Santana e Rio fecham debates a traçar cenários para as legislativas

por Cristina Sambado - RTP
O último debate antes das eleições diretas do próximo sábado para a liderança do PSD foi emitido pelas rádios Antena 1 e TSF Nuno Patrício - RTP

No derradeiro debate antes das eleições diretas no PSD, emitido pelas rádios Antena 1 e TSF, Pedro Santana Lopes voltou a garantir que “não viabiliza um Governo minoritário do PS”. Rui Rio propôs-se criar uma “geringonça mais à direita”, afirmando que o principal objetivo é “afastar o PCP e o Bloco de Esquerda da esfera do poder”.

Rui Rio perspetiva três desfechos possíveis para as próximas eleições legislativas. “O primeiro cenário é ganhar com maioria absoluta, maioria absoluta sozinho ou incluindo o CDS. O segundo é uma maioria relativa. E o terceiro é eles [Partido Socialista] com maioria relativa”.

“Então eu prefiro retirar o PCP e o Bloco de Esquerda da esfera do poder e pôr esse governo minoritário agarrado à Assembleia da República como um todo e não apenas ao Bloco de Esquerda e ao PC”, frisou.

O candidato afirma que, se “não conseguir a vitória sozinho ou com o CDS, então pelo menos que consiga tirar o Bloco de Esquerda e o PC da esfera do poder”.

Por seu lado, Pedro Santana Lopes garante que não viabiliza “um Governo minoritário do PS. Sempre fui e continuo a ser contra o Bloco Central. Essa é a minha posição desde 1983”.

“Porque considero um erro, os partidos principais irem juntos para o Governo”, afirmou.

Em relação à possibilidade de viabilização de um governo socialista, Santana Lopes defende que “espera que nunca aconteça. Nós vamos para ganhar. Qualquer líder que se candidate à chefia de um partido vai para ganhar”.

“Esperamos ganhar com maioria absoluta, vamos ver se sozinhos se em coligação. (…) A orientação é irmos sozinhos, idealmente o PPD/PSD concorrerá sozinho”, acrescentou.
Relação com Marcelo
Sobre as relações institucionais com o Presidente da República, Rui Rio acredita que será mais fácil, para Marcelo Rebelo de Sousa, lidar consigo do que com o adversário. Santana Lopes aconselhou Rio a “abrir um consultório de psicologia” depois as eleições diretas.

“Eu acho que ele não terá dificuldade nenhuma em lidar comigo. E até será mais fácil lidar comigo do que com o Pedro. Por uma razão muito simples, efetivamente nós somos diferentes, como eu tenho dito tenho uma postura mais sóbria. E até uma completariedade maior entre mim e o Professor Marcelo Rebelo de Sousa”, sublinhou o antigo presidente da Câmara do Porto.

Por seu lado, Pedro Santana Lopes considera que o Presidente da República tem de respeitar de igual modo a escolha dos militantes do PPD/PSD.

“Acho que o Rui depois desta candidatura pode abrir um consultório de psicologia. Que ele está cada vez mais especialista na matéria. Acho que ele tem de respeitar de igual modo. Era o que faltava que não fosse assim. O que eu quero é trabalhar bem com ele, com cordialidade institucional”, redarguiu Santana.

O ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa acredita que a fase em que Marcelo Rebelo de Sousa fazia mais de primeiro-ministro “passou”: “Acho que o Presidente da República dever ser sempre solidário institucionalmente com o Governo que está em funções, mas também de ser correto institucionalmente com a oposição. Não espero que lá por ele ser militante do PSD que ele me ajuda”.
Apoio a Marcelo?

Quanto à possibilidade de apoio a uma recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa nas eleições presidenciais em 2021, os dois candidatos são unânimes.

Rui Rio afirma que se em 2020, altura em que começam a surgir os eventuais candidatos a Belém, for líder do PSD, a “probabilidade é muito elevada, como é evidente”.

“Gostamos todos dos dois anos, ainda faltam três. Ainda falta ele querer ser e ainda falta eleger o líder do PSD que vai ter a responsabilidade de indicar apoio a um candidato”, frisou Rio.

Já Santana Lopes apresenta-se mais confiante e acredita que vai ser líder do PSD depois do próximo Congresso.

“Em 2020, os candidatos já estarão a correr. Se o Marcelo Rebelo de Sousa se recandidatar, deve ter o apoio do partido”, frisou. Revisão da Constituição
Os dois candidatos à liderança do PSD são favoráveis à alteração da Constituição. Pedro Santana Lopes a defender que tem de decorrer de forma serena e Rui Rio a afirmar que está disponível para avançar com várias propostas em diferentes áreas, do sistema político à justiça.

“Uma Constituição que não deixe executar um programa escolhido maioritariamente pelo povo, pensamos sempre dentro das balizas da democracia, não é uma Constituição verdadeiramente isenta”, afirmou Santana.

No entanto, o candidato à liderança do PSD afirma que a revisão Constitucional “não está nas prioridades da intervenção política que quero ter nos próximos anos. Eu não quero enquistar demasiado as questões do regime. (…) Eu sempre defendi os círculos uninominais. E continuo a dizer que gostaria imenso que eles existissem, porque acho que isso aproxima mais os eleitores”.

Já Rui Rio admite “fazer propostas”.

