Poder grego muda de mãos. Centeno pede responsabilidade

por Carlos Santos Neves - RTP
Mário Centeno na abertura da reunião do Eurogrupo em Bruxelas Olivier Hoslet - EPA

Mário Centeno chegou esta segunda-feira à reunião dos ministros das Finanças da Zona Euro, em Bruxelas, a apelar aos conservadores da Nova Democracia, vencedores das legislativas na Grécia, para que façam uma gestão das contas públicas com “responsabilidade”. O presidente do Eurogrupo lembrou os anos dos pacotes de resgate financeiro como a “mais traumática de todas as experiências vividas na Europa nos últimos anos”.

“Não podemos esquecer que ontem houve eleições na Grécia. O novo governo começará hoje mesmo a ser formado e tomará posse entre hoje e amanhã, o que significa que num futuro próximo vamos voltar a esta questão já com o novo governo”, começou por apontar o ministro português das Finanças.

Os desempenhos orçamental e económico da Grécia foram temas integrados na agenda da reunião desta segunda-feira do fórum ministerial da moeda única – em particular, a forma como Atenas tem vindo a implementar as reformas impostas ao país.Sobre a situação política interna, Mário Centeno defendeu a necessidade de os partidos apresentarem alternativas credíveis, uma exigência que é agora maior dos que há alguns anos.


Questionado sobre a vitória da Nova Democracia, de Kyriakos Mitsotakis, nas legislativas de domingo, o presidente do Eurogrupo quis fazer notar que a Zona Euro funciona hoje de “uma forma muito diferente do que funcionava antes da grande crise de 2007 e 2008 e depois das crises da dívida soberana seguintes”. Os países do euro, continuou Centeno, ficaram desde então cientes da “importância de ter um processo de política económica, em particular de política orçamental, credível”.

“Foi seguramente a mais traumática de todas as experiências vividas nos últimos na Europa, foi o maior conjunto de pacotes de ajuda externa alguma vez desenhados no mundo e na História. É muito importante ter a noção disso e da responsabilidade que isso coloca seguramente no novo Governo grego”, frisou o governante.

“Ninguém quer voltar a experienciar o que foram aqueles anos e aqueles dias de ajuda económica”, rematou.

A Grécia mantém-se debaixo de um modelo de “vigilância reforçada”, com avaliações a cada três meses. O país foi submetido a três pacotes sucessivos de austeridade. O último foi concluído a 20 de agosto do ano passado. Portugal, Irlanda, Espanha e Chipre foram os demais países intervencionados – com programas de diferentes alcances - a partir de 2010.

Kyriakos Mitsotakis, que bateu o Syriza do até agora primeiro-ministro Alexis Tsipras, somando perto de 40 por cento dos votos, foi já investido no Palácio Presidencial da capital grega. O rosto do partido conservador grego renovou o compromisso de baixar a carga fiscal e reduzir a burocracia, numa tentativa de chamar investimento ao país.
Espanha e Itália

Centeno referiu-se também aos casos de Espanha e Itália – o primeiro país saiu do Procedimento por Défice Excessivo (PDE) e o segundo evitou o mesmo destino.

“Espanha saiu há poucas semanas do Procedimento por Défice Excessivo, era o último país que tinha esse procedimento ativo. São excelentes notícias para Espanha, as suas contas públicas e para a área do euro, porque significa que desde esse momento não há nenhum país em procedimento”, destacou.

“Igualmente boas são as notícias sobre Itália, porque não vai ser aberto um Procedimento por Défice Excessivo com base na dívida. Isto revela que os indicadores de Itália estão a melhorar, assim como a situação económica, mas particularmente pelos compromissos assumidos pelo Governo de ter valores de execução orçamental em linha com o que tinha sido acordado no ano passado”, acrescentou o ministro português.

Mário Centeno manifestou, em seguida, a expectativa de recolher, por parte do Governo de Roma, “o compromisso para que esta linha de atuação se mantenha ao longo do ano e que os anos da execução de 2019 sejam também transportados para 2020”.

“Depois, com os níveis de dívida, em particular de dívida pública, que a economia italiana comporta hoje, é absolutamente essencial garantir que a trajetória de redução da dívida que foi iniciada há muito pouco tempo em Itália não seja posta em causa e que isso permita alavancar o crescimento e a redução da despesa em juros que a Itália tem e é muito significativa”, enfatizaria ainda.

O Ecofin, que reúne os ministros das Finanças dos países-membros da União Europeia, fechou o PDE de Espanha a 14 de junho deste ano, ao ratificar a recomendação da Comissão Europeia nesse sentido. No passado dia 3 de julho, suspendeu o PDE a Itália, face ao Orçamento apresentado pelo Governo transalpino.

c/ agências
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