Varoufakis a Charlie Hebdo: a UE devia temer o avanço da extrema direita

por RTP
A segunda edição deCharlie Hebdo depois dos ataques terroristas de janeiro inclui dois artigos sobre os novos ventos que sopram da Grécia. Eric Gaillard/Reuters

É o cruzamento de duas das mais recentes vozes na Europa. Charlie Hebdo, o jornal satírico atacado em janeiro por terroristas islâmicos, entrevistou o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis. E Varoufakis deixou um aviso: se Governos progressistas como o Syriza forem abafados na Europa, os únicos beneficiados serão os nacionalistas e os racistas.

"É o que digo aos meus homólogos: se pensam que é do vosso interesse abater governos progressistas como o nosso, uns dias apenas após as eleições, então deverão temer o pior".

E o pior, para Varoufakis, seria o avanço da extrema direita. A Europa irá sofrer, se Governos como o do Syriza forem "asfixiados" afirma o ministro das Finanças da Grécia.
Edição de 2,5 milhões de exemplares
É um argumento que cala fundo no Charlie Hebdo, vítima ostensiva do terrorismo islamita. Em janeiro, dois atiradores alegadamente membros da al Quaeda do Iémen, dizimaram a redação do semanário conhecido pelas suas caricaturas do profeta Maomé, assim como de políticos e de líderes católicos.

A matança no Charlie Hebdo provocou manifestações de repúdio em todo o mundo ocidental e uniu mesmo os líderes antes ridicularizados. Colocou ainda em questão a liberdade de expressão e a ameaça terrorista em solo europeu.

O semanário retomou agora a sua publicação regular, sem mudar uma vírgula no seu estilo irreverente e corrosivo.
Além da entrevista a Varoufakis, Charlie Hebdo publicou igualmente nesta sua segunda edição pós ataque terrorista, um artigo intitulado "Syriza é o futuro da Europa".
Austeridade é como as 'sangrias' de outrora
O Syriza é uma coligação de partidos de esquerda que se opõe as medidas de austeridade impostas à Grécia como parte integrante do plano de resgate financeiro pela Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu.

Em janeiro conseguiu a maioria dos votos nas eleições legislativas antecipadas e formou governo com um partido de extrema direita igualmente inimigo da austeridade.

Nas últimas semanas, o novo Governo grego e particularmente o seu ministro das Finanças, o académico Yanis Varoufakis, enfrentou a força das instituições europeias em defesa das suas ideias para reconstruir a economia grega sem austeridade.

O título da entrevista a Varoufakis é aliás ele mesmo uma crítica às políticas europeias. "A Europa prescreve a austreridade como os médicos antigamente prescreviam as sangrias".

Na segunda-feira a Grécia conseguiu uma extensão de quatro meses do programa de apoio financeiro, mas foi forçada a abrir mão de algumas das suas promessas feitas durante a campanha eleitoral, nomeadamente a reposição do salário mínimo e a re-contratação de funcionários públicos.

Se o Eurogrupo aceitou as propostas apresentadas pela Grécia para conseguir a extensão de quatro meses da assistência financeira, para as quais aliás colaboraram a fundo, o FMI e o BCE colocaram reservas e sublinharam que há ainda muito a fazer.

Com Reuters
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