Governo minoritário? Pedro Nuno passa a exigir reciprocidade, Montenegro remete para as urnas
Em vésperas do tiro de partida para a campanha das legislativas, o cenário pós-eleitoral de um governo sem maioria absoluta no Parlamento sobressai no campo da batalha entre a Aliança Democrática e o Partido Socialista. Depois de ter admitido viabilizar um executivo minoritário da coligação adversária, Pedro Nuno Santos afirma agora que, sem reciprocidade, ficará “desobrigado” de tal posição. Luís Montenegro devolve que, afinal, se tratou de “uma conveniência para aquele momento”.
“Na segunda-feira disse que viabilizaria. Hoje já disse duas ou três coisas diferentes. É mesmo caso para dizer que aquilo que aconteceu segunda-feira não era uma convicção, era uma conveniência para aquele momento”, prosseguiu Luís Montenegro.
Na mesma linha, o número um da AD afirmaria ainda que “Pedro Nuno Santos quis dar uma de moderado e acabou por trazer ao de cima a sua imaturidade política e falta de preparação para poder dar credibilidade a um projeto governativo”. ”Eu quero ser muito claro. A questão fundamental é que quem vai viabilizar um governo da AD são os portugueses. Nós não estamos à espera de outra resposta”, vincou.
Durante o seu discurso, Montenegro quis também assinalar o facto de os socialistas terem governado em 22 dos últimos 28 anos – dos quais oito com maioria absoluta e seis com o apoio de PCP e Bloco de Esquerda em São Bento. Anos em que, na ótica do presidente dos social-democratas, se acentuaram os problemas nos domínios da habitação, da insegurança, da educação e da saúde.
“Tudo isso tem a responsabilidade de quem governou o país, de quem teve o poder nas mãos e não utilizou esse poder para ultrapassar estas dificuldades”, acusou.Também André Ventura veio entretanto instar Luís Montenegro a esclarecer o que pretende fazer em caso de vitória do PS sem maioria absoluta: se viabiliza um governo minoritário socialista ou se forma um governo de direita com o Chega.
“Nos últimos oito anos, foram inaugurados 32 hospitais no sector privado da saúde, ao mesmo tempo que foram inaugurados zero no setor público pela mão do Partido Socialista. Tanta vontade de diabolizar os quatro anos de recuperação da nossa autonomia e da nossa credibilidade – e naqueles quatro anos em que era difícil, em que nós não tínhamos capacidade de decisão, em que nós não tínhamos meios financeiros, em que não havia Plano de Recuperação e Resiliência, em que estávamos cercados por todo o lado, naqueles quatro anos fomos capazes de inaugurar sete novos hospitais”, apontaria o líder da coligação entre PSD, CDS-PP e PPM.
Socialistas “desobrigados” à falta de “reciprocidade”
Foi na antecâmara de uma iniciativa da CIP no Porto, na quarta-feira, que o secretário-geral do PS voltou ao cenário introduzido no frente a frente do início da semana. Pedro Nuno Santos afirmou, desta feita, que, “se não houver reciprocidade do PSD em viabilizar um governo minoritário do PS”, os socialistas sentir-se-ão “desobrigados” de proceder de igual modo face a um executivo análogo da AD.
Mais tarde, o líder dos socialistas procuraria aclarar que “o fundamental é exigir reciprocidade”.
“Exigimos e esperamos do PSD aquilo que garantimos ao PSD. O que queremos é que o PSD responda ao repto do PS”, emendou Pedro Nuno Santos, já depois de discursar no congresso da Confederação Empresarial de Portugal. Ainda segundo Pedro Nuno Santos, “um dos valores mais importantes da sociedade na relação entre pessoas e também na política é o da reciprocidade”. “O PSD não está disponível para garantir ao PS aquilo que o PS garantiu e, por isso, sentimo-nos desobrigados. Na realidade ninguém pode impor ou exigir ao PS que faça aquilo que o PSD não está disponível para fazer”, clamou Pedro Nuno Santos na sua intervenção inicial.
Apontando falta de clareza a Luís Montenegro, o líder do PS questionou-se sobre o que tal “significa sobre potenciais alianças que o PSD quer construir”.
“Esta é uma questão muito relevante. Por isso é que falo de estabilidade, o país precisa de estabilidade e nós temos condições para a garantir”, estimou, para acrescentar que a “estabilidade não é garantida” pela direita. “Por isso é que falava de bagunça”, justificou.
“E não é só porque não se entendem, porque o André Ventura quer Luís Montenegro e Luís Montenegro prefere Rui Rocha e ambos não querem André Ventura, mas porque a AD apresenta ao país um programa que é uma verdadeira aventura fiscal que corresponde a um buraco orçamental muito significativo”, sustentou, retomando um dos argumentos que levou para o debate de segunda-feira.
c/ Lusa
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