Conversa Capital com o economista Augusto Mateus

por Rosário Lira

Foto: RTP

Augusto Mateus, economista e antigo ministro da economia, entende que a questão sobre a entrega das declarações de rendimentos deve ser igual para todos os que exercem cargos de gestão pública. Augusto Mateus, em conversa com a jornalista Rosário Lira da Antena 1 e Celso Filipe do Jornal de Negócios, refere também que a reestruturação da dívida faz-se gerindo o excessivo endividamento e não quebrando a possibilidade de continuar a financiar o crescimento. O problema está em saber se se sabe onde investir.

Augusto Mateus, economista e antigo ministro da Economia, considera que o Orçamento do Estado para 2017 "fica aquém das oportunidades reais da expansão da economia portuguesa".

Apesar de não desvalorizar a gestão do défice, é insuficiente no investimento público e na promoção da expansão da economia.

Para o antigo ministro da Economia, neste momento o grande objetivo da política económica é o saldo orçamental e "não há uma ideia sobre o crescimento da economia", sobre investimento e criação de riqueza.

A avaliar pelo que está a ser feito, Augusto Mateus não tem duvidas: "Não confiamos no investimento para a recuperação da economia".

 O governo, adianta, tem de dar estabilidade e simplificar as políticas, numa previsão que não pode ficar pelo curto prazo.

O economista lembra que é crucial para estimular o investimento que os impostos sejam claros estáveis e simples.

E este Orçamento do Estado, segundo Augusto Mateus, altera de forma significativa a configuração de certos impostos, o que torna o sistema fiscal mais opaco, mais compacto, mais complicado.

Para o economista, Portugal é a expressão de uma politica que visa estimular o consumo, sem estimular o emprego e a produção.

Não vê inversão deste caminho. Aliás para o próximo ano, vê "atrapalhação" e olhando para o futuro não vê caminho nenhum porque o que há é estagnação.

Sobre a reestruturação da dívida que a esquerda, à esquerda do PS não esquece, Augusto Mateus refere que a reestruturação da dívida faz-se gerindo o excessivo endividamento e não quebrando a possibilidade de continuar a financiar o crescimento. O problema está em saber se se sabe onde investir.

Confrontado com a situação do presidente da Administração da CGD relativamente à entrega da declaração de rendimentos e ao valor do vencimento, Augusto Mateus considera que as regras devem ser aplicadas a todos por igual.

"Tem de haver gestores bons que não sejam confrontados com outras regras que não sejam a que aplicam a outros gestores", explica o economista.

Relativamente ao efeito Trump na economia, Augusto Mateus considera que mais do que o que se passa nos Estados Unidos, que no próximo ano terá ainda "uma aterragem lenta", o que existe é uma incerteza e um risco muito grande na economia a nível mundial, sobretudo porque é necessário reorientar a globalização.

Esse, entende, será o grande desafio.
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