Morreu Agustina Bessa-Luís

por RTP
Agustina Bessa-Luís estreou-se como romancista em 1948, com a novela <i>Mundo Fechado</i> João Relvas - Lusa

A escritora tinha 96 anos. Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila Meã, Amarante, a 15 de outubro de 1922. Entre outras distinções, recebeu o Prémio Camões 2004, o mais alto galardão das letras em português. Desde 2006, pouco depois de terminar a sua última obra, A Ronda da Noite, deixou de escrever e retirou-se da vida pública. O Governo decretou para terça-feira um dia de luto nacional.

Agustina Bessa-Luís estreou-se como romancista em 1948, com a novela Mundo Fechado e, desde aí, publicou mais de meia centena de obras, desde romances a contos e até livros infantis. Em 1954, publica o romance A Sibila e impõe-se na ficção portuguesa contemporânea.

Vários romances de Agustina foram adaptados ao cinema pelo realizador Manoel de Oliveira, como Vale Abraão, O Convento ou O Princípio da Incerteza. Foi ainda autora de peças de teatro e guiões para televisão. O romance As Fúrias foi adaptado para teatro e encenado por Filipe La Féria no Teatro Nacional D.Maria II.

Agustina Bessa-Luís recebeu mais de uma vez o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, foi distinguida com o prémio Vergílio Ferreira. Em 2004, aos 81 anos, foi a escolhida por unanimidade para receber o Prémio Camões, o mais alto galardão da literatura em português.

O júri do Prémio Camões considerou então que “a obra de Agustina Bessa-Luís traduz a criação de um universo romanesco de riqueza incomparável que é servido pelas suas excepcionais qualidades de prosadora, assim contribuindo para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum".


Foi membro da Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres (Paris), da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa. Foi distinguida com a Ordem de Sant'Iago da Espada (1980), a Medalha de Honra da Cidade do Porto (1988) e o grau de "Officier de l'Ordre des Arts et des Lettres", atribuído pelo governo francês (1989).

Foi diretora do diário O Primeiro de Janeiro, assumiu a direção do Teatro Nacional de D. Maria II, em Lisboa e foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social.


“Conjugando influências pós-simbolistas de autores como Raul Brandão na construção de uma linguagem narrativa onde o intuitivo, o simbólico e uma certa sabedoria telúrica e ancestral, envolta numa escrita de características aforísticas, se conjugam com referências de autores franceses como Proust e Bergson, (…) na estruturação espácio-temporal da obra, Agustina é senhora de um estilo absolutamente único, paradoxal e enigmático”, pode ler-se na bibliografia da autora, na Wook.
“Presidente da República curva-se perante o seu génio”
Marcelo Rebelo de Sousa publicou uma nota no site da Presidência da República, homenageando Agustina Bessa-Luís. “O Presidente da República curva-se perante o seu génio e expressa aos seus familiares as mais sentidas condolências”, escreve Marcelo.

“Há personalidades que nenhumas palavras podem descrever no que foram e no que significaram para todos nós. Agustina Bessa-Luís é uma dessas personalidades. Como criadora, como cidadã, como retrato da força telúrica de um povo e da profunda ligação entre as nossas raízes e os tempos presentes e vindouros”.

“De antes quebrar do que torcer testemunhou, com o rigor inexcedível da sua escrita, nunca corrigida, o fim de um Portugal e o nascimento de outro.Um e outro feitos do Portugal eterno. E é a esse Portugal eterno que ela pertence”, conclui o Presidente da República.
Dia de luto nacional

O Governo decidiu entretanto decretar para terça-feira um dia de luto nacional em homenagem a Agustina Bessa-Luís.

"Portugal perdeu uma das suas mais notáveis escritoras contemporâneas", escreveu no Twitter o primeiro-ministro.


António Costa acrescenta, numa mensagem de condolências, que "a obra de Agustina Bessa-Luís é uma imensa tela sobre a condição humana, sobre o que temos de mais misterioso e profundo".

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