PSD e Iniciativa Liberal acusam Santos Silva de fazer campanha pelo PS

por Inês Moreira Santos - RTP
Nuno Patrício - RTP

Em reação à entrevista de Augusto Santos Silva à RTP3, o líder parlamentar do PSD instou o presidente da Assembleia da República a separar o papel de cidadão do de "agente político". Já Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, admitiu a "indignação" quanto às palavras de Santos Silva, mas sem "surpresa", acusando Santos Silva de vestir a "camisola do PS".

Sobre a situação política do país e em particular a Grande Entrevista a Augusto Santos Silva, o líder parlamentar do PSD começou por afirmar que “a declaração do primeiro-ministro no sábado foi manifestamente infeliz pela forma como tentou condicionar a justiça”.

“Mas a entrevista que o senhor presidente da Assembleia da República deu ontem também não foi particularmente feliz”, acrescentou Joaquim Miranda Sarmento, em declarações aos jornalistas no Parlamento.

Segundo o social-democrata, Santos Silva “representa o Parlamento, representa a diversidade de opiniões (…) e deve procurar preservar a instituição Parlamento, a sua credibilidade, o respeito que inspira a todos os portugueses”.

Nesse sentido, Miranda Sarmento considera que o presidente da Assembleia da República “não pode tentar condicionar ou pelo menos ter declarações que possam condicionar a atuação da Justiça”.

“O senhor presidente da Assembleia da República tem de ponderar se, de facto, consegue ser neste quatro meses que faltam até às eleições o garante da independência e de credibilidade que o lugar (…) impõe”, disse ainda, referindo a necessidade de Santos Siva avaliar a entrevista à RTP3 e não interferir “naquilo que é o processo eleitoral”.

“O cidadão Augusto Santos Silva tem todo o direito de participar no processo eleitoral e de ter opiniões. O presidente da Assembleia da República não o deve fazer”, continuou. “Se quer ser um agente político não pode ter os dois chapéus ao mesmo tempo”.

Miranda Sarmento, em resposta aos jornalistas, frisou ainda que se Santos Silva tem "muita vontade em fazer campanha" pelo Partido Socialista, deve "separar essa vontade das suas funções atuais" porque, caso contrário, "não terá independência para exercer o cargo".
Já Rui Rocha admitiu a "indignação" quanto às palavras de Santos Silva, mas sem "surpresa".

“A Iniciativa Liberal recebe estas declarações do presidente da Assembleia da República com indignação mas sem surpresa”, afirmou o presidente da IL.

Com indignação, explicou, porque o que Santos Silva “quer fazer (…) é ao mesmo tempo interferir de alguma maneira numa investigação judicial e discutir os problemas da Justiça”.

“No fundo, com diferentes abordagens, é a mesma coisa que a terceira figura do Estado fez (…) no sábado à noite”
, continuou, referindo-se ao primeiro-ministro.

Quanto à falta de surpresa, Rui Rocha disse que “é óbvia”.

“Neste mandato como presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva esteve sempre com a camisola do PS vestida”, apontou. “Agora parece que já não lhe basta estar com a camisola do PS vestida, está ainda dentro de uma fação do PS. E isso não é próprio de um presidente da Assembleia da República”.

Por isso, considera que “não há surpresa, é coerente”.
“Mas é de facto algo que não devia ter acontecido porque soma degradação das instituições à degradação das instituições que o próprio primeiro-ministro já tinha introduzido, se não antes, no sábado à noite nas declarações que teve”.

Para as eleições de 10 de março, continuou, “é preciso que se regenere a confiança nas instituições, que haja integridade nas instituições e integridade nas pessoas que as ocupam”.

Citando um “princípio liberal”, Rui Rocha pediu “separação de poderes e respeito entre os poderes”.
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