Cultura
Morreu Cesária Évora, a voz de Cabo Verde
Morreu este sábado em São Vicente a cantora cabo-verdiana Cesária Évora. A intérprete musical de Cabo Verde com maior reconhecimento internacional deu entrada no Hospital Baptista de Sousa com um quadro de "insuficiência cardiorrespiratória aguda e tensão cardíaca elevada". Cesária Évora havia sido internada em Paris a 24 de setembro após um acidente vascular cerebral. Horas antes, anunciara o fim da carreira numa entrevista ao jornal Le Monde. Do Presidente de Cabo Verde saiu um testemunho de consternação: "É uma grande perda".
A morte da “diva de pés descalços”, o título de um dos álbuns mais aclamados da mais internacional das vozes de Cabo Verde, foi declarada cerca das 11h20 deste sábado, confirmou o diretor clínico do Hospital Baptista de Sousa, citado pela agência Lusa. Alcides Gonçalves adiantou que Cesária Évora não resistiu a uma “insuficiência cardiorrespiratória aguda e tensão cardíaca elevada”.
Admitida naquela unidade hospitalar na sexta-feira, a cantora permanecia internada nos cuidados intensivos “com um quadro muito complexo”. “Durante este período, ela alternou momentos de lucidez com momentos de inconsciência e esteve sempre acompanhada do seu empresário José da Silva”, revelou ainda o diretor clínico do Hospital Baptista de Sousa.
O Presidente de Cabo Verde já veio considerar a morte de Cesária Évora uma “grande perda”, lamentando o desaparecimento de uma voz que representava “um pouco a noção de ser cabo-verdiano”. “O sentimento que me invade é de profunda tristeza e de grande desolação, porque com o desaparecimento físico de Cesária Évora desaparece uma das maiores figuras da cultura cabo-verdiana, particularmente da nossa música”, disse Jorge Carlos Fonseca.
O correspondente da RDP África em Cabo Verde, Moisés Évora, trazia esta tarde à Antena 1 o relato de um país que chora Cesária: “O país está mergulhado numa profunda tristeza. Todas as ilhas do arquipélago choram Cesária Évora, sabendo aquilo que ela representou para Cabo Verde, um país pequeno mas que teve em Cesária Évora o condão de se dar a conhecer ao mundo”.
“Uma perda irreparável”
Ouvido pela Lusa, o vice-presidente da Associação Cabo-Verdiana de Lisboa, Mário de Carvalho, referiu-se à morte de Cesária Évora como “uma perda irreparável para a cultura” do seu país e “para o mundo”, uma vez que “a sua música não tem fronteiras”. A Associação preparava uma homenagem à cantora para 2012, com financiamento garantido pelo ACIDI – Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural. O evento terá agora de “ser feito de outra forma”.
Em declarações à RTP Informação, Tito Paris falou também de “um dia triste para todos os músicos cabo-verdianos e para o mundo da música”. “Vamos amá-la até ao fim, a Cesária. O artista não morre. O artista desaparece. Porque nós vamos ouvir Cesária para sempre”, reagiu o músico cabo-verdiano.
Cesária Évora, continuou Tito Paris, “era uma pessoa muito humana, tinhas as suas características próprias, impunha as suas coisas, mas era uma pessoa muito humana”: “Éramos grandes amigos, dava-me grande apoio. O primeiro disco da Cesária foi gravado comigo. Acabámos de perder, independentemente da grande artista, uma grande pessoa”.
À RDP África, a cantora cabo-verdiana Nancy Vieira considerou que Cesária Évora “tinha o dever cumprido”. Todavia, tinha também “mais para viver”. Nancy Vieira preferiu destacar “a simplicidade” e “os pés no chão” da artista.
Carreira preenchida
Cesária Évora nasceu a 27 de agosto de 1941 no Mindelo, em São Vicente. Na sua família, a música era rainha. O pai, Justiniano da Cruz, era executante de violão, cavaquinho e violino. O irmão, Lela, tocava saxofone. Com a idade de 16 anos, Cesária já cantava em bares da sua cidade. É então que começa a ser tratada como “rainha da morna”.
Em 1985, ao fim de dez anos de apagamento da carreira e de luta com o alcoolismo, “Cise”, como era conhecida entre os amigos mais próximos, desloca-se a Lisboa a convite do músico Bana. Na capital portuguesa regista um disco sem grande impacto. Parte para Paris, onde principia, com a ajuda de José da Silva, um trajeto de projeção internacional. Com o trabalho “La diva aux pieds nus”, Cesária Évora conquista definitivamente a crítica.
Em 1992, ano da gravação de “Miss Perfumado”, Cesária é já um nome incontornável nos palcos internacionais. Daí a 12 anos, “Voz d’Amor” valer-lhe-á um Grammy para Melhor Álbum de World Music contemporânea. Em 2009 recebe do Presidente francês, Nicolas Sarkozy, a medalha da Legião de Honra, já depois de uma cirurgia complexa.