“No que quero para o sistema político, do que possa querer para a justiça, do que possa ter em diversas áreas. E daí decorrerá onde é que tem que se mexer na Constituição da República nessas ideias”, enumerou.

No entanto, defende uma Constituição "mais curta, mais simples e mais linear".
Entrevista de Relvas contagia debate
A entrevista de Miguel Relvas ao jornal Público, na qual o antigo ministro afirmou que o PSD está a eleger um líder para dois anos e acusou Rui Rio de passar um cheque em branco a António Costa, também marcou o debate. Os dois candidatos discordam do ex-número dois de Passos Coelho.

"Vamos ter um líder para dois anos, se ganhar as eleições continua, se não ganhar será posto em causa", disse Relvas numa entrevista em que aponta Luís Marques Mendes e Luís Montenegro como nomes para o futuro do partido.

"O Miguel Relvas dizer que o próximo líder é para dois anos é absolutamente inadmissível. (…). Não é antes das eleições estarem já a dizer, que o próximo líder é só para dois anos", considerou Rui Rio.

"Acho muito, muito mal essa declaração. O Miguel Relvas é apoiante do Pedro Santana Lopes e com isto está a dizer, na prática, ou que o Santana Lopes já perdeu, e portanto não se incomodem muito que é o meu adversário e vai ser por pouco, ou então, ganhe um ou ganhe outro, vai ser por pouco tempo. Eu acho isto o pior que se pode dizer e o pior que se pode fazer dentro do partido", acrescentou Rio.

O ex-presidente da Câmara do Porto considera que, se "o clima é este, já com as rasteiras e com isto e com aquilo, estamos mal. E se eu ganhar vamos estar mesmo muito mal, porque eu não vou admitir uma coisa destas".

Quando confrontado se vai pedir a expulsão de militantes, Rio afirmou "que não é necessário pedir a expulsão de militantes. Porque quando temos a razão do nosso lado os militantes dão-nos a razão e os outros ficam encurralados lá no cantinho".

"Eu sei fazer isto. Não ando nisto há tão poucos anos assim. Já vivi isto. No Porto também vivi isto. Deixe-me ganhar e vai ver como as coisas são. Uma coisa é as pessoas discordarem legitimamente, outra coisa é já andarem com truques ainda a eleição não se deu", acentuou.

Já Pedro Santana Lopes, a quem Miguel Relvas declarou o apoio, afirma que "não está de acordo" com as declarações do ex-ministro.

O ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia garante que não foi "empurrado" por Relvas para se candidatar à liderança do partido. "Nem por ele nem por ninguém. Decidi sozinho, nas planícies do Alentejo".

"Não acho nada adequado fazer considerações dessas neste momento. Acho que há que apoiar quem os militantes quiseram escolher. Cada um é livre de dizer aquilo que entende. Nós somos livres de fazer os nossos juízos", afirmou Santana.

"Eu peço é que todos contribuam para o novo ciclo em que o partido tem que entrar. Boa disposição, boa onda. Empenho, entrega ao PPD/PSD. E vamos lá ganhar", frisou.
Santa Casa e Joana Marques Vidal
O debate ficou ainda marcado pela entrada da Santa Casa da Misericórdia no capital do Montepio e a polémica em torno da recondução da Procuradora-geral da República.

Rui Rio é contra por o aumento de capital poder destinar-se a pagar imparidades, fazendo o paralelo com a sua oposição quando são os portugueses a pagar dos impostos os "erros da banca".

E aqui Rio apresentou Santana Lopes como "alma gémea" de Pedro Passos Coelho e de António Costa, líder do PS e primeiro-ministro, que "até está com ciúmes de não ter sido ele a meter a Santa Casa no sistema bancário".

Santana respondeu com ironia à atenção que é dada ao tema da Santa Casa e do Montepio: "As pessoas só querem saber das instituições quando as lidero".

Mais uma vez, Santana e Rio estiveram em campos opostos quando se falou da polémica em torno da recondução da atual procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, pelo Governo, depois de a ministra da Justiça ter dito entender que seria um mandato único.

Ora, Santana apontou a Rio e responsabilizou-o indiretamente por este assunto ter passado para a agenda política, depois de ter feito um balanço negativo da situação na justiça.

Para o ex-líder social-democrata, Rui Rio "fez uma avaliação negativa do Ministério Público no debate televisivo [na RTP] e mudou de posição no segundo".

"O Governo aproveitou essa deixa para vir com esta posição de a procuradora não continuar", acusou Santana, que fez "um apelo à normalidade", evitando-se o tema, quer pelo Governo quer pela oposição.

Esta posição de Pedro Santana Lopes surgiu após os dois candidatos terem sido questionados sobre se concordaram com o facto de o líder parlamentar do PSD ter usado o debate quinzenal para acusar o executivo de estar a condicionar o resto do mandato de Joana Marques Vidal.

Rui Rio não disse concordar com essa estratégia e acrescentou mesmo que não acompanha "nada daquilo que se está a passar", insistindo que, como disse o Presidente da República, este é "um não assunto".

O debate foi moderado pela editora de política da Antena 1, Maria Flor Pedroso, e o subdiretor da TSF, Anselmo Crespo. Foi o último confronto entre Santana Lopes e Rui Rio antes das eleições diretas. Um deles será eleito no próximo sábado presidente do PSD pelos cerca de 70 mil militantes.

O Congresso Nacional está marcado para 16, 17 e 18 de fevereiro em Lisboa.
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