Santander. CT e sindicatos exigem suspensão do processo de reestruturação em curso

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

A Comissão Nacional de Trabalhadores (CNT) do banco Santander Totta e quatro sindicatos do setor bancário estiveram reunidos a 10 de fevereiro e tomaram, pela primeira vez, uma posição conjunta. Exigem à administração do banco a interrupção do processo de reestruturação em curso, nomeadamente a “imediata suspensão de todos os processos de rescisões por mútuo acordo e de encerramento de balcões e serviços durante a pandemia”.

Na passada quarta-feira, a CNT do banco Santander, juntamente com o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB), Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal (SBN), MAIS Sindicato e o Sindicato dos Bancários do Centro (SBC), reuniram-se para “debater medidas a tomar quanto à reestruturação em curso no Banco e para travar a pressão exercida sobre os trabalhadores”.

Num comunicado feito em conjunto pela primeira vez na história entre estes quatro sindicatos e a CNT do Santander, é exigida “a imediata suspensão de todos os processos de RMA [rescisões por mútuo acordo] e de encerramento de balcões e serviços durante a pandemia”, para além da “recolocação nos seus locais de trabalho, em condições de dignidade, de todos os colegas que recusaram as RMA, e a colocação de todos os que tiveram os seus balcões encerrados”.

No início de dezembro, a CNT do Santander emitiu um comunicado onde denunciava que os trabalhadores estavam a ser vítimas de “pressão e ameaças” para aceitarem as propostas de rescisão por mútuo acordo que estavam a ser apresentadas. Para além disso, segundo a CNT, os trabalhadores que recusam estas propostas estão a ser colocados em teletrabalho sem tarefas atribuídas para executar.

No comunicado agora emitido, os sindicatos e a CT exigem “o fim da pressão”, considerando que, “em certas circunstâncias, configura assédio”. “A política compulsiva de RMA’s está a ser utilizada como forma de pressão e ameaça aos trabalhadores, particularmente aos da rede comercial, mas também nalguns departamentos centrais, criando grande instabilidade, angústia e medo entre os trabalhadores”, lê-se no comunicado.

É ainda reclamada “a abertura de um programa de candidaturas de adesão livre a reformas antecipadas e pré-reformas, bem como a RMA, com condições objetivas e publicamente conhecidas pelos trabalhadores”, uma proposta que já foi apresentada ao banco pelos sindicatos.
“Admitimos recorrer a todas as formas de luta”
Denunciando a “gravidade da situação” vivida no banco, os sindicatos e a CT garantem que “não desistem da sua luta pela defesa dos direitos de todos os trabalhadores do Santander Totta” e admitem “recorrer a todas as formas de luta previstas na lei” para o assegurar.

A CNT do banco propôs mesmo a organização de uma greve. Em declarações à RTP, João Pascoal, membro da CNT do Santander, explicou que esta greve “ainda não está agendada, mas não está excluída”. Pascoal afirma, porém, que “estão previstas ações públicas de contestação”.

Da análise feita na reunião do passado dia 10 à situação laboral no Santander Totta, as estruturas representativas dos trabalhadores destacam a “política continuada” de encerramento de balcões implementada ao longo dos últimos anos, “nos quais o banco sempre teve lucros”, e que dizem ter tido “impacto em centenas de trabalhadores”.

“Considerando os resultados do banco em 2020 - designadamente lucros de 339 milhões de euros, o melhor rácio de eficiência da banca portuguesa, os excelentes indicadores de evolução da atividade comercial (crescimento em crédito de 7,5 por cento, em depósitos 1,9 por cento e em clientes fidelizados 4,3 por cento, entre outros, rácios de capital muito acima dos exigidos pelos reguladores europeus e um nível invejavelmente baixo de NPL) e a contribuição dos trabalhadores para os mesmos”, a CNT do banco e os sindicatos consideram que “nada justifica o processo de restruturação que se encontra em curso”.

A CNT do Santander exige que o banco “reconheça que está efetivamente em curso um processo de reestruturação” e os sindicatos reclamam, por sua vez, “o direito de intervir nesse processo para defesa dos trabalhadores e dos postos de trabalho”. “O Banco deve disponibilizar, à CNT e aos Sindicatos, toda a informação adequada sobre este processo”, sublinha a CNT.

À RTP, o Santander negou qualquer tipo de pressão aos trabalhadores e negou em comunicado recente ter em curso “qualquer processo de rescisões por mútuo acordo”. Em resposta aos sindicatos, que já tinham apelado à suspensão das rescisões tendo em conta a atual situação de pandemia, o Santander esclareceu que tem, por outro lado, “proposto a diversos colaboradores nos últimos meses, como  vem fazendo há diversos anos, a possibilidade de uma pré-reforma ou da revogação do seu contrato de trabalho”.

Na mesma declaração, o banco sublinha que “estes contactos foram e são feitos sem qualquer pressão e dando todo o espaço aos colaboradores para responderem como melhor entenderem e quando melhor entenderem”.
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