para instalação de sistemas que permitam melhorar o uso da água por parte dos agricultores.
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