Relvas/Público: duas versões contraditórias na ERC

por RTP
A diretora do Publico reafirmou pressões "inaceitáveis" de Miguel Relvas Mario Cruz, Lusa

Miguel Relvas foi à ERC desmentir ter feito quaisquer ameaças de revelar dados pessoais da jornalista do Público, admitindo que a ameaça de deixar de ter contactos com o diário foi de facto feita mas a título pessoal. A diretora do matutino, contrariou o ministro e reiterou as pressões do ministro-adjunto as quais qualificou de “inaceitáveis.

Alterando a posição anteriormente por si assumida, o ministro-adjunto, Miguel, Relvas surpreendeu o país na passada quarta-feira ao anunciar a decisão de ir prestar declarações pessoalmente à Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), desistindo assim de as prestar por escrito como antes houvera afirmado.

Com a audição marcada para as 09h00 desta quinta-feira, Miguel Relvas apresentou-se no edifício da Av. 24 de julho, em Lisboa, para tentar esclarecer a polémica que tem preenchido as primeiras páginas dos jornais.

No final da audição – que durou cerca de uma hora e meia – o governante falou finalmente sobre o caso para fazer uma declaração onde explicou as razões que o haviam levado a “responder presencialmente à Entidade Reguladora para a Comunicação Social” e que se prendiam com a sua vontade em que “não existissem dúvidas, para que pudesse ser feito o contraditório e para que todas as questões sobre este caso pudessem ter resposta”. Depois dessa declaração, o político do PSD respondeu a três perguntas de outros tantos jornalistas.

Miguel Relvas garantiu que na audição “todas as questões foram esclarecidas” e explicou que se manteve “uma semana silencioso sobre todo este processo” por ser o seu entendimento que “só se deveria pronunciar” depois de ir à ERC.

Para o responsável governamental que tem a seu cargo a tutela da Comunicação Social na essência da questão está apenas e só o parco tempo exigido pelo jornal em causa [Público] para que respondesse a uma questão sobre o caso das secretas.

"Tenho o direito de exigir que me seja esclarecido porque me é dado 32 minutos para responder a uma pergunta sobre a qual não existe urgência, não é da atualidade, a meio da tarde de um jornal que não está encerrado, 24 horas depois de ter estado no Parlamento", alegou.

"Senti-me pressionado e foi nessa base que me insurgi junto da senhora editora de Política [Leonete Botelho] e da senhora diretora do Público [Bárbara Reis]", assinalou o ministro.

"Não houve da minha parte qualquer pressão, não houve acusações da vida pessoal, [que] é algo que repudio", sublinhou Miguel Relvas, depois de ter garantido nunca ter falado com a jornalista.

"Nunca fiz pressões, não conheço a jornalista em causa (...), não tenho conhecimento sobre aspetos da vida nem da senhora jornalista, nem de outros. Seria mau em Portugal se alguma vez isso acontecesse", disse, acrescentando que na conversa com a diretora afirmou o seguinte: "Continuando [o jornal] a ter um comportamento como este tenho o direito de apresentar uma queixa na Entidade Reguladora para a Comunicação Social, nos tribunais e de eu, pessoalmente, deixar de falar com o Público".
Versão contrária, reforça a diretora do Público
Se o ministro às 09h00 rejeitou perante a ERC quaisquer pressões sobre o jornal, às 11h00 era a vez da diretora do Público ser ouvida por aquele organismo regulador.

Numa reunião que durou mais de duas horas e meia, Bárbara Reis teve a oportunidade como afirmou aos jornalistas à saída da reunião de reafirmar tudo aquilo que a direção anteriormente havia declarado e manter a denúncia de que o ministro terá feito pressão de uma forma inaceitável”.

"Viemos aqui reiterar que o ministro Relvas fez pressão ao Público, que na sequência dessa pressão a direção entendeu protestar junto do ministro que essa pressão tinha sido inaceitável", adiantou.

Numa tentativa de esclarecer o tipo de pressões exercidas pelo responsável governamental, foram várias as questões dos jornalistas presentes sobre a exata dimensão das pressões ao que a diretora do Público respondeu: "O ministro disse à minha colega Leonete Botelho as quatro coisas que já foram tornadas públicas: que o ministro ia fazer uma queixa à ERC, aos tribunais, ia dizer a todos os ministros para não falarem com o Público e que ia revelar dados da vida privada da minha colega na Internet".

Já quanto aos dados que poderiam vir a ser revelados Bárbara Reis esclareceu que Miguel Relvas os tinha revelado no telefonema que lhe fez.

A jornalista que neste momento exerce o cargo de diretora do jornal, revelou ainda que no telefonema que efetuou na passada sexta-feira a Miguel Relvas este teria pedido desculpa à editora da política do jornal.

Referindo.se a este pedido de desculpas, Miguel Relvas tem uma outra versão. Não foi em relação ao conteúdo da conversa nem em relação a alegadas pressões ou ameaças mas antes ao tom que eventualmente posse ter usado na sua conversa com Bárbara Reis. "Na sexta-feira, quando a senhora diretora do Público ligou sobre o tom com que teria falado com a editora, eu disse-lhe que se fui indelicado peço desculpa, como fiz".

Bárbara Reis garantiu, no entanto, que as pressões do ministro-adjunto não intimidaram nem impediram a publicação do artigo em causa. "Em nenhum momento nos sentimos intimidados por pressões", disse explicando que a notícia em causa só não foi publicada porque "não tinha informação nova e relevante".

Esta posição vem corroborar a opinião expressa antes por Miguel Relvas que perante os membros da ERC havia dito que “a notícia não saiu, isso não é da minha responsabilidade. Não tenho que ver com questões internas de um órgão de comunicação social. Mas tenho o direito, em nome das minhas responsabilidades, do meu percurso e da minha vida, de não ser atacado e de me poder defender. Ao longo de 20 anos de vida pública tive relação com centenas de jornalistas e não é ao fim de 20 anos que aparecerá alguém, sem provas, sem factos, a dizer que eu pressionei. Quem me conhece sabe que não é a minha atitude”.

Da parte da tarde é ouvida a editora de política do Público, Leonete Botelho.
Partes poderão voltar a ser chamadas

Os esclarecimentos prestados por Miguel Relvas bem como pelos membros do diário da capital perante a Entidade Reguladora para a Comunicação Social poderão não ter dissipado todas as dúvidas.

Quem o revela é o presidente da ERC, Carlos Magno, que à saida da audição da editora política do Publico não descartou, antes pelo contrário, admitiu a possibilidade de voltar a pedir esclarecimentos aos intervenientes no caso que opõe o Ministro Miguel Relvas ao jornal Público, se o conselho da entidade supervisora assim o entender. 
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