Todos diferentes, todos desiguais, todos respeitados

Eu sou tolerante com a diferença desde que me conheço, mas não admito que nos tentem obrigar a ser todos iguais. A forma de respeitar a diferença não é misturar tudo fingindo que ela não existe, é assumi-la sem medos nem receios, tolerando o que é diferente, explicando que é natural e promovendo o respeito por todas as pessoas que são diferentes da maioria. Porque quando misturamos tudo, dissimulando a diferença, não estamos a anular a discriminação, estamos sim a criar a ideia de que ser diferente é errado e que é necessário criar camuflagens para que não se note.

Já não há paciência para as acusações de sexismo e discriminação sempre que se tenta vincar as diferenças e as idiossincrasias entre homens e mulheres, rapazes e raparigas ou meninos e meninas. Seja nos brinquedos, nos gostos ou nos hábitos.

Eu sou tolerante com a diferença desde que me conheço, mas não admito que nos obriguem a ser todos iguais. A forma de respeitar a diferença não é misturar tudo fingindo que ela não existe, é assumi-la sem medos nem receios, tolerando o que é diferente, explicando que é natural e promovendo o respeito por todas as pessoas que são diferentes da maioria. Porque quando misturamos tudo, dissimulando a diferença, não estamos a anular a discriminação, estamos sim a criar a ideia de que ser diferente é errado e que é necessário criar camuflagens para que não se note.

Claro que há meninos e meninas que não correspondem ao género que lhes calhou em sorte, e que são discriminados quando demonstram traços de personalidade que entram em conflito com o status quo, seja nas famílias, nos círculos de amigos ou na escola. Um erro tremendo da nossa sociedade, com consequências brutais nessas pessoas. Qualquer um de nós tem o direito de decidir se quer ser lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual ou transgénero. Deve ter a liberdade de assumir a condição que mais lhe agradar, independentemente do sexo com que nasceu ou do género a que pertence por designação aceite de forma comum e científica. A perseguição social, religiosa e até, em alguns casos, política, que estas pessoas sofrem é inadmissível, mas não deve permitir que se entre num politicamente correcto, hipócrita e simpático para as minorias, na tentativa de tornar igual o que é diferente. E sim, estas pessoas são uma minoria, diferentes do geral, com os mesmos direitos.

Quem quiser assuma-se como é, e terá todo o meu respeito. Mas não nos obriguem a fingir que somos todos iguais para não magoar sensibilidades fingindo que não existem diferenças. E sim, o humor faz-se da caricatura, exagerando tendências, traços e características. Quem não gosta não gosta, não anda é permanentemente a tentar condicionar opiniões, piadas, post’s e comentários. As pessoas que se sentem mais discriminadas e que exigem tolerância são na maior parte das vezes as mais agressivas nas opiniões que emitem, com posições extremas e argumentos a favor de intolerância para com os menos tolerantes, o que também é inaceitável.

Claro que há diferenças entre homens e mulheres, são ancestrais e muitas vezes baseadas em preconceitos ou ideias falsas, é verdade, mas existem. Tão certo como haver casas de banho para homens e mulheres.

São os homens, aqui entendidos como heterossexuais, que constituem a esmagadora maioria de pessoas que frequentam os estádios de futebol. Os praticantes da modalidade também são na maior parte, esmagadora, do sexo masculino. Alguém impede mulheres, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgéneros de assistirem a jogos de futebol, ou outro desporto qualquer? Claro que não. Há dúvidas de que os homens são a maioria dos praticantes de râguebi e que a as mulheres são maioritárias na prática do ballet? E alguém, a não ser pais preconceituosos e mal formados, impede uma menina de praticar râguebi ou o menino de fazer ballet? Claro que não. Podem sentir-se condicionados por pessoas preconceituosas e mal formadas, mas isso acontece em muitas outras coisas na vida. A maior parte dos trabalhadores da construção civil são homens. Certo? A maior parte das manicures são mulheres - na verdade não conheço nenhum homem que o seja - ou as secretárias. E não vem mal ao mundo por isto. Mas que eu saiba não há leis que impeçam um homem de ser manicure ou secretário. Há diferenças entre homens e mulheres, como há grandes diferenças entre lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgéneros. Não há duas pessoas iguais e cada uma deve ter a possibilidade de viver como melhor entender.

Faz todo o sentido que em qualquer loja exista uma divisão entre brinquedos de meninos e meninas. O que não faria sentido era haver uma proibição para qualquer um deles comprar brinquedos do género oposto. Quem tem dois filhos de géneros opostos, um menino e outro menina, como é o meu caso, sabe perfeitamente que meninos e meninas querem brinquedos específicos, e desde sempre, de forma natural, escolhem bonecas e carrinhos como companhias preferenciais. Alguns dirão que a realidade é que desde sempre recebem esse tipo de brinquedos, esquecendo que quando bebés recebem mais ou menos os mesmos, neutros, e que, naturalmente, vão rejeitando uns e afeiçoando-se a outros. Nunca impedi o meu filho de brincar com bonecas nem a minha filha com carrinhos. Ninguém os condiciona, e escolhem o que querem. O meu filho quer fazer colecção de cromos da Primeira Liga ou da Liga dos Campeões e a minha filha do Frozen ou da Barbie. Por escolha de cada um deles. Nada a opor se quiserem comprar ao contrário. Mas não querem.

A tolerância e a igualdade não significa que somos todos iguais, significa que todos temos os mesmos direitos e que não devemos, nem podemos, discriminar ninguém. Isso também é um sinal de inteligência. Saber aceitar os outros como são, mesmo que não sejam como mais gostaríamos que fossem. Mas nós não temos de impor nada aos outros, até porque raramente aceitamos qualquer tipo de imposição. Temos é de saber olhar para cada um com respeito, sem altivez nem certezas absolutas. Muito menos com hipocrisia, e por isso volto ao início deste texto. Eu sou tolerante com a diferença desde que me conheço, mas não admito que nos tentem obrigar a ser todos iguais. A forma de respeitar a diferença não é misturar tudo fingindo que ela não existe, é assumi-la sem medos nem receios, tolerando o que é diferente, explicando que é natural e promovendo o respeito por todas as pessoas que são diferentes da maioria. Porque quando misturamos tudo, dissimulando a diferença, não estamos a anular a discriminação, estamos sim a criar a ideia de que ser diferente é errado e que é necessário criar camuflagens para que não se note.

Como dizia alguém: pessoas certas não existem, somos todos pessoas erradas em busca de alguém que aceite as nossas imperfeições. Sublinho: todos.

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