CDS insiste na demissão de Urbano de Sousa. PS segura ministra

por Carlos Santos Neves - RTP
O líder parlamentar do CDS-PP reiterou que a ministra da Administração Interna “já não tem condições para continuar no cargo” José Coelho - Lusa

Um dia depois de a ministra da Administração Interna ter reconhecido que houve “descoordenação no posto de comando” da Proteção Civil durante o incêndio de Pedrógão Grande, o CDS-PP veio renovar a exigência do afastamento de Constança Urbano de Sousa do Governo de António Costa. O PS atribui ao partido de Assunção Cristas uma estratégia que “procura a todo e qualquer custo retirar dividendos políticos” da calamidade.

O CDS-PP, afirmou esta quinta-feira o líder parlamentar do partido, avalia como “grave do ponto de vista político, um mês e meio depois da tragédia de Pedrógão Grande, que o país continue sem respostas claras e responsabilidades assumidas de forma clara do que realmente aconteceu e porque aconteceu”.

“O CDS já disse e infelizmente o tempo está-nos a dar razão de que senhora ministra não tem condições para continuar no cargo. Teimosamente o senhor primeiro-ministro mantém essa confiança”, acentuou Nuno Magalhães, que falava em conferência de imprensa na Assembleia da República.A partir de relatórios de diferentes entidades, a ministra da Administração Interna admitiu que houve “descoordenação no posto de comando da ANPC” na resposta ao incêndio de Pedrógão Grande, “em especial com os outros agentes de proteção civil”.


O dirigente centrista referia-se a declarações feitas na véspera por Constança Urbano de Sousa. A ministra admitiu que se verificou uma descoordenação no posto de comando da Proteção Civil durante o incêndio em Pedrógão Grande. Reconheceu também que o posicionamento deste posto não foi o ideal.

O CDS-PP não hesita em resumir as palavras da ministra como “acusações para quem comanda, processos disciplinares a quem comanda sem assumir qualquer tipo de responsabilidade, sem retirar daí conclusões”.

“A senhora ministra ontem foi uma espécie de comentadora e não uma ministra e isso é grave numa área tão sensível como a segurança”, carregou Nuno Magalhães.

Na perspetiva do CDS-PP a ministra, que no passado recente fez perguntas às entidades que tutela, passou “a fazer acusações a quem tutela”.

“A senhora ministra acusou tudo e todos, ANPC, PSP, GNR, bombeiros, Proteção Civil, Secretaria-Geral do MAI. É preciso dizer à senhora ministra que quem manda é a ministra da Administração Interna. Todos tiveram responsabilidades, todos não, a senhora ministra e o secretário de Estado pelos vistos acham que não tiveram de qualquer responsabilidade na falta de coordenação na falta de capacidade de reação de quem comandam”, concluiu o líder parlamentar democrata-cristão.

O CDS-PP pretende agora que a ministra preste esclarecimentos adicionais em sede de comissão parlamentar, o que deverá acontecer em setembro. Em particular sobre os relatórios conhecidos na quarta-feira.
“A todo e qualquer custo”

Em defesa da titular da pasta da Administração Interna saiu entretanto o deputado socialista Pedro Delgado Alves, que, também no Parlamento, acusou o CDS-PP de procurar “a todo e qualquer custo retirar dividendos políticos do que sucedeu há um mês”.

A ministra, sustentou Delgado Alves, “longe de fazer acusações como o líder parlamentar do CDS referia, longe de um passa-culpas, o que fez foi o que se esperava, foi a prestação de contas e a apresentação detalhada dos factos que até este momento estão apurados”.

“E, mais importante, a adoção de medidas que visam corrigir coisas identificadas como imperfeitas e que podem ser corrigidas no futuro”, acrescentou.
Fonte de São Bento, citada pela Lusa, adiantou que António Costa vai estar esta sexta-feira em Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos, onde visitará obras de reconstrução.
O deputado do PS listou o reforço da plataforma de comunicações, a formação de agentes no terreno, o anúncio de medidas de fiscalização do funcionamento do SIRESP.

Para Pedro Delgado Alves, o CDS-PP incorre numa contradição. “Está sempre a sublinhar que é necessário fazer o apuramento” e quando este tem lugar “vem queixar-se”, vincou o deputado.

“Há uma contradição insanável na ânsia absoluta em criticar o Governo. Mais do que resolver os problemas operacionais detetados, mais do que melhorar as comunicações e a capacidade operacional, o CDS está mais preocupado em marcar pontos”, rematou.
“A conta-gotas”
Também em declarações à Lusa, Nádia Piazza, responsável pela comissão instaladora da Associação de Apoio às Vítimas de Pedrógão Grande, questionou esta quinta-feira a disponibilização “a conta-gotas” de relatórios que são “todos parcelares”.

“O que importa é que no final tem que ser visto como um todo e por quem sabe e por quem deve, isto é, a Comissão Técnica Independente e o Ministério Público”, afirmou.

“Ruído vai haver. Vamos ter um agosto de relatórios, eu não sei é a quem interessa”, continuou a responsável.

“Não sei a quem é que aproveita em estarem a sair a conta-gotas. Ponho a questão de quem é que aproveita ou interessa, saírem os resultados parcelares a conta-gotas. E se, por um lado, todos temos direito de saber o seu conteúdo, por outro também representa mais ruído no processo de investigação que deve ser célere mas profundo”, reforçou.

Nádia Piazza considera desde já que “falhou o combate inicial”: “Foi uma falha gravíssima na fase inicial de combate ao fogo e não foram tomadas medidas preventivas. Alguma coisa falhou”.
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