Covid-19. Nacionalismo potenciado por vacina ameaça os mais vulneráveis

por RTP
Existem 130 grupos de investigadores por todo o mundo a desenvolver vacinas para a Covid-19. Foto: Carl Recine - Reuters

Uma vacina contra o novo coronavírus poderá resultar numa forma de nacionalismo caso os países que a desenvolvam tentem distribuí-la primeiro pelos seus habitantes e só depois pelo resto do mundo, colocando em causa as pessoas mais vulneráveis. O alerta foi lançado por Jane Halton, ex-membro da Organização Mundial da Saúde (OMS) e atual presidente da Coligação para Inovações na Preparação Epidémica, fundação britânica que financia o desenvolvimento de vacinas.

“Neste momento, estamos nisto juntos. Assim que surja uma vacina, temo que deixemos de estar tão juntos como até agora”, lamentou esta segunda-feira Halton, que já foi também membro dos departamentos australianos de Saúde e das Finanças.

A responsável disse acreditar que existe uma “hipótese razoável” de se desenvolver uma vacina contra a Covid-19 uma vez que, apesar de 94 por cento das tentativas falharem, existem atualmente 130 grupos de investigadores por todo o mundo a trabalhar nessa solução.

Caso uma vacina seja identificada como eficaz e segura, a sua produção deverá ser “distribuída globalmente” de modo a evitar um “nacionalismo” em torno da mesma, aconselhou Jane Halton.

“Se existir nacionalismo em torno da vacina”, que é fundamental para o regresso ao trabalho, para o turismo e para o comércio mundial, “e um país cuidar de si próprio primeiro às custas do resto do mundo, todos vão continuar a sofrer”, alertou. A Coligação para Inovações na Preparação Epidémica está a apoiar o desenvolvimento de dez vacinas candidatas, incluindo uma na Austrália que poderá começar a ser testada em humanos já em julho.

A Organização Mundial da Saúde está a trabalhar numa lista de “destinatários prioritários”, entre os quais deverão estar os profissionais de saúde, os idosos e os imunodeprimidos. Mas determinar quem deve receber a vacina primeiro “é difícil, porque vai exigir que todos cooperem”, explicou Halton, citada pelo Guardian. “E o desejo de prioridade a nível doméstico será muito significativa”.

Na teoria, depois de um país desenvolver uma vacina e a distribuir pelos seus “cidadãos vulneráveis”, terá de determinar que quantidade irá distribuir pelas “pessoas vulneráveis de todo o mundo ao mesmo tempo”.
Alerta contra o levantamento de restrições
Halton, que foi membro da OMS durante três anos, disse ainda compreender as preocupações da China por estar a ser responsabilizada pela pandemia de Covid-19 e defendeu uma investigação às origens zoonóticas do vírus para que situações semelhantes possam ser evitadas no futuro.

Quando ao levantamento gradual de restrições que está a acontecer a nível global, a responsável alertou que se for passada a mensagem de que “está tudo bem”, o distanciamento social irá diminuir e os resultados poderão ser negativos, especialmente para os mais vulneráveis à doença.

Desde o seu início, em dezembro, o novo coronavírus já infetou 4,7 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais mais de 300 mil são vítimas mortais. Existem agora quase 1,7 milhões de recuperados.
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