A 24 de setembro de 2011, Cesária Évora revelaria ao jornal francês Le Monde que, a conselho médico, iria pôr termo à carreira. A promotora Tumbao confirmaria em comunicado as palavras da cantora. No mesmo dia, Cesária dava entrada no Hospital de Pitie-Salpetriere, em Paris, devido a um acidente vascular cerebral (AVC). A cantora regressaria a São Vicente a 22 de outubro. Para a posteridade deixa um catálogo de 24 álbuns e dezenas de colaborações em trabalhos alheios.
“A qualidade da sua voz era de alcance universal, e o reconhecimento internacional que obteve comprovou isso mesmo”, lê-se na mensagem de condolências assinada este sábado pelo secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas.
Admitida naquela unidade hospitalar na sexta-feira, a cantora permanecia internada nos cuidados intensivos “com um quadro muito complexo”. “Durante este período, ela alternou momentos de lucidez com momentos de inconsciência e esteve sempre acompanhada do seu empresário José da Silva”, revelou ainda o diretor clínico do Hospital Baptista de Sousa.
O Presidente de Cabo Verde já veio considerar a morte de Cesária Évora uma “grande perda”, lamentando o desaparecimento de uma voz que representava “um pouco a noção de ser cabo-verdiano”. “O sentimento que me invade é de profunda tristeza e de grande desolação, porque com o desaparecimento físico de Cesária Évora desaparece uma das maiores figuras da cultura cabo-verdiana, particularmente da nossa música”, disse Jorge Carlos Fonseca.
O correspondente da RDP África em Cabo Verde, Moisés Évora, trazia esta tarde à Antena 1 o relato de um país que chora Cesária: “O país está mergulhado numa profunda tristeza. Todas as ilhas do arquipélago choram Cesária Évora, sabendo aquilo que ela representou para Cabo Verde, um país pequeno mas que teve em Cesária Évora o condão de se dar a conhecer ao mundo”.
“Uma perda irreparável”
Ouvido pela Lusa, o vice-presidente da Associação Cabo-Verdiana de Lisboa, Mário de Carvalho, referiu-se à morte de Cesária Évora como “uma perda irreparável para a cultura” do seu país e “para o mundo”, uma vez que “a sua música não tem fronteiras”. A Associação preparava uma homenagem à cantora para 2012, com financiamento garantido pelo ACIDI – Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural. O evento terá agora de “ser feito de outra forma”.
Em declarações à RTP Informação, Tito Paris falou também de “um dia triste para todos os músicos cabo-verdianos e para o mundo da música”. “Vamos amá-la até ao fim, a Cesária. O artista não morre. O artista desaparece. Porque nós vamos ouvir Cesária para sempre”, reagiu o músico cabo-verdiano.
Cesária Évora, continuou Tito Paris, “era uma pessoa muito humana, tinhas as suas características próprias, impunha as suas coisas, mas era uma pessoa muito humana”: “Éramos grandes amigos, dava-me grande apoio. O primeiro disco da Cesária foi gravado comigo. Acabámos de perder, independentemente da grande artista, uma grande pessoa”.
À RDP África, a cantora cabo-verdiana Nancy Vieira considerou que Cesária Évora “tinha o dever cumprido”. Todavia, tinha também “mais para viver”. Nancy Vieira preferiu destacar “a simplicidade” e “os pés no chão” da artista.
Carreira preenchida
Cesária Évora nasceu a 27 de agosto de 1941 no Mindelo, em São Vicente. Na sua família, a música era rainha. O pai, Justiniano da Cruz, era executante de violão, cavaquinho e violino. O irmão, Lela, tocava saxofone. Com a idade de 16 anos, Cesária já cantava em bares da sua cidade. É então que começa a ser tratada como “rainha da morna”.
Em 1985, ao fim de dez anos de apagamento da carreira e de luta com o alcoolismo, “Cise”, como era conhecida entre os amigos mais próximos, desloca-se a Lisboa a convite do músico Bana. Na capital portuguesa regista um disco sem grande impacto. Parte para Paris, onde principia, com a ajuda de José da Silva, um trajeto de projeção internacional. Com o trabalho “La diva aux pieds nus”, Cesária Évora conquista definitivamente a crítica.
Em 1992, ano da gravação de “Miss Perfumado”, Cesária é já um nome incontornável nos palcos internacionais. Daí a 12 anos, “Voz d’Amor” valer-lhe-á um Grammy para Melhor Álbum de World Music contemporânea. Em 2009 recebe do Presidente francês, Nicolas Sarkozy, a medalha da Legião de Honra, já depois de uma cirurgia complexa.
A 24 de setembro de 2011, Cesária Évora revelaria ao jornal francês Le Monde que, a conselho médico, iria pôr termo à carreira. A promotora Tumbao confirmaria em comunicado as palavras da cantora. No mesmo dia, Cesária dava entrada no Hospital de Pitie-Salpetriere, em Paris, devido a um acidente vascular cerebral (AVC). A cantora regressaria a São Vicente a 22 de outubro. Para a posteridade deixa um catálogo de 24 álbuns e dezenas de colaborações em trabalhos alheios.
“A qualidade da sua voz era de alcance universal, e o reconhecimento internacional que obteve comprovou isso mesmo”, lê-se na mensagem de condolências assinada este sábado pelo secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas.