A agenda da cimeira da União Europeia para dia 2 de setembro, deixou de incluir um dos seus pontos principais, as negociações pós-Brexit, uma vez que o progresso nas conversações com Londres tem sido "mínimo", noticiou o jornal britânico The Guardian.
A Alemanha detém a presidência da UE e decidiu que não há nada que valha a pena debater sobre o Brexit na primeira semana de setembro, acrescenta o jornal.
Nem Berlim nem Bruxelas confirmaram ainda a decisão, mas diplomatas europeus sob anonimato citados pelo Guardian, foram perentórios.
"Uma vez que não houve quaisquer progressos palpáveis nas negociações entre UE e RU, o Brexit foi retirado da agenda", referiu um deles.
Os diplomatas europeus lamentam a estratégia seguida por Londres e especificamente, pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
"As pessoas nem imaginam o clima de pessimismo que reina entre a equipa de negociações da União Europeia", acrescentou outro.
"Tivemos um verão completamente desperdiçado, um executivo que não entende como funcionam as negociações, um primeiro-ministro que, penso, não percebe como se fazem negociações - porque está sob a impressão errada de que será capaz de negociar à ultima hora".
É cada vez mais provável a saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo, a 31 de dezembro.
A ronda de negociações mais recente terminou sexta-feira passada com o líder dos negociadores britânicos, David Frost, a dizer que "não vai ser fácil conseguir" um acordo. Michel Barnier, o seu homólogo do lado europeu, referiu que Boris Johnson estava a "desperdiçar tempo precioso" nas negociações.
Quarta-feira, Barnier repetiu um apelo para ser alcançado até finais de outubro um acordo com o Reino Unido quanto às relações futuras entre ambos. À agência Reuters, à margem de um encontro empresarial em Paris, confirmou que não tinha planos para se reunir com Frost esta semana. "Mas talvez na próxima semana, se as condições o permitirem".
Pessimismo
É necessário concluir as linhas gerais de um acordo até fim de outubro para o Parlamento Europeu ter tempo de o ratificar, antes do Reino Unido abandonar o mercado único e a união aduaneira do bloco europeu, a 31 de dezembro.Já se fala numa possível extensão do período de transição, devido ao impacto da pandemia de Covid-19 nas negociações e nas economias.
As negociações têm marcado passo sobretudo quanto aos direitos de pesca da UE nas águas britânicas e às regras de apoios à competitividade empresarial. Noutras áreas, como migração, segurança, mecanismos de resolução de litígios ou garantias quanto aos Direitos Humanos, há ainda arestas a limar.
Paris tem expressado a impaciência europeia para com Londres, particularmente quanto ao controlo da migração no Canal da Mancha para o Reino Unido.
A União Europeia terá entretanto de substituir o comissário responsável pela pasta do comércio, Phil Hogan, um irlandês que pediu demissão esta semana, num período turbulento, não só devido às negociações do Brexit, como à guerra de tarifas entre a China e os Estados Unidos.
A responsável pela pasta, Liz Truss, afirmou que o Governo quer acordos que beneficiem "todo" o Reino Unido.
"As conversações com o Japão, os estados Unidos, a Austrália e a Nova Zelândia entraram em fases cruciais, por isso faz todo o sentido acelerar compromissos com indústrias vitais para utilizar a sua experiência técnica e estratégica", referiu Truss.