Num mundo de extremismos e posições radicais, de vínculos ideológicos profundos, onde abundam as claques e o preto e branco, e onde ninguém aceita cores intermédias, as discussões estão à partida inquinadas pelo preconceito e pela falta de disponibilidade para estudar, avaliar, pensar e concluir, livre de amarras políticas, clubísticas, religiosas ou corporativas.
Em Portugal há um ambiente estranho no ar, influenciado pelo despeito e pela falta de isenção de várias partes com responsabilidades no país. Só assim se entende que alguns entendam que tudo o que o governo anterior fez era mau, e tudo o que este governo está a fazer é bom, e vice-versa, são apenas os argumentos das claques.
O maior problema do país é a dívida, que continua a crescer. Continua. Já crescia no governo de Sócrates, cresceu no anterior e continua a crescer com a geringonça, com um peso brutal sobre a economia portuguesa.
Chegados aqui, só com muito boa vontade é que não se olha com desconfiança para o aumento da dívida, para o fraco crescimento, para a dependência da política de compra de dívida que está em curso liderada pelo BCE, para a instabilidade dos juros, para o rating de lixo em que o país se encontra ou para a situação da banca que demora a resolver-se, principalmente a da Caixa Geral de Depósitos, que deve ser o referencial de apoio às empresas portuguesas.
Mas, na verdade, há bons sinais para estarmos optimistas e confiantes. O que não faz sentido é valorizar as dificuldades como se fossem a única realidade nacional e olhar com desconfiança para os resultados positivos, encontrando todos os dias argumentos para diabolizar esses sinais, e mostrando até à exaustão como são fracos e pouco consistentes.
O desemprego está a diminuir, com uma tendência que parece ser duradoura, mas há quem só queira ver que os empregos criados são piores e que há muita gente que desistiu de procurar emprego ou que pura e simplesmente saiu do país. Estes argumentos são todos verdadeiros, mas a descida do desemprego é de facto um sinal positivo que gera confiança.
Em 2016 foi alcançado um valor recorde do défice, muito abaixo até das melhores expectativas do governo. Terá sido demais diz a esquerda que apoia o executivo, porque não era preciso ir tão longe nos cortes. Seja, mas há que valorizar os 2,1% que são históricos a nível nacional.