VIII Festival Internacional de Piano de Oeiras
Recital Inaugural com Teresa da Palma Pereira26 nov. 2025
Este recital começa com a dança de Lully, numa transcrição para piano da famosa "Gavotte en Rondeau", atribuida ao compositor barroco francês, eternizada pela popular versão do violinista Willy Burmester.Segue-se o Rondo em ré Maior de Mozart, pequena obra-prima dançante em que Mozart expõe, de forma brilhante, a leveza, jovial virtuosismo e as súbitas mudanças emocionais tão características do estilo do compositor, bem como belas texturas orquestrais que enriquecem a sua escrita para teclado.Estas qualidades terão inspirado de forma profunda o romântico F.Chopin, que espelha esta mesma leveza e graciosidade ao serviço da fantasia e lirismo, no magnífico estudo op. 25, n. 1.O programa continua com o igualmente lírico, introspectivo e comovente noturno op. 27, n. 2. Composto em 1836, faz parte do monumental conjunto de noturnos que define, como mais nenhuma obra, o estilo de Chopin. Tendo como modelo os noturnos do compositor irlandês John Field, estas obras apresentam uma magistral combinação de perfeição e belcanto de influência mozartiana e fluidez formal, liberdade rítmica e imaginação poética presentes na alma improvisatória do génio polaco.A imaginação poética de Chopin condensa-se sobretudo nos breves momentos, como o famoso prelúdio n. 8, em que se transmuta em emoção à flor da pele. A angústia emocional dá lugar ao puro exercício de cor, texturas e imaginação sonora no estudo op. 25, n. 6, em que Chopin explora uma técnica inovadora ao serviço de um universo criativo único.A emoção revela-se mais ligeira e volátil na elegante e, ao mesmo tempo, surpreendente valsa em mi menor.Chopin atinge a máxima ligeireza no gracioso e desafiador estudo op. 10, n. 2 em que, mais uma vez, revoluciona a técnica pianística tal como ela era entendida nas décadas anteriores.F. Liszt foi também um transformador da técnica pianística. A peça "Au board d´une source", parte do 1º livro dos "Années de Pelegrinage", caracteriza-se pela mesma leveza etérea do estudo op 10, n. 2 de Chopin. Aqui, no entanto, a ligeireza da técnica é combinada, de forma requintada, com a subtileza das harmonias, jogos de pedal e exploração do registo mais agudo do piano, de modo a contar uma história ou, na verdade, apenas descrever a alegria espontânea pela contemplação da frescura da água de uma nascente.Se o piano de Chopin tem, mais do que nenhum outro, uma alma apaixonada, a paixão romântica torna-se amor místico e idealizado nos sonetos de Petrarca de Liszt. Hoje, escutaremos o Soneto de Petrarca n. 123, uma das três peças, pertencentes ao 2º livro dos Années de Pelegrinage, em que Liszt transformou os versos do famoso poeta italiano em imperscrutável narrativa de amor ao piano, naquilo que parecem longas improvisações vindas diretamente do coração.O engenho técnico de Liszt traduz-se em peças como "Au board d´une source" mas também naquela que é a obra, por excelência, em que tentou explorar até ao limite esta faceta, os Estudos de Execução Transcendental, dos quais o mais célebre é o n. 4,"Mazeppa".Em "Mazeppa", o espírito apaixonado expressa-se pela intensidade e força utilizadas para ilustrar esta história de paixão, luta e sobrevivência do herói polaco do poema de Victor Hugo.A paixão ganha contornos diferentes quando se ouve como eco da tradição popular, neste caso a tradição flamenca espanhola, com o incontornável J. Turina que trouxe para o piano os ritmos das danças ciganas, como em "Sacromonte".Ritmo e dança juntam-se para contar uma história de paixão trágica na ópera "A Vida Breve" de M. de Falla, da qual escutaremos a Danza Espanola n. 1, na sua versão para piano.Segue-se a canção à qual pertencem os versos que iniciam este texto, a "Cancion del Fuego Fatuo", parte do bailado "Amor Brujo", em que Falla revela, por intermédio do canto cigano a intensidade apaixonada que permeia grande parte das suas