Eleições Europeias. PS, AD, Chega e CDU em debate

por Mariana Ribeiro Soares, Inês Moreira Santos - RTP
Foto: Pedro A. Pina - RTP

Marta Temido, do PS, Sebastião Bugalho, da AD, João Oliveira, da CDU, e António Tânger Corrêa, do Chega, estiveram esta noite na RTP para mais um debate para as eleições europeias, que se realizam a 9 de junho. Os resultados da primeira sondagem da Católica para a RTP, a guerra na Ucrânia e o crescimento da extrema-direita na Europa foram alguns dos temas que estiveram em cima da mesa neste frente-a-frente.

No debate desta terça-feira, moderado por Carlos Daniel, o primeiro assunto em cima da mesa foi a sondagem da Católica para a RTP, divulgada esta terça-feira, que aponta para um empate técnico entre AD e PS, com uma ligeira vantagem para a Aliança Democrática.

Questionada sobre estes resultados, a cabeça de lista do Partido Socialista para as eleições europeias disse não estar interessada em comentar sondagens e que o importante é “explicar a gravidade destas eleições”.

“Estas eleições são muito especiais e as mais significativas que tivemos nos últimos anos”, disse Marta Temido, destacando tópicos como a guerra na Ucrânia e a ameaça de forças extremistas no Parlamento Europeu.

Sebastião Bugalho, da AD, mostrou-se satisfeito com os resultados, afirmando que supera as suas expectativas. No entanto, ressalvou que “é só uma sondagem”.

“Nenhum de nós se apresenta a eleição para perder. O objetivo de todos é dar o nosso melhor. Acreditamos que temos a melhor a equipa possível. Estou satisfeito com a sondagem. Mas é só uma sondagem. Esta sondagem já supera as minhas expectativas”, afirmou.

António Tânger Corrêa, candidato do Chega, diz que “sondagens são sondagens”, e lembrou que o partido começou assim nas legislativas “e acabou de outra maneira”.

O cabeça de lista do Chega fez, de seguida, um paralelismo com a vela: “Já comecei muitas regatas atrás e acabei por vencer por larga margem e já tive muitas regatas em que eu larguei à frente e não as ganhei”.

Tânger Corrêa foi interpelado por Sebastião Bugalho, que lembrou que “para além do vento e do rumo, o que importa quando estamos a navegar é a bandeira que temos no topo do navio”. O cabeça de lista da AD questionou, de seguida, o cabeça de lista do Chega sobre as declarações de um membro da Alternativa para a Alemanha (AfD) que disse que ter feito parte das SS não é um crime.

“Revê-se nessa afirmação?”, questionou Bugalho. “Não “, respondeu Tânger, que recordou que Marine Le Pen cortou relações com a AfD.

João Oliveira, candidato da CDU às europeias, também desvalorizou as sondagens. “Não nos deixamos embalar pelas sondagens. Não nos entusiasmamos nem desanimamos”, declarou.
Crescimento da extrema-direita na Europa
Questionado sobre a possibilidade de suspensão de voto ou até de expulsão de um país, em determinado momento, por não cumprir os valores de adesão à União Europeia, o candidato da Aliança Democrática considerou que “expulsar um país” da UE só mesmo “num caso absolutamente limite”.

“Obviamente que há valores fundamentais dos quais não abdicamos, mas diria que a tolerância à divergência tem servido para fazermos um caminho em comum”, argumentou Sebastião Bugalho.

Dando como exemplo a resposta europeia à guerra na Ucrânia, o candidato afirmou que “seria impossível ter respondido à invasão russa (…) com divergências no seio da União Europeia”.

Contudo, isso também não pode inibir o bloco europeu de “manter a defesa da democracia, a defesa do Estado de Direito”.

Embora considere a expulsão de um país um caso “limite”, disse que a suspensão “esta prevista no tratado [europeu] por alguma razão”.

“Seria quase autofágico a Europa dividir-se por dentro em vez de se unir contra a guerra de Vladimir Putin”, continuou.

Neste momento, Sebastião Bugalho acredita que “temos de defender o Estado de Direito, temos de defender a Democracia, mas a coesão europeia é fundamental”.


“Continuaremos atentos, até porque parte desses critérios também serão os mesmos que também serão determinantes para o alargamento [da União Europeia]”, respondeu diretamente.

