Inspetor-geral do trabalho alerta para a continuação da precariedade e salários em atraso

por Rosário Lira / Bruno Faria Lopes

Em entrevista à Antena1 e ao Económico, Pedro Pimenta Braz, Inspetor-geral da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) deixa várias preocupações entre as quais a limitação da lei para punir patrões que recorrem a expedientes fraudulentos.

Em entrevista à Antena1 e ao Diário Económico, o Inspetor-geral do Trabalho revelou que em 2015 foram detetadas 650 empresas com salários em atraso. Um número, contudo, inferior ao registado em 2014, em que foram detetadas 802 empresas com salários em atraso, mas que o inspetor não deixa de mostrar a sua preocupação.

Pedro Pimenta Braz adianta que a precariedade continua a ser um “problema grave” sobretudo devido à “imaginação lusa!” que criou a figura do “voluntário”.

Segundo o Inspetor-geral Trabalho, o relatório de 2015, que ainda não foi publicado, revela que esta situação se manteve praticamente inalterada.
Pimenta Braz queixa-se da limitação da lei para punir patrões que recorrem a expedientes fraudulentos.

Dá mesmo um exemplo; o inspetor considera que o empregador devia ser criminalizado quando retira todos os bens do seu nome e fecha uma empresa para criar outra ao lado. Neste caso, a ACT limita-se a sancionar com uma coima o primeiro empregador quando o consegue notificar.

Admite que se a flexibilidade laboral for reduzida terá repercussões nalguns sectores e poderá levar a mais despedimentos.


Pedro Pimenta Braz Condena o recurso excessivo a falsos estágios para escamotear postos de trabalho efetivos, uma pratica, que revela, continua a ser muito comum.

Refere que há largas dezenas de ações inceptivas feitas e considera que é um problema grave.

Sugere que as empresas que utilizam esta prática deveriam ser impedidas de receber fundos estruturais, até porque a dimensão da situação abrange todos os tipos de empresas, grandes e pequenas, em diferentes áreas.

Quando o empregador não integra ou não quer integrar o estagiário nos quadros, como a lei determina, fica apenas sujeito a uma sanção administrativa e isso, segundo Pimenta Braz, não chega.

Em sede de concertação social, Pimenta Braz espera que se olhe para este problema, mas também que seja incentivada a contratação coletiva e que haja um “sobressalto coletivo” para o problema dos acidentes de trabalho, que continuam a colocar Portugal no topo dos países com mais acidentes de trabalho.

A Autoridade para as Condições de Trabalho conseguiu reduzir para quase metade o numero de processos pendentes, passando de 42 mil para 27 mil, a Janeiro deste ano. Dos 10 milhões de euros por cobrar conseguiram recuperar 73 por cento em pagamentos voluntários.

O objetivo é chegar a zero pendências, mas já a partir deste ano os objetivos são atribuídos aos diretores e caberá a eles decidir se há necessidade ou não, de colocar inspetores a tramitar processos de contra ordenação, função que os sindicatos têm vindo a contestar.

Nesta entrevista, Pimenta Braz revela ainda que não percebe porque é que foi retirada à ACT a competência inspetiva em matéria de segurança relativamente ao Estado, até porque não acredita que esteja a ser feito melhor trabalho.

Por exemplo, a ACT deixou de poder responder e tratar de acidentes de trabalho comunicados por autarquias.

A entrevista ao Inspetor-geral do Trabalho, Pedro Pimenta Braz, foi conduzida pela jornalista Rosário Lira (Antena1) e pelo jornalista Bruno Faria Lopes (Diário Económico).
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