Sócrates acusa Passos de estar "próximo da miséria moral" e de querer condicionar as eleições

por Sandra Salvado, RTP
Pedro A. Pina, RTP

Em carta enviada à imprensa, José Sócrates acusa Pedro Passos Coelho de um "cobarde ataque pessoal" que só "revela o seu caráter e o quanto está próximo da miséria moral". É a reação do ex-primeiro-ministro às declarações do sucessor nas jornadas parlamentares do PSD.

A resposta é dada numa carta de quatro parágrafos, a partir do Estabelecimento Prisional de Évora, e entregue ao Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF pelos advogados de Sócrates.

Na passada terça-feira, nas jornadas parlamentares do PSD, Pedro Passos Coelho disse que ninguém o poderá acusar de ter usado o lugar de primeiro-ministro para "ocultar, disfarçar ou esconder, evitar qualquer tratamento exatamente igual ao que qualquer outro cidadão teria".
Passos Coelho salientou ainda, sem nunca referir o nome de José Sócrates, que nunca o poderiam acusar de ter usado o cargo para "enriquecer, para prestar favores ou para viver fora das suas possibilidades", ou que "tivesse nomeado alguém por favor ou que tivesse andado a traficar influências ou a pressionar senhores jornalistas para que certas notícias apareçam ou não apareçam".
"Forma desprezível de fazer política"
Foram estas declarações que José Sócrates considerou serem um ataque direto. Para o antigo líder socialista, o processo em que está envolvido está a ser usado por Pedro Passos Coelho como arma política.

“Esta forma desprezível de fazer política diz tudo sobre quem a utiliza. Ao atacar um adversário político que está na prisão a defender-se de imputações injustas, o senhor primeiro-ministro não se limita a confirmar que não é um cidadão perfeito, antes revela o seu carácter e o quanto está próximo da miséria moral”, pode ler-se na carta.

“A perseguição política e a tentativa de condicionamento do resultado das próximas eleições ficou agora clara aos olhos dos portugueses”.
"Nada foi dado como provado"
“Não enriqueci nem beneficiei ninguém enquanto exerci o cargo de primeiro-ministro. Naturalmente, não espero que o senhor primeiro-ministro, para quem manifestamente vale tudo, compreenda o valor da presunção de José Sócrates está preso preventivamente desde 25 de novembro de 2014 e é suspeito dos crimes de fraude fiscal qualificada, corrupção e branqueamento de capitais.inocência num Estado de Direito, a extrema importância do respeito pelo princípio da separação de poderes e muito menos que entenda que, no meu caso, não só ainda nada foi dado como provado como não foi sequer deduzida qualquer acusação”, salienta Sócrates na mesma carta.

“Em vez de atirar lama para cima dos outros, o senhor primeiro-ministro faria melhor em explicar aos portugueses se ele próprio cumpriu ou não cumpriu a lei. Pela minha parte, é o que tenho feito. Em nome da verdade é o que continuarei a fazer”, concluiu o ex-primeiro-ministro.

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