MARIA DE LOURDES RESENDE E ANTÓNIO CALVÁRIO por João Carlos Callixto

1962 - "A Terra"

Hoje o “Gramofone” viaja no tempo 56 anos, para aterrar numa terra do Portugal interior e comandada pelas vozes então bem populares de Maria de Lourdes Resende e António Calvário. Com a guerra de África iniciada há cerca de um ano, em Março de 1961, não é de estranhar que a letra da canção “A Terra” a ela se refira, ainda que de forma menos directa e numa perspectiva de aceitação passiva do conflito: "se for preciso / dar a minha vida / irei com um sorriso / a luta é bem-vinda / pela terra de meu pai e minha mãe”. Também a emigração é aludida, ao falar-se em “por toda a parte andei e sofri”.

Os próprios valores “tradicionais” da família acabam por estar representados ainda a nível vocal nesta canção, já que para além dos dois cantores referidos está a pequena Maria Zé - que na mesma altura participa também no disco “Para a Mamã”, ao lado ainda de Mara Abrantes e de Maria de Fátima Bravo. Esta última cantora, que se tinha estreado a solo em 1958 com o popular “Vocês Sabem Lá”, teve também um disco partilhado com António Calvário, em 1961, com canções do 3º Festival da Canção Portuguesa, na Figueira da Foz.

O disco com “A Terra” foi uma edição da Valentim de Carvalho e sucedia a outros de parceria entre António Calvário e Maria de Lourdes Resende – o enorme sucesso “O Papá e a Mamã”, em 1960, e “Carnaval do Estoril”, em 1961. Tal como a primeira destas canções, também “A Terra” era uma versão de uma canção francesa, popularizada por Georges Guétary, e que conheceu letra portuguesa através da parceria António Manuel Couto Viana e João Belchior Viegas. O maestro Joaquim Luiz Gomes foi o responsável pelos arranjos do disco, que tinha ainda duas outras versões e um original do também maestro Belo Marques.

O videoclip então transmitido pela RTP foi feito em parceria com a Valentim de Carvalho, que continuou a trabalhar com ambos os cantores durante alguns anos mais. Não mais fariam duetos em disco, no entanto, depois deste em “A Terra”, de 1962.