CDS-PP abstém-se de questionar nomeação de Franquelim

por RTP
Cavaco Silva cumprimenta Franquelim Alves durante a tomada de posse de sete novos secretários de Estado, ocorrida na passada sexta-feira em Belém António Cotrim, Lusa

Contenção é a palavra de ordem no partido de Paulo Portas face à controvérsia em torno da nomeação de Franquelim Alves para a Secretaria de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação. Depois de a imprensa ter feito eco de sinais de incómodo, no CDS-PP, com a opção pelo antigo administrador da Sociedade Lusa de Negócios, a direção democrata-cristã difundiu na última noite um comunicado em que se abstém de “levantar uma questão que a justiça não levantou”. Ao mesmo tempo, sublinha que “não teve nem tinha que ter intervenção na escolha”.

“Quem, obviamente, se mostre indignado que o diga publicamente”. Foi com este repto que o ministro da Economia reagiu ao título que ocupou, no domingo, parte da primeira página do Diário de Notícias: “CDS indignado com secretário de Estado ligado ao BPN”.A polémica em redor do novo secretário de Estado do Empreendedorismo levou Marcelo Rebelo de Sousa a sustentar que Franquelim Alves deve aclarar na Assembleia da República a sua passagem, em 2008, pela Administração da Sociedade Lusa de Negócios, antiga detentora do Banco Português de Negócios.

“Deve responder a todas as dúvidas, pois quem não deve não teme”, afirmou ontem à noite o comentador político da TVI, durante o seu segmento semanal na estação de Queluz de Baixo.

Ressalvando ter ficado esclarecido, ele próprio, sobre o currículo de Franquelim Alves, após ter pedido informações, o antigo líder social-democrata não deixou de criticar o primeiro-ministro por ter “corrido o risco” de indigitar um nome “politicamente associado ao BPN”.


Na notícia em causa, uma fonte da direção dos parceiros do PSD no Governo questionava mesmo a escolha, “para integrar o elenco do Governo”, de “uma figura que esteve no centro do processo BPN – um caso de polícia, a grande polémica do regime que explica em muito o estado a que o país chegou, que subtraiu dinheiro a depositantes e acionistas”.

“É uma fonte”, desvalorizaria Álvaro Santos Pereira, já depois de assinalar que não viu “ninguém do CDS” a pôr em causa a nomeação de Franquelim Alves.

A culminar um fim de semana marcado por críticas severas da Oposição à nomeação do novo secretário de Estado do Empreendedorismo, António Carlos Monteiro, secretário-geral do CDS-PP, assinou entretanto um comunicado com o que será a posição oficial do partido. A direção de Paulo Portas, indica o texto remetido durante a noite à agência Lusa, abstém-se de “levantar uma questão que a justiça não levantou”.

“Não havendo notícia que o referido secretário de Estado tenha sido acusado ou penalizado nas averiguações feitas até hoje pelo Banco de Portugal e pelo Ministério Público à Sociedade Lusa de Negócios (SLN), não seria o CDS a levantar uma questão que a justiça não levantou”, sublinha o comunicado.

O secretário-geral do CDS-PP não deixa de enfatizar que, “em coligação, cada partido indica os seus elementos” e que a sua força política “não teve nem tinha que ter intervenção na escolha do secretário de Estado da Inovação e Empreendedorismo”.
“Tarda a explicação”

Álvaro Santos Pereira saiu em defesa de Franquelim Alves na tarde de domingo, manifestando “total confiança” no novo secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação. “Um profissional com mais de 43 anos de gestão que esteve sempre acima de todas as suspeições”, frisou o titular da pasta da Economia, que assumiu “a responsabilidade” pela escolha.

“Eu queria reiterar não só a minha total confiança no doutor Franquelim Alves, como também dizer que todas as nomeações de secretários de Estado são sujeitas a um processo de escrutínio e de ponderação muito profundo”, declarou o ministro aos jornalistas, em Coimbra.“É uma pessoa que já trabalhou quer na reestruturação da dívida pública nacional, quer como secretário de Estado num anterior governo”, disse Álvaro Santos Pereira sobre Franquelim Alves.



Santos Pereira diria ainda ser tempo de “dizer basta” a “insinuações e suspeitas que só servem para fazer baixa política”. E queixou-se do que qualificou como “um aproveitamento político inqualificável” para “jogos políticos mais obscuros”, num contra-ataque transversal a todos partidos da Oposição parlamentar.

Mas onde o ministro da Economia vislumbra “escrutínio e ponderação” a Oposição encontra razões de fundo para condenar a tomada de posse de um secretário de Estado que passou pela cúpula do BPN. Repetindo o que já dissera na véspera, António José Seguro vincou ontem que “o país está espera” de “uma explicação” por parte de Pedro Passos Coelho.

“Eu não percebo porque é que tarda esta explicação. É preciso que o primeiro-ministro explique aos portugueses porque é que fez esse convite e porque é que esse secretário de Estado faz parte do Governo”, apontou o secretário-geral do PS, após uma conferência do Laboratório de Ideias e Propostas para Portugal dos socialistas, em Sintra.
“O crime compensa”

Bloquistas e comunistas foram mais longe. No domingo, ao encerrar as jornadas autárquicas do BE, no Porto, João Semedo lançou mão do título do Diário de Notícias para exortar o CDS-PP a quebrar a aliança governativa com os social-democratas.

“O país está escandalizado e com razão. Vem hoje uma fonte anónima da direção do CDS dizer que estão escandalizados com a nomeação de Franquelim Alves. E é caso para dizer: estão escandalizados? Demitam-se. Saiam do Governo. Mas isso não o fazem”, instou o coordenador bloquista.

Semedo não poupou o Presidente da República, reprovando o facto de Cavaco Silva não ter travado a inclusão de um antigo responsável da SLN entre os sete novos secretário de Estado do XIX Governo Constitucional.

Ainda mais áspero, Jerónimo de Sousa considerara já um “escândalo” a opção por Franquelim Alves. E concluiu mesmo que, “para o Governo, o crime compensa”. “A nomeação de um personagem que foi administrador no BPN é bem o exemplo da natureza das opções ao serviço de quem está neste Governo”, verberava no sábado o secretário-geral do PCP, ao intervir num comício em Faro.

Considerando que Franquelim Alves não pode ser dissociado do “buraco” do Banco Português de Negócios, Jerónimo atirou: “Quando se esperava, naturalmente, que fossem responsabilizados por esse crime económico, aqui está. Este Governo de Passos Coelho elege, nomeia o senhor para secretário de Estado”.
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