Otelo. Uma das muitas pessoas a quem devemos a liberdade - MNE

por Lusa

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, considerou hoje Otelo Saraiva de Carvalho "uma das muitas pessoas a que nós todos devemos a liberdade", num comentário à morte do Capitão de Abril.

Em declarações após participar, "como socialista e leitor do Porto", no lançamento da candidatura de Tiago Barbosa Ribeiro à liderança da Câmara do Porto, o governante disse que "O Governo lamenta o falecimento do coronel Otelo Saraiva de Carvalho".

"Como sabemos, ele foi o comandante operacional da ação militar do 25 de Abril de 1974. É, portanto, um dos capitães de Abril, embora nessa altura já fosse major, e é uma das muitas pessoas a que nós todos devemos a liberdade", acrescentou.

Neste "dia de tristeza", continuou, deve lembrar-se a "sua memória e a sua contribuição para que a mais longa ditadura da Europa, o Estado Novo, tivesse caído e a democracia se instaurasse em Portugal".

"Todos devemos recordar que foi ele, com a sua capacidade estratégica e operacional, que comandou a ação militar em 25 de Abril de 1974, que pôs fim à ditadura sem qualquer derramamento de sangue", recordou o ministro.

Lembrando que Otelo "costumava dizer que o 25 de Abril tinha sido o dia mais feliz da sua vida", Augusto Santos Silva enfatizou ser também por essa data que "mais merece ser lembrado".

"Como militar de Abril, depois da avaliação completa, isenta, distanciada no tempo, de tudo o que nós vamos fazendo, a História fá-lo-á no devido momento. A ele devemos o que somos hoje, uma democracia pluralista, europeia, civilista e um país que vive em paz e para o qual a ditadura é apenas uma memória de um tempo a que ninguém quer voltar", assinalou.

Otelo Saraiva de Carvalho, militar e estratego do 25 de Abril de 1974, morreu hoje de madrugada aos 84 anos, no Hospital Militar, em Lisboa.

Nascido em 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, atual Maputo, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.

No Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.

Depois do 25 de Abril, foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.

Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por dezenas de atentados e 14 mortos, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado cinco anos depois, uma decisão que levantou muita polémica na altura.

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