Já Marta Temido, questionada sobre como se pode lidar com o avanço da extrema-direita na Europa, começou por dizer “que o respeito pelos princípios do Estado de Direito é absolutamente essencial e não podemos condescender”.

Independentemente da aplicação das regras dos Estados-membros, continuou a candidata do Partido Socialista, “não podemos esquecer que há determinadas forças políticas que tendem a ter maior força no Parlamento Europeu e que defendem um conjunto de ideias que podem pôr em causa alguns princípios que são princípios europeus”.

Sobre as declarações recentes da presidente da Comissão Europeia que afirmou que estas eleições seriam também um combate entre as forças democráticas e as forças próximas de Putin, Marta Temido considerou que Ursula von der Leyen “não sabe de que lado vai ficar em relação a esse combate”.

E recordando a convenção do Vox, que aconteceu este fim de semana em Espanha, a candidata apontou ainda que Von der Leyen “admite parcerias” com forças políticas de extrema-direita.


“E isso preocupa-nos imensamente, porque é exatamente isso que está em jogo”.

Contrariando as declarações da opositora, Sebastião Bugalho afirmou que “se não fosse a Comissão e o esforço da presidente Ursula von der Leyen de manter a Europa unida, quando a Europa Continental foi invadida por um país externo chamado Rússia, (…) a Ucrânia já tinha sido derrotada”.

“Não podemos vir dizer que a senhora Von der Leyen está mais próxima daqueles que estão ao lado de Putin do que daqueles que estão ao lado da democracia”, respondeu ainda o candidato da AD às declarações de Marta Temido.

Quando questionado sobre se os valores do Chega se reveem nas declarações recente de André Ventura, que disse que a Europa não devia continuar a permitir a entrada massiva de imigrantes islâmicos e muçulmanos, António Tânger Corrêa começou por responder que caracterizar “sistemicamente” o Chega como um “partido de extrema-direita é profundamente errado”.

“O Chega é um partido com cinco anos que não se revê em ideologias caducas”, afirmou o candidato. “O Chega é um partido conservador e é um partido que não é de todo a favor de Putin”.


Apesar de garantir que o partido não é radical, António Tânger Corrêa não considera necessário mudar de família europeia. Contudo, não nega uma aproximação ao grupo da AfD e de Le Pen.

João Oliveira, por sua vez, considerou que o “perigo” de aumentar a “direita mais à direita” na Europa não é recente.

“Há um elemento muito óbvio relativamente a tudo isto: um ambiente de concorrência, de competição, de fraturas entre países, fraturas sociais dentro dos próprios países – o que não pode dar resultado de soluções democráticas mais robustas, abre espaço a soluções antidemocráticas”.

Para o candidato da CDU, este é “o caminho que tem sido feito nas últimas décadas e particularmente com o agravamento das injustiças e das desigualdades”.

João Oliveira apontou, ainda, uma “sã convivência da União Europeia com a extrema-direita”.

“O único combate que é verdadeiramente eficaz à extrema-direita é o aprofundamento da Democracia, é o respeito dos direitos sociais, é a garantia da igualdade e da democracia”.
Investimento na Defesa e guerra na Ucrânia
O terceiro tema em debate foi o investimento na Defesa e a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, com os candidatos a serem confrontados com a declaração de Gouveia e Melo quando disse que “se a Europa for atacada e a NATO nos exigir, vamos morrer onde tivermos de morrer para defender a Europa”.

Sebastião Bugalho frisou que tem “respeito” pelo Almirante, mas considera que “afirmações sobre o futuro da vida dos jovens dos portugueses, numa democracia, deve ser feitos por democratas eleitos por portugueses e não pelo chefe de Estado Maior da Armada.

Marta Temido considera que um eventual envio de tropas para o terreno “é admitir a escalada para uma guerra mundial” e pede, por isso, uma “grande prudência” neste tipo de declarações.


“Inequivocamente estaremos ao lado do povo ucraniano”, ressalvou a cabeça de lista do PS, deixando, no entanto, claro que se opõe ao envio de tropas.

Tânger Corrêa considera que a declaração de Gouveia e Melo “foi mais de intenções”, lembrando que Portugal “não tem ninguém para enviar para lado nenhum”.

