Intensificação da ofensiva russa na Ucrânia. Grupo Wagner recebe munições

por Joana Raposo Santos - RTP
O Grupo Wagner tem, nos últimos meses, liderado a batalha da Rússia pela cidade de Bakhmut. Valentyn Ogirenko - Reuters

Yevgeny Prigozhin, fundador do grupo de mercenários Wagner, avançou esta quinta-feira que as suas tropas começaram a receber abastecimentos de munições para intensificarem a luta do lado da Rússia. O anúncio chega no mesmo dia em que os serviços britânicos de inteligência alertaram para novos combates nas cidades de Vuhledar e Bakhmut, um dia antes do primeiro aniversário da guerra na Ucrânia.

"Hoje (quinta-feira), às 6h00, foi anunciado que o carregamento de munições começou", escreveu Prigozhin na plataforma Telegram, no final de uma reunião com os líderes do exército russo.

"Provavelmente, o processo já está a realizar-se. Até agora está tudo no papel, mas os documentos principais já foram assinados", adiantou.

O Grupo Wagner tem, nos últimos meses, liderado a batalha da Rússia pela cidade de Bakhmut, na região ucraniana de Donetsk. No entanto, o líder do grupo possui uma rivalidade de longa data com os chefes militares da Rússia. Esta semana, Prigozhin acusou-os de negarem munições aos mercenários por motivos pessoais.

Na terça-feira, o líder do Grupo Wagner acusou mesmo o ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, de "traição", culpando-os pela escassez de projéteis.

"O chefe do Estado-maior e o ministro da Defesa estão a dar ordens a torto e a direito não apenas para não serem atribuídas munições ao Grupo Wagner, mas também para este não ser ajudado com o transporte aéreo", acusou Prigozhin.

Durante o seu discurso anual sobre o estado da nação na terça-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, pediu o fim das rivalidades internas do lado russo. "Devemos livrar-nos de quaisquer contradições interdepartamentais, formalidades, rancores, mal-entendidos e outras coisas sem sentido", disse Putin, num recado à elite política e militar.

Já esta quinta-feira, Yevgeny Prigozhin escreveu: "Muito obrigado àqueles que agiram de várias maneiras: aos cidadãos comuns que fizeram tudo o que puderam e àqueles, incluindo aqueles em altos cargos, que exerceram pressão e tomaram decisões para que nos começassem a entregar munições”.
Vuhledar e Bakhmut em perigo
As declarações de Prigozhin sobre o fornecimento de novas munições chegam no mesmo dia em que um relatório dos serviços de inteligência do Reino Unido alertou que a Rússia está a preparar-se para uma ofensiva em Vuhledar, cidade do leste da Ucrânia.

Segundo o Reino Unido, Vuhledar está a ser alvo de fortes bombardeamentos e os combates já chegaram à cidade de Bakhmut, a cerca de 150 quilómetros de distância, onde o Grupo Wagner tem estado mais presente.

“Existe uma possibilidade realista de que a Rússia esteja a preparar-se para outro esforço ofensivo nesta área, apesar dos ataques fracassados no início de fevereiro e no final de 2022”, refere o relatório do Ministério britânico da Defesa, divulgado na manhã desta quinta-feira.

O Reino Unido acredita que o coronel-general Rustam Muradov, comandante do Grupo de Forças do Leste da Rússia, está sob intensa pressão para melhorar os resultados em Vuhledar após duras críticas da comunidade nacionalista russa.

“No entanto, é improvável que Muradov tenha uma força de ataque capaz de alcançar um avanço”, lê-se no relatório.


O líder do Grupo Wagner manteve-se fora dos holofotes durante muito tempo, tendo o seu papel mais ativo na guerra na Ucrânia começado a notar-se apenas no outono do ano passado. Segundo analistas políticos ocidentais, nunca uma figura de cargo não oficial tinha assumido tanta importância nas ações internacionais de Moscovo.

“Ele é elogiado e demonizado ao mesmo tempo”, explicou à agência AFP Tatiana Stanovaia, especialista em assuntos russos para o think tank norte-americano Carnegie Endowment for International Peace.

"É o que se chama de ‘empresário da violência’, uma figura que vem do meio criminoso e que sempre usou a violência retórica e física para alcançar os seus interesses", disse por sua vez Maxime Audinet, do Instituto de Pesquisa Estratégica de Paris.

c/ agências
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