ORQUESTRA LIGEIRA E CORO FEMININO DA EMISSORA NACIONAL - TAVARES BELO (DIRECÇÃO) por João Carlos Callixto

1965 - "Diálogo em Swing"

As linguagens jazz exerceram um grande fascínio sobre muitos músicos portugueses ao longo do século XX. No entanto, ou por vicissitudes da indústria musical ou por uma questão de um grande eclectismo por parte desses músicos, muitas vezes os caminhos trilhados nem sempre puseram esse género musical em primeiro plano. O músico em destaque no “Gramofone” de hoje, Armando Tavares Belo, nascido em Faro em 1911, foi um dos pioneiros do jazz entre nós e formou o seu próprio Conjunto nos anos 40. Nele militavam Fernando Albuquerque (trompete), Domingos Vilaça (clarinete), Marques Dias (saxofone tenor), Esteves Graça (trombone), Rafael Couto (contrabaixo) e Artur Machado (bateria), cabendo ocasionalmente a João Andrade Santos o lugar de pianista em vez do próprio Tavares Belo.

Depois de primeiros contactos profissionais com a Emissora Nacional ainda na década de 1930, Tavares Belo é admitido como funcionário em 1946, cabendo-lhe as funções de maestro e director da Orquestra Ligeira. Ocuparia este posto até 1982, nuns estóicos 36 anos que atravessam grande parte do Estado Novo e quase uma década já no Portugal democrático. Em disco, é ao lado de uma formação sinfónica que primeiro o encontramos, no início da década de 1950 e no histórico selo Ibéria (do empresário Manuel Simões), com quatro peças inspiradas em motivos folclóricos portugueses, “Fandango”, “Chula”, “Recordações d'Infância” e “Vira do Minho”.

A transição do disco de 78 rotações para o disco de vinil apanha-o em plena ascensão na indústria discográfica nacional. Assim, Tavares Belo é requisitado para acompanhar vozes como as de Alberto Ribeiro, Fernanda Baptista, Simone de Oliveira, Anita Guerreiro, Maria Clara, Madalena Iglésias, Alice Amaro, Rui de Mascarenhas ou, mais tarde, Amália Rodrigues. Sempre disposto a experimentar géneros, acompanhou novos cantores em ritmos rock, bossa nova ou africanos – nesta última vertente, destaca-se o seu trabalho ao lado dos irmãos Anabela e Mário de Melo, que no início da década de 60 gravaram vários discos com música de Cabo Verde. Mas o nome que Tavares Belo mais acompanhou em disco foi o de Maria Pereira, nomeadamente na sua série de discos “Cor É Vida”, de 1960, em que se encontra a canção homónima e que era então o hino da Robbialac.

Tavares Belo colaborou também de forma assídua com a escritora Odette de Saint-Maurice, sendo responsável pela música de muitas das suas histórias infantis – na sua maioria, gravadas em disco pela Alvorada, sendo que as últimas (inspiradas n’“As Mil e uma Noites”) foram editadas em LP pela Zip-Zip mesmo à beira do 25 de Abril. Dez anos antes, tinha sido também ele o maestro responsável pela direcção da orquestra que acompanhou todos os cantores no histórico 1.º Festival RTP da Canção, ganho por António Calvário. Curiosamente, este intérprete dera ainda voz nesse certame a “Para Cantar Portugal”, de que Tavares Belo era co-autor. Esta vertente do seu percurso, hoje menos conhecida, era uma das que mais apreciava, tendo sido responsável também pelo arranjo de reportório para o popular trio Irmãs Meireles.

As imagens neste “Gramofone” foram captadas num programa de “Serões para Trabalhadores” gravado ao vivo no Casino da Figueira da Foz, sendo de destacar o trabalho do Coro Feminino da Emissora Nacional – que, nessa década de 1960, chegou a gravar o álbum “Vozes de Raparigas - Portuguese Girls Sing”, editado nos E.U.A. pelo selo Monitor e contando com direcção do maestro Fernando de Carvalho.