“O desinvestimento da Defesa deixa-nos vulneráveis e desarmados perante qualquer tipo de ameaça”, disse o candidato do Chega, que apela a um maior investimento na Defesa.

“Pode ser uma PPP [parceria público-privada] ou várias em que os privados fazem parte do negócio e o Estado controla o fabrico e a distribuição”, sugeriu.

“Quero destoar deste coro de militarismo”, interveio João Oliveira, criticando o “ambiente de preparação para a guerra” que se está a gerar na Europa.

“Temos de interromper esse caminho que não serve a ninguém”, defendeu, afirmando que a Ucrânia “precisa de um cessar-fogo”. “É preciso trabalhar para a paz e não se trabalha para a paz enviando armas. Enviar armas para a Ucrânia significa continuar a fazer dos ucranianos carne para canhão”, considerou.

Sebastião Bugalho interrompeu, lembrando que “somos todos a favor da paz nesta mesa”. “Eu acredito nas suas boas intenções, mas não posso ignorar as péssimas consequências dessas intenções”, disse Bugalho ao cabeça de lista da CDU.

Marta Temido também criticou a posição do PCP, considerando-a “indefensável”. “Todos queremos o caminho para a paz, mas neste momento a posição do PCP é indefensável”, disse.


“Não podemos deixar de apoiar a Ucrânia”, defendeu a cabeça de lista dos socialistas. “Não podemos impor a paz quando a própria Ucrânia diz que quer a paz mas em determinadas condições. Tem de ser a Ucrânia a definir quais são as suas condições”, acrescentou.

Tânger Corrêa concordou com Marta Temido, considerando que “é a Ucrânia que deve fazer o roadmap”. “Mas esse roadmap tem de passar pelos valores que defendemos e levar a uma solução negociada em que ambos os lados estejam de acordo”, esclareceu.
Eurodeputados com prioridades nacionais e sociais
Os eurodeputados eleitos terão de integrar comissões no Parlamento Europeu e para Sebastião Bugalho assumiu ter “uma particular afeição pelos assuntos externos”.

“Temos como objetivo, num mundo em guerra, manter a Europa um continente de paz”, começou por explicar. “E de outro ponto de vista, a comissão dos assuntos constitucionais também por uma razão simples: pela questão do alargamento”.

Segundo o candidato da AD, o alargamento da UE “ é um imperativo estratégico” e “obrigará a Europa a refletir”.


Já Marta Temido quer integrar a comissão “em que for mais útil”. Recordando que as funções serão distribuídas pela equipa eleita, a candidata do PS não negou que a distribuição será “de acordo com aquilo que são as prioridades nacionais, do que as prioridades da pessoas”.

“Na nossa perspetiva, a principal prioridade é dos assuntos sociais e dentro dos assuntos sociais um tema muito concreto: Habitação e Jovens”, afirmou Marta Temido, que recordou que a questão da habitação é um problema geral dos países europeus.

“Como tal tem de haver um instrumento específico (…) para apoiar as políticas de habitação pública”, continuou.

João Oliveira, por seu lado, considerou que “a circunstância de estar numa comissão ou noutra” não impede o partido de “fazer um trabalho muito alargado, não só no Parlamento Europeu mas por todo o país”.

Quanto à moeda única, o candidato da CDU recordou que o partido tem a opinião de que “é preciso que o país se prepare para se libertar do euro, mas enquanto isso não acontecer há muita coisa para fazer”.

Já António Tânger Corrêa considerou que “Portugal tem sido muito mal tratado” na Europa, no que toca à agricultura ou às pescas, por exemplo.

E não esquecendo o tema da imigração, o candidato do Chega reafirmou que o partido é “contra o Pacto Migratório”, uma vez que o consideram um pacto que “impõe soluções atacando a soberania dos países”.

“Cada país deve lidar com as migrações com as características e competências e possibilidades que tem”, adiantou ainda o candidato.

Tânger Corrêa garante que o partido é europeísta, mas é “a favor de um maior controlo da Comissão, uma extensão dos poderes do Parlamento Europeu, uma extensão da visibilidade e da capacidade de decisão do Conselho”, isto é, “numa ótica de ter uma Europa mais fluida, menos federalista e mais próxima dos seus cidadãos”.

“Aí entra também a nossa luta contra a corrupção”, acrescentou. “Porque mina a Europa”.
pub