Do BE ao CDS, todos contra a política de separação de crianças de Trump

por RTP
Jose Luis Gonzalez, Reuters

A constelação de nomes convocantes não podia ser mais improvável. Só um tema extraordinário podia juntá-los. Mas esse tema existe: é a política de Trump para separar as crianças das famílias migrantes. E, apesar do anúncio do Presidente americano da intenção de colocar um ponto final nesta medida, José Manuel Pureza, que convocou inicialmente a manifestação, fez saber que essa é mais uma razão para prosseguir com as acções de Lisboa e Porto: manter uma pressão que já apresenta resultados.

Entre os convocantes, incluem-se numerosos artistas, escritores, jornalistas e personalidades políticas do BE (José Manuel Pureza), do PS (Ana Benavente) e do PCP (António Filipe), à esquerda no Parlamento, mas também do PSD (o líder parlamentar, Fernando Negrão) e do CDS-PP (Ana Rita Bessa), à direita.

Em declarações à RTP, José Manuel Pureza confirmou que o recuo do presidente Trump em nada vai alterar o programa das manifestações desta quinta-feira, não estando sequer pensada a hipótese de cancelamento. Pelo contrário, sublinhou, a sua realização é fundamental para manter uma pressão social que já produz efeitos práticos. A mesma ideia foi deixada também na sua página de Facebook.



A convocatória, que pode ler-se na página de facebook criada para o evento, começa por denunciar "a existência de campos de detenção junto à fronteira entre os Estados Unidos e o México, onde pelo menos duas mil crianças imigrantes estariam encarceradas sem contacto com os seus pais e famílias".

Uma gravação com o choro desesperado das crianças fez nos últimos dias elevar o tom reprovador dirigido à Administração republicana.



Além das condições de detenção, sublinha-se ainda no comunicado, deixa de haver possibilidades "de reunião das crianças com as suas famílias, nem de contacto ou sequer de informação sobre o paradeiro de cada membro da família".

Esse foi, aliás, o elemento que numa primeira fase desencadeou a polémica relativamente à política colocada em prática por Trump em resposta aos fluxos migratórios para os Estados Unidos: o incapacidade da Administração de informar sobre o paradeiro de milhar e meio de crianças que tinham sido vítimas das medidas repressivas sobre as famílias recém-chegadas ao país.

Numa segunda fase, foi já toda a política de tolerância zero levada à prática pelo Presidente que mereceu uma censura que se estendeu a todo o planeta. Na última noite, foi ouvido na CNN o testemunho do advogado de emigração da própria primeira-dama, Melania Trump, dos seus pais e irmã, eles próprios emigrantes oriundos da Eslovénia.



Nas palavras de Michael Wildes, crítico da proibição de muçulmanos e há anos representante legal de Melania Trump, a resposta legislativa ao fluxo de emigrantes nos Estados Unidos foi levada longe demais, assumindo contornos de "desumanidade".

Michael Wildes, um antigo procurador e antigo mayor de Englewood (Nova Jérsia), fala de um tratamento reservado aos emigrantes com "reminiscências nazis do tráfico de pessoas e escravatura", defendendo que não existe esse estatuto de um ser humano ilegal face à presença continuada nos Estados Unidos, precisamente a situação dos pais da primeira-dama. Melania Trump já havia declarado que "detesta ver crianças serem separadas das suas famílias".

No mesmo sentido, as palavras o manifesto "Famílias Unidas, Não Divididas" classifica a situação como "um ato cruel e de flagrante violação de direitos humanos", com um comentário adicional sobre as condições de detenção "próximas da tortura". Trata-se, seguindo o comunicado, de uma "política desumana e indigna de qualquer sociedade civilizada e democrática".

O comunicado conclui com um apelo à participação na concentração, esta quinta-feira, às 19h, no Largo de Camões, em Lisboa, e na Praça Carlos Alberto, no Porto.
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