Delphi e Yazaki despedem: 850 no desemprego

A "Delphi" decidiu encerrar a unidade de produção de Ponte de Sor e deixa 450 sem trabalho. A "Yazaki Saltano" encerra em Vila Nova de Gaia e são 400 os trabalhadores que ficam no desemprego.

Eduardo Caetano, RTP /
Encerramento da fábricas lança 850 trabalhadores no desemprego RTP

A multinacional norte-americana Delphi vai encerrar a unidade de produção de Ponte de Sor no primeiro trimestre de 2009, arrastando para o desemprego 450 trabalhadores. Nos Estados Unidos tenta afastar o espectro da falência.

A decisão de encerramento já foi comunicada aos sindicatos durante uma reunião de acordo com Francisco Godinho, delegado do Sindicato dos Trabalhadores da Química, Farmacêutica, Petróleo e Gás (Sinquifa).

"No último trimestre deste ano, começam já a sair os primeiros trabalhadores do quadro", disse o dirigente sindical.

A multinacional norte-americana, ligada à área de acessórios e tecnologia para a indústria automóvel, prevê encerrar totalmente a unidade fabril no primeiro trimestre de 2009.

A direcção da Delphi em Portugal justifica a decisão com as "várias tentativas sem sucesso" para vender "linhas de produto não-chave" produzidas na unidade alentejana.

A empresa afirma saber do "impacto que a implementação desta decisão terá nos seus stakeholders, incluindo empregados, clientes, fornecedores e comunidades", em comunicado citado pela Agência Lusa.

É já na próxima segunda-feira que a empresa inicia as negociações com os trabalhadores e com os sindicatos para "discutir as indemnizações" que permitirão colocar fim ao seu vínculo laboral através de um processo negocial.

Os primeiros atingidos pela medida serão os cerca de oitenta operários que se encontram a contrato que abandonarão a empresa já no próximo Verão, de acordo com os sindicatos do sector.

A administração da Delphi terá sustentado a decisão agora tomada com o facto de os produtosactualmente fabricados na unidade do distrito de Portalegre, terem "deixado de ser estratégicos".

A empresa produz quatro componentes para a indústria automóvel: fechos centrais de portas, apoios, airbags e volantes. A produção de alguns destes componentes será deslocalizada. Já se sabe que por exemplo, a produção de “Airbags” será entregue a uma fábrica da Hungria.

Para os trabalhadores da multinacional de Ponte de Sôr o futuro não se apresenta nada risonho. Não só porque enfrentam a situação de desemprego mas sobretudo porque a sua média de idade é avançada.

"A média de idade é de 47 anos, a maioria dos trabalhadores não sabe fazer mais nada e ainda por cima vivemos numa zona onde não há alternativas", afirma Francisco Godinho, dirigente sindical do Sinquifa.

Delphi enfrenta situação de falência nos Estados Unidos

Não é só em Portugal que a empresa vive momentos dramáticos. A empresa-mãe vive graves problemas financeiros nos Estados Unidos da América. Passa por um processo de recuperação que visa evitar a declaração de falência.

O Appaloosa Management LP, um grupo financeiro privado norte-americano, rompeu esta quinta-feira a intenção de investir 2,55 mil milhões de dólares na Delphi.

O prazo para angariar 6,1 mil milhões de dólares para a recuperação financeira da multinacional norte-americana expirou na quinta-feira sem que tal quantia tivesse sido reunida.

A Appaloosa Management LP mantém-se no entanto aberta a acordos alternatives com a Delphi que permitam ainda uma possível recuperação da empresa que é uma das principais fornecedoras de componentes da General Motors Corporation.

A General Motors tem uma forte dependência do fornecimento de components por parte da Delphi que até 1999, data do spin off da empresa, era a sua principal subsidiária, permanecendo ainda como a maior fornecedora do gigante da indústira automobílistica norte-americano.

Foram precisamente vários acordos da Delphi com a General Motors, entre outras razões, que estiveram na origem do anúncio do abandono da intenção por parte da appaloosa de investir na Delphi.

O Appaloosa - grupo de investimento era um pilar essencial da reorganização da Delphi, reorganização que tem sido levada a cabo dentro das regras muito apertadas do mercado de crédito norte-americano.

A perda deste investimento coloca o plano de recuperação em perigo e faz pairar novamente o espectro da falência.

O porta-voz da Delphi, Lindsey Williams, anunciou que a empresa tinha conhecimento da notícia do fim do acordo anunciado pela Appaloosa" e que teriam uma resposta mais detalhada mais tarde.

Governador Civil de Portalegre "triste" com encerramento da Delphi

O Governador Civil de Portalegre, Jaime Estorninho, recebeu com "tristeza" o anúncio do encerramento da multinacional norte-americana Delphi, em Ponte de Sor.

"É com tristeza que recebo esta notícia", afirmou Jaime Estorninho, em declarações à agência Lusa.

O representante do Governo no distrito aproveitou a ocasião apenas para deixar uma palavra de conforto e de esperança aos trabalhadores da empresa.

"Todos juntos havemos de encontrar uma solução", declarou.

"Quero deixar uma mensagem de solidariedade. Muitos dos trabalhadores são meus amigos pessoais", sublinhou.

Yakazi Saltano despede 400 em Vila Nova de Gaia

Outra empresa ligada ao ramo automóvel, a Yakazi Saltano, anunciou ir despedir 400 trabalhadores da sua fábrica de Vila Nova de Gaia.

A multinacional japonesa, que produz cablagens para automóveis, justifica a decisão com a conjuntura económica mundial e a constante pressão para a redução de custos na indústria automóvel.

Em comunicado, a Yazaki diz que se vê obrigada a terminar, no próximo dia 30 de Abril, a produção do modelo M59 da Yazaki Saltano de Gaia, o que significa o despedimento de 400 colaboradores afectos à produção desse modelo.

A fabricante mundial de componentes eléctricos para automóveis justifica a situação com as dificuldades vividas no sector devido à "conjuntura económica mundial e a constante pressão para a redução de custos na indústria automóvel", apesar de ter vindo a centralizar nos últimos anos as áreas de expertise do Grupo em Portugal, através do Porto Technical Centre e Centro de Protótipos.

A multinacional mantém o compromisso de apoiar os colaboradores através do Gabinete de Apoio Social e Profissional, que já conta com várias ofertas de emprego disponíveis.

Dentro dessa perspectiva de colocação dos trabalhadores dispensados, a Yasaki Portugal referiu que no primeiro trimestre deste ano conseguiu recolocar cerca de 60 colaboradores do M59 em duas novas unidades de negócio internas: o Service Parts, de cablagens para os automóveis em circulação, e o WBD, de cablagens para outro tipo de mercados, como o da energia, aquecimento, electrodomésticos ou construção civil.

Presente em Portugal desde 1986, empregando 2235 colaboradores, a Yazaki Saltano garantiu que as duas outras fábricas do grupo situadas em Ovar - Yazaki Saltano Portugal Ovar e Yazaki Saltano Produtos Eléctricos - "não são afectadas por este processo".

O Sindicato Nacional da Indústria e da Energia, face à "previsibilidade" do despedimento de 400 trabalhadores, num total de 590, tem procedido juntamente com a empresa ao estudo de "medidas que minimizem o impacto nas pessoas abrangidas" e ao mesmo tempo "dignificar o processo de forma a preservar a imagem dos trabalhadores".
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