Avisos da Rússia. Militares franceses seriam "alvo legítimo" na Ucrânia
De visita à República Democrática do Congo, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros criticou a conferência de Paz sobre a Ucrânia, que acontece no fim do mês na Suíça, e deixou avisos aos países ocidentais. Comentando as notícias recentes sobre eventuais apoios dos aliados a Kiev, Sergey Lavrov afirmou que quaisquer instrutores militares franceses em território ucraniano seriam um "alvo legítimo" para as forças russas.
“Quanto aos instrutores franceses, penso que já estão em território ucraniano”, disse o ministro russo, referindo-se aos instrutores militares que o Governo francês poderia enviar para treinar as tropas ucranianas.“Independentemente do seu status, os oficiais militares ou mercenários representam um alvo legítimo para as nossas forças armadas”.
O comentário de Sergey acontece após o anúncio de que a Ucrânia assinou documentos permitindo aos instrutores militares franceses o acesso aos centros de trino ucranianos em breve.
Também o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que “os instrutores que treinam tropas do regime de Kiev não têm qualquer tipo de imunidade e não importa se são franceses ou não”.
O principal comandante das forças ucranianas disse, na semana passada, ter assinado documentos que permitiriam a entrada a instrutores militares franceses nos centros de treino do país. Contudo, o presidente francês recusou-se a comentar o que chamou de “rumores ou decisões que pudessem ser tomadas” sobre França ter tropas na Ucrânia.
Cimeira da Paz “não tem significado”
Sobre a conferência de Paz na Ucrânia, prevista para o fim do mês na Suíça e para a qual a Rússia não foi convidada, Lavrov disse que a cimeira “não tem significado”.
“O único significado que pode ter é tentar preservar este grupo anti-Rússia, que está em processo de desintegração”.
A Suíça já confirmou a presença de mais de 80 delegações na conferência. Nos últimos dias, a China, que aprofundou a relação com a Rússia, disse que não estaria presente. A conferência marcada para 15 e 16 de Junho tem sido promovida por Kiev como uma forma de juntar os países que defendem um acordo de paz segundo as linhas do que é proposto pelas autoridades ucranianas.
Na mesma conferência, Jean-Claude Gakosso falou a favor da organização de uma conferência de paz sobre o acordo ucraniano com a participação de ambos os lados do conflito.
“As conversações de paz devem ser realizadas entre os dois principais intervenientes no conflito, embora não possamos ignorar o facto de a Rússia ter armas nucleares”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da República Democrática do Congo.
Gakosso opôs-se ao envio de armas para Kiev, dizendo que quem está a tomar decisões sobre o fornecimento de armas à Ucrânia “representam um desafio para a humanidade, empurrando-a literalmente para um conflito mundial”.
“Vivi um ano no Donbass, conheço muito bem esta região e até aprendi um pouco de ucraniano”, disse ainda o chefe da diplomacia congolês. “Portanto, penso que o que está a acontecer na Ucrânia é uma verdadeira guerra civil”.
Gakosso lembrou que foi no Congo que nasceu a iniciativa africana para o acordo na Ucrânia, lembrando que continua ativa e que o continente africano insiste numa solução pacífica para a crise.
Lavrov visitou o continente africano várias vezes nos últimos dois anos, numa altura em que a Rússia procura o apoio - ou pelo menos a neutralidade - de muitos dos seus 54 países, no contexto da invasão à Ucrânia.