Lua. Um astro economicamente longe da Terra?

por Nuno Patrício - RTP
Foto: Paul Hanna - Reuters

Já passaram 48 anos desde a chegada do Homem à Lua. Um marco na história da conquista espacial. De julho de 1969 a dezembro de 1972, 12 astronautas caminharam no satélite natural da Terra, que volta estar debaixo de atenção, mas por parte de grandes multinacionais.

Foi uma viagem sem precedentes pensada, construída e lançada com uma forte componente político-estratégica, num período de Guerra Fria em que a Rússia demonstrava ser a mais preparada nesta corrida ao espaço.

Mas foi a bandeira norte-americana que o Homem fixou na Lua. As missões Apollo acabariam por ser encerradas cinco expedições depois da Apollo 11.


Neil Armstrong saudava a bandeira dos Estados Unidos no dia 20 de julho de 1969 - Créditos: NASA

Depois a exploração espacial da Lua, o astro caiu praticamente no esquecimento, cabendo a algumas missões pontuais a continuidade da exploração lunar.

Com este distanciamento, decorridas quase cinco décadas desde a primeira alunagem, muitos alegam que o Homem nunca lá terá colocado um pé. Outros alegam ter projetos para construir colónias humanas. O certo é que a Lua continua à espera de novas visitas.

A pergunta mantém-se: por que razão o Homem deixou de ter interesse na Lua?

As teorias são muitas: as teorias da conspiração falam de extraterrestres descobertos durante as missões Apollo, que proíbem a presença humana em solo lunar; outras falam em falta de condições materiais totalmente eficazes para suportar o fino e vidrado pó lunar; outras referem a ausência de recursos materiais suficientemente lucrativos para investir no astro.

Miguel Gonçalves, coordenador nacional da Sociedade Planetária, diz que o desinteresse na exploração da Lua é apenas um: falta de investidores.

"Será que a Lua nos tratou mal?”, pergunta Miguel Gonçalves. “A resposta não passa por aí. A partir de 1967/68, ainda o Homem não tinha pousado na Lua, surgia já um fortíssimo desinvestimento na NASA."


Gráfico representativo do investimento estatal (PIB) na NASA entre 1958/2008

De recordar que a 25 de maio de 1961, J.F. Kennedy fazia um pedido muito especial ao Congresso norte-americano. Verbas adicionais para construir um projeto que levasse o homem até à Lua e o devolvesse em segurança à Terra. Nascia assim o programa Apollo.

Por isso “a história da ida à Lua é uma história política”, explica o coordenador nacional da Sociedade Planetária, Miguel Gonçalves.


Lua obriga a tecnologia a crescer

Quem olha para o céu e vê a Lua lá em cima, branca com manchas cinzentas, não imagina como este astro tem sido benéfico. Em nosso redor, muitos dos objetos que utilizamos são fruto de experiências. Tal como aquelas que foram conduzidas no programa espacial.

Materiais que posteriormente são adaptados e introduzidos na vida comum.

Também o engenho e arte na criação de instrumentos para levar o Homem à Lua nos facilitaram a vida, como explica Miguel Gonçalves.

"Há tecnologias que nós tocamos e utilizamos hoje em dia que nasceram ou foram desenvolvidos durante a corrida à Lua. Falo por exemplo dos quispos, das tintas isoladoras nas casas, dos óculos de sol; falo por exemplo nas máquinas de diálise, que sofreram um grande desenvolvimento devido as tecnologias do programa Apollo. Há toda uma série de tecnologia que nós hoje nem sequer temos noção e que as devemos à Lua".

Mas não só. Toda a estrutura organizacional que envolveu este projeto obrigou pela primeira vez ao trabalho em conjunto de várias empresas, criando desta forma novos clusters a partir de startups (navegação, alimentação, vestuário, aeronáutica, eletrónica, entre outros) com um objetivo comum.


Muito para oferecer

A Lua não está esquecida e o interesse por parte da comunidade científica continua. A Agência Espacial Europeia (ESA) e a NASA continua a estudá-la à distância, mas não só.

Também a Índia, o Luxemburgo e a China mostram desenvolvimentos na exploração deste astro, sendo que os chineses já conseguiram colocar, com sucesso, um "rover exploratório" em solo lunar, muito embora tenha deixado de funcionar pouco depois.

Mas serão apenas as agências científicas a interessar-se nesta rocha inóspita e agreste?

Colocar alguém na Lua foi um marco político, mas agora pode ser comercial. A luta já não está dentro dos países que querem demonstrar algum poderio face às grandes potências. A grande conquista espacial discute-se entre as grandes multinacionais.

"Quando olhamos para a Lua nos tempos presentes, olhamos para a Lua também como um outro motivo de corrida. Neste caso já não terá a política ou a geopolítica como pano de fundo, mas a tecnologia e o comércio", aponta Miguel Gonçalves.

A Google, por exemplo, tem já a decorrer um prémio – Google Lunar XPrize – que oferece cerca de 30 milhões de dólares à primeira empresa privada a conseguir chegar à Lua, caminhar durante 500 metros no solo lunar e enviar para a Terra imagens e vídeos de alta resolução.

Quarenta e oito anos depois da primeira pegada de Neil Armstrong, a aventura de ir à Lua parece estar mais viva do que nunca, fazendo brilhar os olhos de novos conquistadores.
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