Energias fósseis de Trump pairam sobre conversações climáticas

por RTP
Wolfgang Rattay - Reuters

Teve início esta segunda-feira, em Bona, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP23). O Acordo de Paris e os planos do Presidente dos Estados Unidos estarão em destaque nas conversações este ano presididas pelas Ilhas Fiji.

A 23ª conferência da ONU sobre as mudanças climáticas, a decorrer até 17 de novembro na Alemanha, são a primeira grande reunião do género após o anúncio da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris.

As Ilhas Fiji, ameaçadas pela subida do nível do mar provocada pela aquecimento global, são o primeiro arquipélago do Pacífico a participar nesta convenção. Presidem à edição deste ano. Donald Trump anunciou em junho deste ano a decisão de retirar os EUA do Acordo de Paris, considerando-o prejudicial para o país.

O Acordo de Paris, conseguido em dezembro de 2015, entrou em vigor em novembro de 2016 e foi subscrito por cerca de 200 países, tendo como objetivos juntar esforços internacionais para reduzir drasticamente a poluição no planeta - entre 26 a 28 por cento até 2025 -, nomeadamente no que toca às emissões de gases com efeito de estufa, e conseguir ainda limitar a subida da temperatura do planeta aos 2 graus Celsius ou, preferencialmente, 1,5 graus Celsius.

Ambientalistas e cientistas defendem que o Acordo de Paris deve ser concretizado e que os vários países que o integram devem cumprir as metas propostas para reduzir as emissões e apoiar a adaptação. Durante as duas semanas da convenção, os delegados e negociadores pretendem clarificar as regras do Acordo de Paris. 

Os Estados Unidos produzem cerca de 15 por cento das emissões globais de dióxido de carbono, sendo o segundo maior emissor do mundo e muitos dos representantes nas conversações não estão de acordo com os planos de Trump com a promoção das energias fósseis como solução para a mudança climática.
“Pró-carvão”

Na segunda semana da convenção, espera-se a presença e participação de um conselheiro do Presidente dos Estados Unidos com a apresentação de propostas “pró-carvão”.

Apesar da decisão de Trump, os EUA continuam comprometidos com a ação climática, uma vez que, de acordo com as regras, os não podem sair do Acordo de Paris até 2020. Por isso, a COP23 terá representantes e negociadores norte-americanos.

Segundo a BBC, os representantes da Administração Trump pretendem promover a utilização dos combustíveis fósseis e a energia nuclear como soluções para as mudanças climáticas.

A Peabody Energy, uma das maiores empresas americanas de venda e distribuição de carvão, estará representada nas conversações climáticas da ONU, de forma a destacar o papel do carvão e de outros combustíveis fósseis na redução dos impactos do aquecimento global.
"É perigoso"

O tema das indústrias de combustíveis fósseis no programa da convenção da ONU deixou, no entanto, descontentes muitos dos participantes.

Andrew Norton, diretor do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, disse à BBC que considerar que os combustíveis fósseis são solução para as mudanças climáticas é, “além de absurdo, perigoso”.

"Estas conversações não são um lugar para abordar a agenda dos combustíveis fósseis. Os EUA precisam de voltar à mesa e ajudar com cortes rápidos nas emissões que a situação exige", acrescentou Andrew Norton.

Outro participante nas conversações, Alden Meyer, da Union of Concerned Scientists, considera que a utilização de combustíveis fósseis "não é uma solução credível, mas isso não parece incomodá-los”.

Na semana passada, em vésperas da realização das convenções da ONU sobre as mudanças climáticas, foi publicado um relatório que contraria as afirmações de Donald Trump e da sua Administração, apontando a emissão de dióxido de carbono dos combustíveis fósseis como uma das principais causas nas alterações climáticas.
Delegados "dissidentes"

Apesar da presença de representantes da Administração Trump e de algumas empresas que promovem a utilização de energias fósseis e nucleares, prevê-se que estejam também presentes na COP23 delegados norte-americanos que afirmam que, nos Estados Unidos, a maioria é favorável à sobrevivência do Acordo de Paris.

A participar nos trabalhos em Bona, o governador do Estado de Washington, Jay Inslee, afirmou que as propostas da Casa Branca só vieram promover os esforços de quem é a favor da continuidade do Acordo: “Até agora nenhum Estado, cidade ou município seguiu Donald Trump”.

Além da confusão entre os representante e negociadores dos Estados Unidos, uns a favor da saída do Acordo de Paris e outros a favor da continuidade, as conversações vão centrar-se no estabelecimento e clarificação das regras e diretrizes que devem ficar seladas até ao final de 2018.

A COP23, presidida pelas Ilhas Fiji, vai destacar os impactos climáticos, sendo esta uma área de potencial desentendimento, uma vez que os países mais ricos se opõem fortemente a qualquer responsabilidade legal implícita pelos danos de eventos climáticos extremos.

A conferência da ONU está a preparar um roteiro para facilitar o diálogo e permitir avaliar o progresso coletivo face aos objetivos do Acordo de Paris e deverá reunir cerca de 20 mil participantes, incluindo uma delegação de associações e técnicos portugueses, além do ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, e do secretário de Estado adjunto do Ambiente, José Mendes.
Tópicos
pub