Israel ameaça com guerra enquanto mediadores árabes tentam salvar cessar-fogo

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Amir Cohen - Reuters

Os mediadores árabes esforçam-se para salvar o ainda frágil cessar-fogo em Gaza, enquanto Israel reforça o número de tropas para um possível recomeço da guerra no território palestiniano, caso o Hamas não cumpra o prazo estipulado para libertar mais reféns israelitas até sábado. O movimento radical diz não querer o colapso da trégua e exige que Israel "honre os seus compromissos".

O cessar-fogo em Gaza dura há quase mês. Vigora desde 19 de janeiro, mas as tensões entre Israel e o Hamas continuam a escalar, impulsionadas pela ameaça do presidente dos EUA, Donald Trump, que quer lançar um plano de tomada de posse e reconstrução de Gaza, expulsando os palestinianos para os países vizinhos.

Israel reforçou o envio de tropas e tanques para a periferia da Faixa de Gaza, antecipando a possibilidade de a trégua ser quebrada, enquanto o Egito e o Catar prosseguem no Cairo as negociações para conseguir que o acordo seja totalmente implementado, Israel cumpra um protocolo humanitário e retome as trocas de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos, de acordo com o Hamas. 

Fontes palestinianas indicaram na manhã desta quinta-feira que houve progressos nas negociações, como testemunham os enviados especiais da RTP ao Médio Oriente, José Manuel Rosendo e Rodrigo Lobo, em direto do Campo de refugiados de Shuafat, em Jerusalém Oriental.
Israel deve "honrar os seus compromissos"

Em comunicado divulgado esta quinta-feira, o Hamas afirma-se empenhado em "respeitar o acordo" e exigir que Israel "honre os seus compomissos" e critica a linguagem de intimidação utilizada por Trump e Netanyahu, que não serve o objetivo de cumprir o acordo de cessar-fogo.

"Não estamos preocupados com o colapso do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza e estamos ansiosos por o aplicar e obrigar a ocupação (israelita) a aplicá-lo na íntegra", afirmou o porta-voz do Hamas, Abdul Latif al-Qanou.

"Os mediadores fazem pressão para que o processo de troca de reféns na Faixa de Gaza por palestinianos detidos por Israel seja retomado no sábado", acrescenta.
Hamas deve libertar "três reféns vivos"
Já o Governo israelita afirmou esta quinta-feira que o Hamas é obrigado a cumprir a claúsula do acordo que prevê a libertação de "três reféns vivos" mantidos em cativeiro em Gaza no sábado, caso contrário admite retomar a guerra contra o movimento palestiniano.

"O acordo estipula claramente que os três reféns vivos devem ser libertados no sábado pelos terroristas do Hamas",
declarou o porta-voz do Governo israelita, David Mencer.

"Se o Hamas não respeitar o acordo (...) se estes três não forem libertados, se o Hamas não devolver os nossos reféns, até ao meio-dia de sábado, o cessar-fogo terminará".
"Não há intenção de acabar com a guerra"

De acordo com o jornal israelita Maariva, citado pela Al Jazeera, o ministro israelita da Agricultura, Avi Dichter, disse que Israel não tem intenção de acabar com a guerra em Gaza antes de todos os objetivos terem sido alcançados.

“Queremos devolver todos os reféns do acordo o mais rapidamente possível. Este é um dos objetivos de guerra que estabelecemos, juntamente com os outros dois objetivos . Não há intenção de acabar com a guerra antes de todos os objetivos terem sido alcançados”, afirmou Avi Dichter.

O ministro israelita da Agricultura disse, ainda, que tem "dificuldade em ver qualquer outra opção" que não seja a libertação de pelo menos três reféns israelitas no sábado, assim como o regresso aos combates no enclave mais tarde para alcançar os objetivos israelitas.

Apesar de considerar bem sucedida a destruição da infraestrutura militar do Hamas, Avi Dichter considera que "o colapso da capacidade do governo (do Hamas) é um objetivo que ainda não foi alcançado".

c/ agências
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