FBI e CIA abrem inquérito à fuga de documentos da WikiLeaks

por Sandra Salvado - RTP
Larry-Downing - Reuters

As agências norte-americanas FBI e CIA anunciaram uma investigação criminal conjunta sobre a fuga de documentos esta semana divulgada pela WikiLeaks. Pretende-se agora apurar se a denúncia partiu de dentro ou fora da agência. Várias empresas de tecnologia cujos produtos foram alegadamente comprometidos pela CIA reagiram à fuga de informação.

Tanto a CIA como o FBI, ou mesmo a Casa Branca, recusaram-se a confirmar oficialmente a autenticidade dos documentos divulgados.

Contudo, um porta-voz da Agência Central de Informações disse esta quinta-feira à BBC que "os americanos devem estar profundamente preocupados com qualquer divulgação da WikiLeaks que tenha como objetivo danificar as capacidades da comunidade de serviços de informação para proteger a América dos terroristas e de outros adversários".

"Estas revelações não só comprometem o pessoal e as operações dos EUA, mas também equipam os nossos adversários com instrumentos e informações para nos prejudicar”, acrescentou.

Ainda não se sabe se os documentos em questão, datados entre 2013 e 2016, são verdadeiros. No entanto, existem preocupações quanto ao facto de terem sido publicados, a começar por antigos diretores da CIA.

A WikiLeaks não revelou a fonte que forneceu os documentos, adiantando apenas que esta coleção, a que chamou de Vault 7, é apenas a primeira a ser libertada, contendo 7.818 páginas web e 943 anexos do vasto arquivo da CIA, que conterá centenas de milhões de linhas de códigos informáticos.


"Se o que eu li é verdade, então parece-me que esta é uma delação incrivelmente prejudicial em termos de táticas, técnicas, procedimentos e ferramentas que estão a ser usadas pela CIA para recolher informações estrangeiras legítimas", revelou à BBC Michael Hayden, número um da agência entre 2006 e 2009.

"Por outras palavras, tornou o meu país e os amigos do meu país menos seguros”, concluiu este responsável.

Também o diretor do FBI, James Comey, argumentou, numa conferência sobre cibersegurança em Boston, que "todos nós temos expectativas razoáveis de privacidade nas nossas casas, nos nossos carros, nos nossos aparelhos eletrónicos, mas com boas razões os tribunais, o governo, as agências de segurança, podem invadir os nossos espaços privados”.


James Comey, diretor do FBI

Num discurso dirigido a agentes das forças de segurança e a gestores de empresas, citado pela agência Reuters, Comey disse ainda que o FBI está a rever o foco sobre os desafios colocados pela encriptação, considerando que deverá ser encontrado um equilíbrio entre os interesses privados e a necessidade dos serviços federais de investigação criminal acederem à informação.

Várias das empresas de tecnologia cujos produtos foram alegadamente comprometidos pela CIA reagiram esta quinta-feira à fuga de informação. "A tecnologia atualmente incorporada nos iPhones representa a melhor segurança de dados disponível para os consumidores e estamos constantemente a trabalhar para que assim seja", garantiu a Apple em comunicado.

Eduardo Munoz - Reuters

A Samsung também já se pronunciou sobre o assunto: "Proteger a privacidade dos consumidores e a segurança dos nossos aparelhos é uma das principais prioridades da Samsung", disse a empresa cuja série de televisões F8000 terá sido exposta a riscos pelos mais recentes programas de ciberespionagem.

Nos documentos é ainda revelado que a CIA terá criado um tipo de malware para aceder a computadores que operam o sistema Windows. A Microsoft já veio dizer que "Estamos cientes da delação e a investigar o seu conteúdo", não adiantando para já mais pormenores.

A Google não quis comentar as alegações de que a agência conseguiu controlar telefones Android, assim como a Linux Foundation que não se pronunciou sobre o caso.
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