Jogos Olímpicos. Quase 60% dos japoneses querem que a competição seja cancelada

por Andreia Martins - RTP
Issei Kato - Reuters

De acordo com uma sondagem do jornal japonês Yomiuri Shimbun, 59 por cento dos japoneses inquiridos defendem o cancelamento dos Jogos Olímpicos e 39 por cento querem que a competição se realize. Numa altura em que faltam pouco mais de dois meses para o início da prova, a 23 de julho, as mais recentes sondagens evidenciam uma forte oposição no país anfitrião, a braços com um novo recrudescimento de casos de Covid-19.

Com um novo aumento de infeções no Japão e a identificação de novas variantes, os especialistas alertam para os serviços de saúde à beira do colapso em várias regiões do país. Nos últimos dias, o Governo estendeu o estado de emergência em vários locais do país, incluindo na capital, Tóquio, até ao final de maio.

As Olimpíadas foram adiadas no ano passado devido à situação de pandemia e deverão decorrer este ano, entre 23 de julho e 8 de agosto. O Comité Olímpico Internacional (COI) garante a segurança dos atletas e do público japonês, insistindo que todas as medidas sanitárias estão a ser seguidas com rigor.

No entanto, as garantias não acalmam a opinião pública japonesa. Um inquérito conduzido entre os dias 7 e 9 de maio pelo jornal conservador Yomiuri Shimbun revela que 59 por cento dos inquiridos gostaria que os Jogos Olímpicos fossem cancelados, enquanto 39 por cento concorda que a competição se realize. Neste inquérito, a opção “adiamento” foi descartada, uma vez que o próprio COI já adiantou que não admite essa hipótese.

Entre os que defendem que as Olimpíadas devem realizar-se, 23 por cento espera que os jogos decorrem sem espectadores. A organização da competição já anunciou que a competição irá realizar-se sem espectadores vindos do estrangeiro, mas só em junho se saberá se o público do país poderá marcar presença.

Esta não é a única sondagem que mostra a forte oposição da população do país que acolhe a competição. Outro inquérito da televisão TBS News apurou que 65 por cento dos inquiridos gostariam de ver os jogos cancelados ou novamente adiados. Destes, 37 por cento defende mesmo o cancelamento e 28 por cento prefere o adiamento da competição.

Um resultado semelhante foi obtido pelo inquérito realizado em abril pela agência noticiosa Kyodo, ao apurar que 70 por cento dos inquiridos pretendiam que as olimpíadas fossem canceladas ou adiadas.
Visita adiada
A menos de três meses do arranque da competição, o Governo japonês enfrenta a pressão por parte do Comité Olímpico Internacional, mas também dos seus próprios cidadãos.

Yoshihide Suga, primeiro-ministro do Japão, afirmou esta segunda-feira que o Governo não está a dar prioridade à competição em detrimento da saúde pública no país, mas assumiu que a decisão final está nas mãos do COI.

“A minha prioridade é proteger a vida e a saúde da população japonesa. Devemos prevenir a propagação do vírus em primeiro lugar”, argumentou o chefe do executivo japonês, adiantando que “nunca” colocou as Olimpíadas como prioridade principal.

No sábado, o vice-presidente do COI, John Coates, assumiu que a oposição e desconfiança por parte dos japoneses são elementos de “preocupação”. No entanto, não admitiu qualquer cenário em que os Jogos Olímpicos não se realizem. 

Nas últimas horas, a imprensa japonesa adiantou que a visita do presidente do COI, Thomas Bach, que deveria ocorrer na próxima semana, foi adiada para junho. A viagem do responsável até à cidade de Hiroshima, prevista inicialmente para 17 de maio, não foi ainda confirmada pelos organizadores da competição, adianta a agência Reuters.

Entre as declarações dos atletas daquele país, que têm sido parcas, destaque para as palavras da tenista japonesa Naomi Osaka, número dois a nível mundial, que assumiu que a realização dos Jogos Olímpicos no país lhe causa preocupação e sentimentos conflituosos.

“Claro que quero que as Olimpíadas se realizem, porque sou uma atleta e é por isso que tenho esperado toda a minha vida. Mas há tantas coisas importantes a acontecer. (…) Aconteceram muitas coisas inesperadas e se isso deixa as pessoas em risco, se isso está a deixar as pessoas desconfortáveis, então acho que deveria haver uma discussão”, afirmou a tenista.

Em abril, Toshihiro Nikai, secretário-geral do Partido Liberal Democrata - do primeiro-ministro Yoshihide Suga – admitia que o cancelamento dos Jogos Olímpicos continuava a ser uma opção em cima da mesa.

"Se for impossível, teremos mesmo que cancelar. Qual é o objetivo de termos Jogos Olímpicos se propagar a infeção? Vamos ter que tomar uma decisão", afirmava então o responsável partidário.

Desde o início da pandemia, o Japão registou um total de 600 mil casos e mais de dez mil mortes por Covid-19. No último sábado, o país registou um novo máximo de infeções diárias desde janeiro, com 7.000 novos casos.

O aumento de casos surge numa altura em que apenas dois por cento dos 126 milhões de japoneses iniciaram a vacinação com uma primeira dose.
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