Grécia apresenta contas e exige 278 mil milhões de euros em indemnizações de guerra à Alemanha

por Christopher Marques, RTP
Hannibal Hanschke, Reuters

Das palavras aos números. O Governo de Alexis Tsipras fez as contas e garante que Berlim deve 278,7 mil milhões de euros a Atenas em indemnizações de guerra referentes à Segunda Guerra Mundial. O Executivo de Angela Merkel mantém que a questão está fechada, mas a oposição germânica parece mais aberta ao diálogo. A questão promete aumentar o clima de tensão entre os dois países na véspera de Alexis Tsipras visitar Vladimir Putin em Moscovo.

Atenas fez as contas. Pelos cálculos do Tribunal de Contas da Grécia, a Alemanha deve 278,7 mil milhões de euros em reparações de guerra. Indemnizações que dizem respeito à ocupação da república helénica pela Alemanha nazi entre 1941 e 1944.

O valor foi apontado por Dimitris Mardas, vice-ministro grego das Finanças, durante uma audição na Comissão Parlamentar que analisa a questão da dívida de guerra alemã para com Atenas. Esta comissão foi constituída após a eleição de Alexis Tsipras como líder do Executivo helénico.

O ministro grego da Defesa acrescentou que o Governo helénico teve acesso a provas que permitem reavaliar a destruição de propriedade pública e privada durante a ocupação das forças de Adolf Hitler.
Reportagem de Pedro Oliveira Pinto

Estas serão evidências que “detalham o que aconteceu em cada aldeia e em cada cidade”, referiu Panos Kammenos. “A evidência é tão convincente que dará lugar à reabertura dos processos, mesmo daqueles que já passaram pelos tribunais”, afirma mesmo o governante.
“Patético”, defende Berlim
A Grécia dá mais um passo mas, para Berlim, a questão permanece fechada. A exigência de 278,7 mil milhões de euros, nas palavras do vice-chanceler, é mesmo “patética” e não contribui “um milímetro” para ajudar a resolver a crise grega.

Berlim defende que o tratado assinado em 1990 colocou um ponto final na questão das reparações de guerra.
Responsáveis germânicos acusam mesmo o Governo helénico de querer amalgamar, de forma propositada, a questão da crise grega com a das indemnizações de guerra.
Esta tem sido a posição oficial de Berlim desde que a questão das reparações de guerra foi colocada na ordem do dia.

Na primeira visita oficial de Tsipras a Berlim, em que o primeiro-ministro grego frisou o “dever moral” para discutir esta questão, a própria Angela Merkel afirmou que esta questão está “politicamente e legalmente fechada”.

No entanto, a chanceler realçou que Berlim prometeu um milhão de euros por ano a uma fundação comum aos dois países com a função de preservar a memória e financiar projetos de investigação.

“Nesse espírito, vamos falar com o Governo grego”, indicou.
Oposição alemã defende reembolso
Uma posição bem mais aberta tem sido apresentada por alguma da oposição germânica. Representantes do Die Linke - partido de esquerda - e dos Verdes têm defendido que Berlim deve reembolsar um empréstimo que Atenas foi obrigada a fazer à Alemanha durante a ocupação nazi.

Em causa, está um crédito realizado pelo banco nacional grego em 1942 no valor de 10,3 mil milhões de euros. Este valor está já incluindo nos 278,7 mil milhões de euros agora pedidos por Atenas.

“O “Não” categórico apresentado pelo governo alemão certamente não pode continuar. É vergonhoso 70 anos após o fim da guerra”, afirma Annette Groth, deputada germânica eleita pelo Die Linke.
Groth defende que, em última instância, o governo alemão deverá dialogar com Atenas para perceber como se chegou ao montante de 278,7 mil milhões de euros.

Por enquanto, a Alemanha parece manter as portas fechadas ao diálogo. Uma problemática que deverá fazer aumentar a tensão entre os dois países, a poucos dias de Atenas devolver cerca de 450 milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional.
Reportagem de Lígia Veríssimo e Osvaldo Costa Simões
Tsipras a caminho de Moscovo

Ainda antes do reembolso, Tsipras tem passagem marcada pela Federação Russa. O primeiro-ministro helénico visita Vladimir Putin esta quarta-feira, no que pode ser interpretado como um sinal de aproximação ao Kremlin.

Esta terça-feira, a imprensa russa avançava mesmo que Moscovo poderia propor descontos no fornecimento de gás à Grécia e até tentar negociar empréstimos. O ministro russo da Agricultura também não exclui a possibilidade de levantar as restrições na importação de produtos alimentares gregos. Uma medida onde também poderão ser incluídas a Hungria e o Chipre.

No entanto, o Governo grego garante que a crise helénica deverá ser “resolvida no quadro da família europeia”. Em entrevista ao diário económico Naftemboriki, Yanis Varoufakis afirmou que o país não procura assistência financeira fora do quadro europeu.

Segundo o seu gabinete, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras vai encontrar-se com o Presidente russo Vladimir Putin e com o seu homólogo Dmitri Medvedev para abordar "a colaboração económica e comercial em matéria de investimentos, energia, turismo e cultura".

O chefe do Governo helénico visita uma Rússia que também já viveu melhores dias. A federação atravessa uma importante recessão, para a qual contribuíram a queda do preço de petróleo e as sanções impostas pelas potências ocidentais.
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