"Meteu-se num beco de onde não consegue sair". Oposição condena carta de Pedro Nuno Santos a Luís Montenegro

por Joana Raposo Santos - RTP
André Ventura expressou a vontade do seu partido em opor-se ao que considera um bloco central. Tiago Petinga - Lusa

Os partidos já começaram a reagir às palavras que Pedro Nuno Santos dirigiu esta segunda-feira a Luís Montenegro, numa carta na qual demonstra o "interesse" de "trabalhar em conjunto com o Governo". Rui Rocha acredita que o líder socialista quer fazer oposição ao PS de António Costa, enquanto André Ventura diz compreender a "ânsia do Partido Socialista", que se "meteu num beco de onde não consegue sair".

“Por um lado, quis ser disponível para mostrar que era o adulto na sala. Agora já percebeu que a AD lhe disse ‘então vais ter de ser tu a aprovar o Orçamento’ e, portanto, agora quer despachar a coisa em junho ou em julho, para não ter de aprovar o Orçamento do Estado”, declarou o presidente do Chega aos jornalistas.

“Este é um Governo do bloco central, praticamente. Já ficou claro isso na eleição do presidente da Assembleia [da República], ficou claro na tomada de posse, que o Governo escolheu o Partido Socialista como seu interlocutor, por isso eu vejo normal que agora escrevam cartas um ao outro e que falem sobre o que têm de fazer e como é que devem fazer”, afirmou.

André Ventura expressou, assim, a vontade do seu partido em opor-se ao que considera um bloco central. “Espero que PS e PSD criem essas condições de convergência para ser entenderem, e o Chega está na oposição e fará essa oposição de forma leal, firme”, assegurou.

Rui Rocha considera, por sua vez, que o PS de Pedro Nuno Santos está “empenhado em fazer oposição ao PS de António Costa”.

“É uma carta que deixa uma grande parte do país de fora, porque sim, nós também subscrevemos a necessidade de olhar para as carreiras dos profissionais de saúde do SNS”, dos polícias e dos professores, “mas eu pergunto: todo o outro Portugal que não está nesta carta não é também uma prioridade do PS?”, questionou o presidente da Iniciativa Liberal.
Questionado acerca da carta, o presidente da República disse estar segunda-feira que não comenta, em período eleitoral (com as eleições europeias marcadas para junho), questões “que são iniciativas partidárias – neste caso, do líder da oposição relativamente ao primeiro-ministro”.

“Não tenho nada a responder, ainda por cima num momento que é um momento importante, calmo e tranquilo que é acabar a preparação do programa do Governo e depois o debate”, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa.

A carta em questão, à qual a RTP teve acesso, refere os dossiers da Função Pública, nomeadamente os profissionais de saúde, polícias, oficiais de justiça e professores.

“Dirijo-me a si na sequência da disponibilidade por mim já publicamente manifestada, reiterando o interesse do Partido Socialista em trabalhar em conjunto com o Governo com o objetivo de construir um acordo que permita encontrar soluções, se necessário em sede de orçamento retificativo, para um conjunto de matérias sobre as quais existe um amplo consenso político e partidário, manifestado durante a campanha eleitoral para as últimas eleições legislativas”, escreve Pedro Nuno Santos na missiva.

“Estou certo de que será possível trabalhar no sentido de construir esse acordo num prazo de sessenta dias, por forma a resolver a situação destes profissionais da Administração Pública ainda antes do fim do período de funcionamento da Assembleia da República, em julho deste ano”, indica o socialista.

O primeiro-ministro já respondeu à carta de Pedro Nuno Santos, comprometendo-se a agendar "oportunamente uma reunião de trabalho" sobre a valorização de carreiras e salários na Administração Pública.
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